Agenda cultural
digital
Ficámos a
saber, por informação que gentilmente recebemos da Senhora Vereadora, que a Agenda
Cultural de Cascais (de há uns tempos para cá também já não designada de
Cultural) irá passar a ser «apresentada de uma forma mais interactiva, deixando
de ser produzida a tradicional versão impressa». Quem quiser recebê-la no seu
computador (se mantiver posses para o ter, claro!), deverá inscrever-se na
página do Município. Acrescentou a Senhora Vereadora que, assim, vai «chegar
mais longe, utilizando menos recursos». Economizar recursos, na presunção de que, dessa forma, vai chegar mais longe. E
promete oferecer-nos também mais uma… newsletter!
Obviamente, já escrevi à Senhora
Vereadora, a manifestar, primeiro, a minha surpresa por verificar que também a
Câmara de Cascais, tão portuguesinha que se preza, vai passar a utilizar terminologia
estrangeira, atirando às urtigas a língua portuguesa. Mas… moda é moda e não há
que reclamar!
Também
manifestei a minha inteira discordância em relação à opção! Primeiro, porque é
utopia (generalizada pelos governos economicistas europeus, que, no entanto, já
começaram a sentir que deram com os burrinhos na água…) pensar que toda a gente
tem acesso à Internet, nomeadamente agora que a classe média já é praticamente
inexistente; depois, e este é para mim o aspecto mais importante, porque, tal
como foi concebida, a Agenda Cultural de Cascais tem rubricas do maior
interesse! Não se limita a ser uma agenda! Dá conhecimento de monumentos, de
património, da história… Dir-me-á, escrevi eu à Senhora Vereadora, que isso
continuará. Acredito! Mas… onde se guardará? Como se fará para consultar
depois? Tenho-me batido insistentemente para que o Município de Cascais volte a
editar o Arquivo de Cascais, pensado
como repositório de uma série de estudos sobre os mais diversos aspectos da
vida cascalense. Meus apelos têm caído em saco roto. Salvava-se, porém, a
Agenda, cujos responsáveis cedo compreenderam a importância de manter a memória
de facto e não apenas nas bonitas
palavras e em murais.
E dei o
exemplo doutros concelhos, em que, de um modo geral, a opção
foi a seguinte: apesar de a agenda cultural estar inteirinha na página da
Câmara, em versão digital, manteve-se a edição
em papel para todos aqueles munícipes que fizeram questão em a coleccionar.
Eu
coleccionei até agora a de Cascais e tenho-a mostrado, orgulhoso, aos meus
estudantes do Mestrado em Política Cultural Autárquica.
O Senhor Agente
Dia 8 de
Janeiro de 2014. Fui à dependência bancária (onde, por enquanto, ainda me
depositam a pensão), a fim de desejar bom ano à minha gestora de conta
dedicada. À saída, verifiquei que o dia começara com sorte e com azar. Com sorte
para o agente da polícia que, ao passar, viu um carro estacionado em cima do passeio
com os quatro piscas ligados. Claro: parou a viatura, sacou dos bloqueadores,
sacou da fita que enrolou em torno do carrito que, choramingando, continuava a piscar.
Teve sorte o Senhor Agente em ter passado ali àquela hora. Cinco minutinhos depois,
já não teria hipótese de apresentar serviço na esquadra e juntar mais uma multa
ao seu rol. Teve grande azar o condutor. E eu imaginei, até, que o azar pudesse
ter sido duplo: largou o carro ali, numa pressa, para ir à farmácia em frente
buscar medicamento urgente para a doente que, em casa, dele precisava; achou
que, não estando a viatura a estorvar ninguém, sinalizando-a com os quatro piscas
como que a dizer «Senhor Agente, eu volto já, tenha paciência e compaixão!», o possível
agente teria paciência, teria compaixão... Não teve! O Estado paga-lhe para ele
arrecadar o máximo de dinheiro que puder e ele… tem de cumprir! Tive pena: do
agente e do condutor. Se calhar, ainda mais do agente, porque poderia ter optado
por uma atitude de pedagogia, esperar um bocadinho, tentar ver quem era o condutor,
repreendê-lo, saber o que se passava… Mas, coitado, isso de pedagogia, embora
apregoada por todas as entidades, não chega aos que, no dia-a-dia, só sabem
agir. Autómatos! Tive pena do condutor, porque, se estava com urgência, agora
tinha de telefonar para a esquadra, tinha que esperar que houvesse
disponibilidade de uma viatura vir até ao local – e isso de ‘disponibilidade’ é
sempre muito complexo, eu sei, quando tento chamar alguma para vir aqui perto
de casa onde estacionam a trouxe-mouxe e há engarrafamentos-monstros… os tais
que incomodam mesmo!...
Dei uma
volta pelo paredão, a ver os estragos da invernia; mas a imagem do Senhor Agente
só me saiu da cabeça, quando, já perto da hora do almoço, dei demorado abraço a
uma amiga querida, que me informou: «Sabes? Vou ser submetida à sexta operação
cirúrgica!». E disse-mo com um sorriso de esperança. Valeu!
Publicado em Costa do
Sol – Jornal Regional dos Concelhos de Oeiras e Cascais, nº 29, 22-01-2014,
p. 6.
Imagens captadas no passado dia 20, às 10.17 h, no entroncamento da movimentada R. Eça de Queirós, na Pampilheira, com a R. Fernão Lopes, que dá acesso à Clínica CUF Cascais e a uma série de oficinas de automóveis.É ocorrência assaz frequente no local: os veículos estacionados em infracção impedem as manobras das muitas viaturas longas (mormente a dos CTT).
Desta feita, a polícia veio dez minutos depois de ter sido informada.