quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Na prateleira - 15

Agenda cultural digital
            Ficámos a saber, por informação que gentilmente recebemos da Senhora Vereadora, que a Agenda Cultural de Cascais (de há uns tempos para cá também já não designada de Cultural) irá passar a ser «apresentada de uma forma mais interactiva, deixando de ser produzida a tradicional versão impressa». Quem quiser recebê-la no seu computador (se mantiver posses para o ter, claro!), deverá inscrever-se na página do Município. Acrescentou a Senhora Vereadora que, assim, vai «chegar mais longe, utilizando menos recursos». Economizar recursos, na presunção de que, dessa forma, vai chegar mais longe. E promete oferecer-nos também mais uma… newsletter!
            Obviamente, já escrevi à Senhora Vereadora, a manifestar, primeiro, a minha surpresa por verificar que também a Câmara de Cascais, tão portuguesinha que se preza, vai passar a utilizar terminologia estrangeira, atirando às urtigas a língua portuguesa. Mas… moda é moda e não há que reclamar!
            Também manifestei a minha inteira discordância em relação à opção! Primeiro, porque é utopia (generalizada pelos governos economicistas europeus, que, no entanto, já começaram a sentir que deram com os burrinhos na água…) pensar que toda a gente tem acesso à Internet, nomeadamente agora que a classe média já é praticamente inexistente; depois, e este é para mim o aspecto mais importante, porque, tal como foi concebida, a Agenda Cultural de Cascais tem rubricas do maior interesse! Não se limita a ser uma agenda! Dá conhecimento de monumentos, de património, da história… Dir-me-á, escrevi eu à Senhora Vereadora, que isso continuará. Acredito! Mas… onde se guardará? Como se fará para consultar depois? Tenho-me batido insistentemente para que o Município de Cascais volte a editar o Arquivo de Cascais, pensado como repositório de uma série de estudos sobre os mais diversos aspectos da vida cascalense. Meus apelos têm caído em saco roto. Salvava-se, porém, a Agenda, cujos responsáveis cedo compreenderam a importância de manter a memória de facto e não apenas nas bonitas palavras e em murais.
            E dei o exemplo doutros concelhos, em que, de um modo geral, a opção foi a seguinte: apesar de a agenda cultural estar inteirinha na página da Câmara, em versão digital, manteve-se a edição em papel para todos aqueles munícipes que fizeram questão em a coleccionar.
            Eu coleccionei até agora a de Cascais e tenho-a mostrado, orgulhoso, aos meus estudantes do Mestrado em Política Cultural Autárquica.

O Senhor Agente
            Dia 8 de Janeiro de 2014. Fui à dependência bancária (onde, por enquanto, ainda me depositam a pensão), a fim de desejar bom ano à minha gestora de conta dedicada. À saída, verifiquei que o dia começara com sorte e com azar. Com sorte para o agente da polícia que, ao passar, viu um carro estacionado em cima do passeio com os quatro piscas ligados. Claro: parou a viatura, sacou dos bloqueadores, sacou da fita que enrolou em torno do carrito que, choramingando, continuava a piscar. Teve sorte o Senhor Agente em ter passado ali àquela hora. Cinco minutinhos depois, já não teria hipótese de apresentar serviço na esquadra e juntar mais uma multa ao seu rol. Teve grande azar o condutor. E eu imaginei, até, que o azar pudesse ter sido duplo: largou o carro ali, numa pressa, para ir à farmácia em frente buscar medicamento urgente para a doente que, em casa, dele precisava; achou que, não estando a viatura a estorvar ninguém, sinalizando-a com os quatro piscas como que a dizer «Senhor Agente, eu volto já, tenha paciência e compaixão!», o possível agente teria paciência, teria compaixão... Não teve! O Estado paga-lhe para ele arrecadar o máximo de dinheiro que puder e ele… tem de cumprir! Tive pena: do agente e do condutor. Se calhar, ainda mais do agente, porque poderia ter optado por uma atitude de pedagogia, esperar um bocadinho, tentar ver quem era o condutor, repreendê-lo, saber o que se passava… Mas, coitado, isso de pedagogia, embora apregoada por todas as entidades, não chega aos que, no dia-a-dia, só sabem agir. Autómatos! Tive pena do condutor, porque, se estava com urgência, agora tinha de telefonar para a esquadra, tinha que esperar que houvesse disponibilidade de uma viatura vir até ao local – e isso de ‘disponibilidade’ é sempre muito complexo, eu sei, quando tento chamar alguma para vir aqui perto de casa onde estacionam a trouxe-mouxe e há engarrafamentos-monstros… os tais que incomodam mesmo!...
            Dei uma volta pelo paredão, a ver os estragos da invernia; mas a imagem do Senhor Agente só me saiu da cabeça, quando, já perto da hora do almoço, dei demorado abraço a uma amiga querida, que me informou: «Sabes? Vou ser submetida à sexta operação cirúrgica!». E disse-mo com um sorriso de esperança. Valeu!

Publicado em Costa do Sol – Jornal Regional dos Concelhos de Oeiras e Cascais, nº 29, 22-01-2014, p. 6.

 

 

Imagens captadas no passado dia 20, às 10.17 h, no entroncamento da movimentada R. Eça de Queirós, na Pampilheira, com a R. Fernão Lopes, que dá acesso à Clínica CUF Cascais e a uma série de oficinas de automóveis.É ocorrência assaz frequente no local: os veículos estacionados em infracção impedem as manobras das muitas viaturas longas (mormente a dos CTT).
Desta feita, a polícia veio dez minutos depois de ter sido informada.
                

1 comentário:

  1. Peço desculpa: não me fiz entender! Estava a referir-me às viaturas estacionadas em transgressão na Rua Fernão Lopes, que impedem a passagem de viaturas maiores, como a que se mostra na 1ª fotografia. A segunda fotografia (da R. Eça de Queirós, como sabe, uma rua assaz movimentada) destina-se apenas a mostrar o engarrafamento; os carros que estão estacionados do lado do pinhal não estorvam ninguém! Aliás, é um estacionamento habitual, sem quaisquer problemas! Estamos, pois, inteiramente de acordo!

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