Ninguém apostaria, há 20
anos, que o projecto tivesse pernas para andar. Tantos semelhantes haviam
nascido para se dissolverem depois, mesmo antes de largos meses andados. Este,
não. O projecto OCCO – Orquestra de Câmara Cascais Oeiras, 20 anos passados,
recomenda-se.
Vários
factores contribuíram para o êxito. Primeiro, a coragem e perseverança sem
desfalecimentos do Maestro Nikolay Lalov; depois, a capacidade
que teve de envolver duas câmaras municipais, convencendo os respectivos
presidentes de que era aposta ganha; em terceiro lugar, porque o Maestro se
soube rodear de colaboradores activos como ele, mais com o olhar na aurora do
que na moribunda dolência do pôr-do-sol.
Marcelo
Rebelo de Sousa foi dos primeiros a acreditar. Aceitou ser presidente da Assembleia-geral
da associação criada para suporte
das actividades e, como teve ocasião de o dizer no concerto comemorativo do
passado dia 30 de Novembro, não está nada arrependido e muito se congratula com
o percurso feito. Contente também toda a equipa de Lalov, onde se inclui a
esposa e a filha, Lilia Donkova, 1º violino, que desta vez nos
brindou com um exímio solo.
Começou
a sessão com a projecção de um
filme, sugestivamente intitulado «20 anos a crescer», em que se traçou uma panorâmica
do que tem sido a actividade da OCCO. Nikolay Lalov falou dos projectos sempre
a despontar, culminando – se assim podemos falar – com a abertura do Conservatório
de Música de Cascais. É que a proposta não foi apenas a de manter uma orquestra residente que dá concertos de vez em
quando, conforme o programado: há também a vertente pedagógica! Aliás, praticamente
cada executante da OCCO é, simultaneamente, professor. Ou seja, estamos perante
um alfobre!
Nunca
será de mais realçar, por exemplo, a importância que teve a criação da Orquestra Sinfónica, porque, além dos quatro
concertos anuais (as quatro estações, teremos no dia 14 o de Inverno), outros
há; e cada concerto constitui mais uma experiência única que engrandece os executantes,
na medida em que o rigor sempre foi paradigma do trabalho do Maestro.
E,
por se falar em escola, recordar-se-á que, no concerto do dia 30, actuaram
igualmente – na segunda parte, com o maior brilhantismo – o Coro de Câmara do Conservatório
de Música e um coro misto em que se incorporaram alunos do Conservatório e do
ensino articulado da Escola Secundária Frei Gonçalo de Azevedo. Tive ocasião de
trocar impressões com o director desta escola, sediada no Bairro Massapés
(Tires), Prof. David Sousa, que manifestou o seu entusiasmo pelos singulares resultados
que a introdução da Música, quer a
nível coral quer de aprendizagem de instrumentos, logrou atingir, mormente no domínio
educativo e de realização pessoal do
aluno. Congratulamo-nos.
Um
encanto ouvir o programa, desta vez integrando textos mais conhecidos do que É
habitual. E se a interpretação de
Tiago Vicente, à guitarra, do adágio do concerto «Aranjuez»
encheu de mui serena ternura o auditório, toda 1ª parte nos envolveu: de
Beethoven, a abertura do bailado «As Criaturas de Prometeu»; de J. Massenet, a
meditação da ópera «Thaïs»; de
Bizet, dois andamentos da Suite Arlésienne nº 1. Com os coros, a 2ª parte foi
vibrante, a começar na marcha
militar de Schubert e a terminar no Hino da Alegria, de Beethoven.
Concerto
de antologia!
José d’Encarnação
Publicado em Costa do Sol Jornal (Cascais), nº 309, 2019-12-11, p. 6.