Foi
esta frase, de Olga Maria Nicolis di Robilant Álvares Pereira de Melo, Marquesa
de Cadaval, que diante de nós ficou projectada durante todo o concerto com que
Olga Prats, sua afilhada, nos presenteou.
Foi
na noite de sexta-feira, 17 de Janeiro, no Centro Cultural Olga Cadaval, em
Sintra, no âmbito da comemoração do nascimento da Marquesa de Cadaval
(17.01.1900 – 21.12.1996).
Assistimos
primeiro à projecção, em antestreia, do documentário, realizado por João
Santa-Clara, intitulado «Marquesa de Cadaval – Vida de Cultura». Mário João
Machado, também ele responsável pela produção do filme, deu as boas-vindas aos
convidados e salientou a enorme importância que Olga Cadaval deteve não apenas
para a vila de Sintra e no âmbito meramente musical (esteve intrinsecamente
ligada, como se sabe, aos festivais de música de Sintra) mas também para a
Cultura em geral, no nosso País. Revemos na Senhora Marquesa a «genuína cidadã europeia,
cuja vida foi síntese feliz da riquíssima herança dos saberes recebidos e da prodigalização
de atitudes culturais em que deixou marcas do mais sofisticado gosto e
sensibilidade».
Deliciou-nos
o documentário, porque – tal como é apresentado no programa – nele ouvimos
«figuras da cultura portuguesa e internacional, de familiares e amigos que, em
conversa informal, […] testemunham como o seu contacto com Dona Olga foi
importante não só para elas próprias como para tantos artistas, músicos do mais
alto gabarito, a nível mundial, que beneficiaram do seu apoio e de um mecenato exemplarmente
desinteressado».
Uma
senhora que privou com literatos como Gabriele d’Annunzio ou Marinetti (o homem
do futurismo); com Eugénio Pacelli (o futuro Papa Pio XII); com músicos como Cole
Porter, Ravel, Stravinski, Rubinstein; com cientistas, como Marconi; com
pré-historiadores, como Henri Breuil…
Fascina-nos,
de facto, esta «grande senhora que soube enriquecer a cultura do tempo que lhe
coube», «uma personalidade que importa conhecer cada vez melhor e mais profundamente».
E
o serão culminou com o virtuosismo de Olga Prats – que da Marquesa teve nome,
porque seu pai «dedicou mais de 40 anos da sua vida a um dos mais aristocráticos
e tradicionais nomes da nobreza portuguesa», escreveu no programa. E as peças
que executou foram todas elas precedidas de uma explicação, pois estavam
umbilicalmente ligadas a momentos da vida das duas Olgas, a pianista e a sua
benemérita ‘madrinha’, que inclusive comparticipou na compra do seu piano de
estimação. Começou (e viria a terminar) com o tema «Dolor», da autoria de
António Donosti, interpretando, de seguida, «Gavotta 1 e 2» de Bach, «Zamba» do
sevilhano Joaquín Turina e «Jeunes Filles au Jardin» do compositor catalão
Frederico Mompou (o pai de Olga Prats era de origem catalã e a pianista passou larga
temporada em Barcelona, com uma bolsa).
Permita-se-me
uma breve nota pessoal. O Centro Cultural Olga Cadaval lembra-me sempre o ‘vizinho’
Cine-Teatro Carlos Manuel, onde tive o privilégio de assistir – vindo da Quinta
do Vinagre, onde passei férias, por exemplo, no Verão de 1962 – a vários
concertos do Festival de Sintra, que dava então os primeiros passos, justamente
com o apoio da Senhora Marquesa, guindando-se, já então, ao primeiro plano das iniciativas
musicais do nosso País. Foi, sem dúvida, o eco desses tempos idos que a mim me
envolveu e que, nessa noite de 17 de Janeiro, acabou também por envolver a
grande maioria dos assistentes, pois, de uma forma ou doutra, terão sentido bem
vivo o carisma enorme de uma personalidade ímpar e forte, que, na verdade,
importa não esquecer!
Publicado em Cyberjornal, 24-01-2014:
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