E
os tais «cérebros» interrogaram-se: que vai ser da investigação em Portugal e na Europa nos próximos anos? Que
vai ser? Que dinheiro poderá cabimentar-se? Não se sabe? Pergunta-se!
E,
vai daí, os cérebros apresentaram o projecto. Sim, tinha que ser um «projecto»!
Não podia ser «proposta», que isso soava a plenário de trabalhadores. Projecto é
que era! E foi aprovado!
E
os senhores investigadores europeus, que são, afinal, uma catrefada deles, foram,
pois, intimados a preencher um quadro, apresentado na língua de Sua Majestade Britânica,
onde tiveram de assinalar o número de livros que pensavam escrever em cada ano,
de 2015 a
2020 (!!!); o número de artigos em revistas nacionais ou internacionais,
sobretudo se com referees… O referee é assim a modos de um fiscal que
aju íza se aquilo tem jeito ou não,
se vai ao encontro do que ele pensa ou se preconiza ideia s
subversivas (onde é que eu já ouvi isto?...). E, sem conceituado painel de referees, a revista não tem cotação no mercado, pronto!... Ah! E o número de
congressos, com ou sem comunicação ;
o número de capítulos de livros; o número de conferências (no País e no
estrangeiro), etc. Tudo bem escarrapachadinho, senhores! De 2015 a 2020, entenderam? Se
não, não há dinheirinho!...
«Daqui
a sete anos!», disse para os meus botões. E lembrei-me de súbitos tornados; de
cheias imprevisíveis; dos jogadores que assinam contratos por três épocas e
caem por ju nto, de colapso
fulminante; do carácter provisório em que, dia a dia, cada vez mais se nos vai
a vida… Que faço daqui a sete anos? Sei lá eu o que me será possível fazer
amanhã!
E
a alta individualidade, quando lhe apresentaram estes comentários, retorquiu:
«Já viu quantos doutoramentos há em Ciências Sociais e Humanas? Já viu que os Checos
escrevem todos os artigos em inglês?». E o seu interlocutor limitou-se a
dizer-lhe que, se calhar, sem Ciências Sociais e Humanas não haveria comunidade
lusófona e nem atenção se daria ao
Homem como Pessoa. E quanto aos Checos escreverem em inglês e nós estarmos a pugnar
pela Língua Portuguesa, porque é que ele, com a autoridade de que estava revestido,
não incitava os Checos a escreverem na língua deles também?
Publicado em Cyberjornal, 06-01-2014:
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