Cada
vez mais nós gostamos de histórias. Aliás, não rezam as Escrituras que Jesus
Cristo usava das parábolas para melhor inculcar quanto pretendia ensinar? «Saiu
o semeador a semear a sua semente…». Não lemos fábulas às nossas crianças para
elas melhor compreenderem a moral que vem no fim?
Bem
fizeram, pois, os filhos do nosso saudoso Coronel Piloto Aviador o são-brasense
Victor Brito em pôr em livro as histórias que seu pai foi contando e publicando
ao longo da vida. Homenagem é ao pai, mas também aos 90 anos da mãe, a quem, no
final do prefácio, Zé Brito, o filho mais velho, dedica estas palavras:
«Foi
ela, como tantas mulheres, que, com o seu sacrifício e persistência, sofrendo, com
medo (na altura, os acidentes com aviões militares eram frequentes), sozinha (porque
o meu Pai estava quase sempre fora),
criou quatro filhos e tratava de tudo, ou quase tudo, em casa, proporcionando
ao meu Pai uma liberdade que lhe permitia dedicar-se quase totalmente às suas
actividade aeronáuticas, sem ter de se preocupar com afazeres domésticos e com
a educação dos filhos, pois sabia que estava tudo em boas mãos».
Histórias
autobiográficas, sim; contudo, se nos lembrarmos que se trata de alguém que fez
a guerra colonial e ainda estava no activo, na Força Aérea, nos primeiros tempos
após o 25 de Abril, facilmente se compreenderá que, ainda que contadas do seu ponto
de vista, muitas dessas histórias nos revelam aspectos, porventura pouco conhecidos,
das proezas e acontecimentos vividos.
Só
para se ter uma ideia, os títulos de alguns dos capítulos das cerca de 200 páginas
deste denso livrinho, também documentado com fotografias:
–
Amaragem no Atlântico em Grumman SA 16, “Albatroz”;
–
Um aldeamento indígena dentro de uma base da Força Aérea;
–
Evacuações nocturnas em Moçambique;
–
Montagem de metralhadoras nos helicópteros Alouette II e III;
–
Ataque ao rádio farol do AB7 em Tete em Outubro de 1971;
–
O comandante entra no avião com uma passageira Vip ao colo?
Para divertir os
filhotes, criara Victor Brito um personagem: o desajeitado Zé dos Queixos Grandes,
«tão grandes eram os queixos que se atrapalhara todo e em tudo o que fazia os
enormes queixos tinham o papel principal», conta a filha Aida Brito. Lendo-as agora,
somos nós que vamos ficar mais sábios!
José
d’Encarnação
Publicado em Notícias de S. Braz (S. Brás de Alportel), nº 324, 20-11-2023, p. 7.