Amiúde se não dará importância às fala s das crianças, no pátio da escola ou nas suas
brincadeiras. Aí se reflectem, porém, com mais frequência do que se imagina,
frases que ouvem dos adultos e que veiculam uma sabedoria quotidiana que os
livros não trazem ou, ainda, um sabor picante, mala ndreco,
que lhes sabe bem porque sai da norma lidade
imposta pelos adultos.
Há já literatura e, até, projectos
(no Instituto de Estudos de Literatura Tradicional, por exemplo) sobre o tema;
e decerto os dois exemplos que vou citar são capazes, até, de ser basto
conhecidos. Um dado, porém, a reter é a facilidade com que essas frases têm
rima, como se tal fosse a forma mais corrente de se afirmarem sentenças
lapidares.
Um diálogo:
– Em
que estás a pensar?
–
Nada!
–
Pois quem nada não se afoga!
Uma
situação:
Nos
chafarizes, havia a torneira ou a bica, cuja água alimentava também a grande
pia destinada a bebedouro de animais. E não era raro, quando um miúdo ia beber,
outro assobiar, como era costume para as bestas. Depois de se dessedentar, o
menino arisco não hesitava:
- Já
bubi e sobejou para a grande besta
que me assobiou!
Publicado no mensário VilAdentro [S. Brás de Alportel], nº 161 (Junho 2012) p. 10.
Sem comentários:
Enviar um comentário