De tudo o que vem
– e muito é, como se verá – no volume 27 de «Adufe» referente a 2019, este título me chamou particularmente a
atenção e fui logo ler, deixando
para trás outros temas a que já se voltará.
Recordava-me
de, no acompanhamento que sempre fiz questão de ter em relação aos vestígios romanos de Idanha-a-Velha (a ‘civitas Igaeditanorum’ dos Romanos), se haver
saudado a possibilidade de casas que o Município comprara junto à muralha
poderem vir a ser aproveitadas para apoio substancial à investigação. Algo de inovador e mui precioso, atendendo a
que Idanha-a-Velha está longe, nos confins do Interior, e de muita coragem se
deve vestir quem se decida a lá passar algum tempo a estudar.
Para
além de espaço de reserva para alguns materiais arqueológicos que sempre se
encontram, haveria um laboratório para o seu adequado tratamento e, sobretudo,
alojamento. Diz no «Adufe» que é uma
«casa rústica, recuperada com a subtileza e os traços do seu lugar – dispõe de
um quarto de casal, outro individual, com duas camas e uma divisória».
Fiquei
encantado ao verificar que o sonho se concretizara. Agora, é habitar o local. É
mostrar como, ainda em pleno dealbar de um século incorrigivelmente urbano, a
vida rural, em plena comunhão com a Natureza e no estudo pelo que os Antigos
nos legaram, se pode antojar como realidade a viver.
Aliás,
a leitura de mais um número desta revista cultural de Idanha-a-Nova proporciona-nos,
na verdade, mil e uma razões para saber que o campo é bom lugar de acolhimento.
Na entrevista a Francisco Sarmento, representante em Portugal da ONU para a Agricultura
e Alimentação, empenhado no combate
às «faces negras da globalização: a
fome e a má alimentação» se apontam,
por exemplo, caminhos para «quebrar o ciclo da insegurança alimentar e nutricional»:
a vontade política e a concertação
entre os actores relevantes.
Lugar
ainda para ilustrada reportagem sobre o Bodo de Monfortinho; sobre a empresa
Sementes Vivas (nome traduzido,
certamente pelo ‘senhor Google’, como ‘Living
Seeds’!…), sediada em Idanha-a-Nova desde a sua criação
em 2015, destinada a promover a produção
de sementes ‘100% biológicas e biodinâmicas’; sobre o ímpar acervo de arte
sacra do núcleo museológico da Misericórdia de Proença-a-Velha… E convivemos
com a pacatez dos valados de pedra solta, e as patas, os pêlos e os olhos de
várias e preciosas espécies de aranhas.
«Adufe» é assim: um olhar para o nosso
Interior profundo. Como deve ser!
José d’Encarnação
Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 766, 2019-12-01, p. 12.
Sem comentários:
Enviar um comentário