Eu
estivera em Loulé na antevéspera e a conversa com o motorista da Câmara que me
fora buscar à estação – caíam, na altura, uns chuviscos – incidiu naturalmente
sobre a chuva.
Chovera
ali na noite anterior; pouca coisa, porém, para as necessidades prementes que
se faziam sentir. Aliás, não fora sem razão que o Município decidira criar um
Gabinete de Eficiência Hídrica, justamente para racionalizar o mais possível o
consumo e o aproveitamento da água. Recordei-me também dum dos primeiros
interesses de meus tios: fazerem uma cisterna para armazenarem a água das chuvas.
Dei
comigo a pensar na frase «escapar à chuva». Que é como quem foge duma praga ou
perigo iminente.
E
quem disse ao senhor do texto dito que o Baixo Alentejo e o Algarve queriam
escapar à chuva? Para quem vive em meio urbano onde raramente a água falta, a chuva
é, na verdade, um incómodo, chatice, tenho que levar guarda-chuva, a gente
molha-se toda, depois as varetas não obedecem…
Lembrei-me,
até, daqueloutro locutor a perguntar à colega que estava nas informações de
trânsito: «Então, já há algum acidente?». Como quem pensa: «Isto sem acidentes
é uma pasmaceira!»…
Reflexos,
estes, inconscientes porventura, de uma visão ligeiramente distorcida da
realidade desejável. Precisa-se de chuva, é bom não haver acidentes – este, o prisma
pelo qual também se deveria pautar a informação.
José d’Encarnação
Publicado em Noticias de S. Braz [S. Brás de Alportel] nº
277, 20-12-2019, p. 17.
Nem mais ...
ResponderEliminarObrigada por estes miminhos de prosa em que, serenamente, sem grandes bátegas de água,vais vai regando a memória dos mais distraídos: cidade e campo, duas realidades diferentes. A agricultura precisa de umas chuvinhas, de vez em quando. E nós precisamos destes pedacinhos de prosa, porque também andamos esquecidos do essencial. Grande abraço.
ResponderEliminarDe Lídia Jorge
ResponderEliminarsexta-feira, 20 de Dezembro de 2019 23:33
José d’Encarnação, querido amigo
Escapar à chuva, segundo a menina da televisão, claro…
Felizmente, agora, não escapámos à chuva. Essa bênção desceu dos céus.
E anteontem até houve quatro trovões! Fiquei feliz com os trovões.
Havia tanto tempo…
E também não escapamos ao Natal…
Grande stress. Eu desisto.
Só quero a gruta com vaca, burro e tudo.
Abraço, beijo, que encontres o Menino por aí.
Pergunta às estrelas.
Boas Festas.
Tua amiga Lídia.
De Ana Claré
ResponderEliminarSenhor meu compadre, adorei! Como sempre, apanhaste o que devia ser apanhado. Benditos erros que nos servem de reflexão e para nos deliciarmos a esmiuçar as tuas palavras sábias.
Bom Dia Prof. Palavras palavra ditas sem sentido e ao acaso. exemplo: colaborador em vez de trabalhador, será que vão criar o sindicato dos colaboradores?
ResponderEliminarBem haja
Maria Helena