Perder-se-á na noite dos tempos o início da actividade do trabalho da pedra em S. Brás. Existia a matéria-prima em abundância; existia a necessidade de se fazerem casas e valados e… o Homem aguçou o engenho!
Foi pouco a pouco inventando os instrumentos que melhor servissem para, das entranhas da terra, se porem os bancos a descoberto (era assim uma espécie de agricultura ao contrário…); depois, para os cortar a preceito, de acordo com os objectivos; em seguida, para os afeiçoar…
A princípio, uma ideia simples de esquadria, para melhor se ajustarem os blocos na parede; contudo, os valores estéticos depressa terão ganhado vulto: no peitoril da janela, na soleira da porta, no baixo-relevo dum portão…
As pedreiras dos Funchais viram, assim, nascer especialistas num labor que requeria experiência e saber. Nas décadas de 30 e 40 do século passado, muitos deles partiram para Marrocos (então francês), onde se levantavam majestosos edifícios públicos e onde os operários são-brasenses aprenderam também novas técnicas. Regressados ao rincão natal, traziam, porém, nas veias essa vontade meridional de andarilhos. E ei-los que aí vão, em debandada, até à península de Lisboa, onde, na década de 40, também novos empreendimentos, do Estado Novo, careciam de obras-primas. Fixaram-se, por exemplo, no concelho de Cascais, onde a tradição do trabalho da pedra também vinha de tempos imemoriais. E ensinaram aos saloios as novas técnicas e com eles outras aprenderam, até porque igualmente de Alcains e dos arredores de Coimbra (a célebre «pedra de Ançã» já afeiçoada na época romana!…) mais canteiros ali afluíram.
Criou-se em Cantanhede o Museu da Pedra; nasceu em Alcains o Museu do Canteiro; fez-se em Cascais, a 18 de Novembro de 2006, um monumento em que se recordaram os anos de oiro da indústria das pedreiras; São Brás e Faro certamente vão dar as mãos para corporizarem algo que – para além do Geoponto dos Funchais – recorde aos vindouros uma ocupação nobre, em que os são-brasenses deram cartas.
A nossa evocação de hoje mais não é, por isso, do que o reavivar de uma memória, a iluminar um património comum que importa valorizar, numa época em que estes valores da terra-mãe precisam de ser acalentados!
Texto incluído no folheto-guia do passeio de 16-03-2008, em S. Brás de Alportel.
domingo, 25 de setembro de 2011
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