Na
base de dados onde, no organismo do Estado que superintende à Cultura, se vão integrando
os sítios arqueológicos, o rol é encabeçado por um sítio do concelho de Cascais.
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Panorâmica sobre as estruturas romanas visíveis no Alto do Cidreira |
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Estranhar-se-á o uso da expressão «organismo do
Estado que superintende à Cultura».
Eu explico.
É que, nesse
domínio, umas vezes temos Ministério da Cultura, outras Secretário de Estado da
Cultura, outras Secretaria de Estado da Cultura… Uma dança que não carece, amiúde,
da mudança de Governo; basta uma remodelaçãozinha governamental e logo vêm
outras ideias e toca de mudar de nome!
Então no que se
refere à Cultura, houve, no 2º escalão, o IPPC (Instituto Português do Património
Cultural), o IPPAR (Instituto Português do Património Arquitectónico e Arqueológico),
o IPPAAR, o IGESPAR, o IPM, o IPA… Agora é a DGPC – Direcção-Geral do
Património Cultural.
O bailado das
siglas tanto do agrado de quem vai para o poder!
Agora,
outra revolução se adivinha: essas entidades, ao que parece, deixam de ser Governo
e passam a ser empresas. «É a economia, estúpido!», bem proclamava
James Carville. Mais ou menos mascarada, é ela, é!
Pois,
voltando ao rol, a determinado momento, pensou-se que era necessário começar a
identificar com números os sítios arqueológico portugueses. Não por uma questão
de números, de economia, mas para melhor se identificar essa riqueza. Uma base
de dados, claro, tinha que ser. E com que nome? Que númen poderia abençoar o empreendimento?
Ainda
estava bem presente na memória dos arqueólogos então com funções de
responsabilidade na área o livro do João Aguiar, A Voz dos Deuses, onde
o herói é um sacerdote do deus indígena Endovélico, cujo santuário se encontra
em S. Miguel da Mota, concelho do Alandroal. Pois seria essa a divindade a
baptizar o rol e abençoada ele seria, sem dúvida, por uma divindade ancestral
dos Lusitanos. O nome colheu consenso e… vamos à luta!
A
questão primordial: por onde é que se começa?
Ora
aconteceu que, nessa altura, andavam uns senhores arqueólogos a fazer sondagens
no Alto do Cidreira, em Cascais. Cascais ficava perto de Lisboa, as descobertas
– que até tiveram honra de telejornais e noticiários (pudera, era perto de Lisboa!)
– estavam a dar brado e do sítio já se conhecia bastante. Resultado: começamos
por aí! E, por conseguinte, o nº 1 da base de dados Endovélico é a villa romana
do Alto do Cidreira, situada no Carrascal de Alvide, freguesia de Alcabideche.
A
história vem contada na p. 118 do livro Memórias das Pedras Talhas, de António
Carlos Silva (Edições Colibri, Lisboa, Janeiro de 2023). Acrescenta o autor:
«mas as circunstâncias da sua descoberta e localização ainda hoje se refletem
nas suas precárias condições de preservação». E é verdade.
Conhecida desde
o século XIX, a estação – é também este o nome dado a sítios arqueológicos – esteve
em sério risco de desaparecer sob o traçado da autoestrada (chegou a pensar-se que
passaria por ali); de desaparecer, de seguida, sob os prédios de uma cooperativa
de habitação; começaram a rodeá-la vivendas clandestinas e, dado o seu
interesse histórico, os arqueólogos puseram mãos à obra e aí fizeram sondagens com
vista a mostrar que ali havia algo a preservar.
Mostraram.
O sítio foi classificado,
em 1992, como «imóvel de interesse público». Goza de um panorama excelente (os Romanos
não eram parvos nenhuns e até conseguiram ter água por ali!) e… aguarda que, um
dia, depois de reabilitadas as grutas da Alapraia e o povoado romano dos Casais
Velhos, entre outros, possa chegar a sua vez de ter uma cara lavadinha. Para
melhor usufruto de toda a população. Entretanto, de vez em quando, os serviços camarários
lá têm que dar por lá uma voltinha, não vá o sítio transformar-se em lixeira.
José
d’Encarnação
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Separador de tear, de osso, decorado.
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Dado de osso
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Cabeça de negro. Pendente, de terracota.
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Sepultura identificada aquando se descobriu o aqueduto (à direita).
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