O descerramento da placa, concretização do sonho! |
Foi,
inopinadamente, essa a sensação que
tive no passado sábado, quando, com o presidente da Câmara, descerrei a placa
da inauguração do circuito de visita
à «villa» romana de Freiria. Guilherme
Cardoso e eu e toda a equipa que fomos tendo desde 1985 preparámos a «villa» para este momento. Sonho acalentado
em 33 anos: que a «criança» que paulatinamente íamos vendo crescer viesse, um
dia, a deixar de ser ‘nossa’ e a pudéssemos entregar nas mãos da comunidade,
para que dela usufruísse em plenitude. Pedra a pedra, muro a muro, o lagar, o celeiro,
a casa senhorial com o seu pátio interior e os mosaicos… E os objectos que
fomos retirando do solo, desde os da Idade do Ferro até aos da época romana
plena (dos séculos I antes de Cristo até mesmo ao século V da nossa era).
Muitas horas de estudo e reflexão, muita colaboração ,
muito sonho!...
Gostaria,
claro, de o ter dito na cerimónia, porque tanto Guilherme Cardoso (ausente por
urgentes imperativos de saúde) como eu de mui boamente depositámos nas mãos da
autarquia esse labor de quase uma vida. Essa, a nossa consolação : a concretização
do sonho, de que, no longo percurso, por vezes chegámos a duvidar se teríamos
ocasião de a ver. Tivemos e rejubilamos por isso.
E,
neste momento de plena satisfação ,
cumpre-nos recordar não só as dezenas de estudantes nossos (nomeadamente da
Universidade Nova de Lisboa) que ali estagiaram e se começaram a fazer os
arqueólogos que hoje são, mas também aqueles a quem muito devemos: o Dr. João
Cabral, na altura, respons ável pela
Arqueologia na Câmara Municipal de Cascais, que tão cedo nos deixou e que foi o
grande motor para o apoio camarário; os arquitec tos
Pedro Fialho e sua mulher Helena Rua, ambos já falecidos também, cuja briosa e
mui competente equipa permitiu o minucioso e exaustivo levantamento gráfico do
sítio. Temos a certeza de que connosco rejubilaram no dia 22
A entrada solene, como se desejava que fosse. |
A emoção da primeira caminhada sobre passadiços... |
A comunidade
À comunidade
entregámos, pois, o que acarinhámos.
Em
primeiro lugar, o Plano de Pormenor, sugestão que o presidente José Luís Judas
de imediato deu, aquando da s primeira visita ao sítio, apercebendo-se de que
lográramos impedir mais urbanizações ditas ‘clandestinas’, já então marc adas no terreno: urgia programar a ocupação do sítio e da sua envolvente! Encomendámos o
projecto à equipa do arquitecto José Alves Bicho. Um penoso labutar, de avanços
e recuos, de pressões a todos os níveis, mas… conseguiu-se! Tudo está superiormente
avalizado e compete agora aos proprietários fazerem a sua parte. A «villa» está junto a uma zona que se
manterá verde, porque incluída na Reserva Ecológica Nacional; e junto ao
ribeiro de Freiria, de perene caudal e que foi, ainda na década de 80, de águas
puras, hortas comunitárias, as primeiras pensadas para o termo do concelho.
A emoção da lavadeira, a recordar tempos de outora... |
Em
segundo lugar, emocionou-me, confesso, ter sabido que uma lavadeira de Polima
se prontificara a vir lavar a roupa, como outrora fazia, nos tanques ora recuperados.
A recuperação desse conjunto, por
que sempre pugnámos, agradou-nos deveras!
José
d’Encarnação
Publicado em Costa do Sol Jornal (Cascais), nº 251, 2018-09-26, p. 6.