quinta-feira, 7 de junho de 2012

Senta-te e dá-lhe atenção!

(In memoriam de Walter de Medeiros)

Deixou-nos, a 29 de Março, p. p., Walter de Medeiros, um dos mais insignes docentes de Estudos Clássicos da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.
E a primeira imagem que dele me ocorre, sempre que, amiúde, o pensamento vai para a sua memória é a letra cuidada, perfeita, certinha com que escrevia uma dedicatória ou mera nota de esclarecimento a uma singela questão posta. Desse gesto emanava, assim, uma serenidade que, porventura, no seu íntimo, seria aparente, mas que nos calava bem fundo, uma vez que, para assim escrever, mostrava não estar com pressa nenhuma e nos dedicava. naquele momento. toda a atenção do mundo.
Exacto: a atenção, a disponibilidade, o saber ouvir atentamente quem quer que fosse são, na verdade, os traços da personalidade de Walter de Medeiros que mais me tocaram e me influenciaram também.
E não resisto, por isso, ao evocá-lo aqui, nestas palavras singelas, a lembrar as passagens de dois livros que moldaram a minha juventude e que vão precisamente nesse sentido:
«Há, na narrativa da Ressurreição, um pormenor cheio de delicadeza – o lençol do Ressuscitado estava dobrado (João, XX, 6-7). Traço tangível de gestos comedidos, dos quais for excluída toda a precipitação. Símbolo da calma que envolve todas as obras de Deus» (p. 15).[1]
«Não digas a quem te visite: “Só posso receber-te por um instante, não te mando sentar… etc…», enquanto o recebes um quarto de hora ocupando-te de outra coisa. Manda-o sentar e atende-o dez minutos, calmamente, dando-lhe a impressão que lhe dedicas todo o teu dia». [2]
Era assim Walter de Medeiros: um Homem que a todos tratava como pessoas!

Publicado no quinzenário Renascimento [Mangualde], nº 594, 01-06-2012, p. 10.



[1] Hélène Lubienska de Lenval, Silêncio, Gesto e Palavra, Aster, Lisboa, 1961, tradução de Jaime Cunha. Título original: Le Silence a l'Ombre de la Parole, Ed. Casterman – Maredsous, 1961.
[2] Michel Quoist, Construir, Livraria Morais Editora, Lisboa, 1965, p. 122.

1 comentário:

  1. Recordando Walter Medeiros, antigo professor da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (Estudos Clássicos).

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