domingo, 9 de setembro de 2012

«Aberto por obras»

            «Obras» é, sem dúvida, palavra que abominamos no nosso quotidiano. «Temos de fazer obras em casa!», «Nem me fales nisso! Logo se vê! Só pensar na desarrumação, na poeirada… Ná! Logo se vê!».
As obras num monumento classificado ou de significativa relevância ainda pior! Primeiro que se pense nisso a sério; primeiro que se consiga cabimentar verba no orçamento; primeiro que se estudem os termos do concurso da adjudicação; primeiro que se lance o concurso e se classifiquem os concorrentes; primeiro que a verba fique, afinal, disponível e as obras comecem… uma eternidade! E, depois, o edifício encerra «para obras»!...
Fiquei, por isso, mui agradavelmente surpreendido quando o meu amigo Juan Santos me propôs para o dia seguinte à conferência na Universidade do País Basco, 26 de Abril, p. p., que eu visitasse com ele as obras da catedral de Vitória. As obras? – perguntei a mim mesmo. Se calhar, há escavações arqueológicas pelo meio… E o que mais me admirou foi ele ter querido marcar a visita com mais de um mês de antecedência!...
Tinha razão. A catedral está «abierta por obras»; a Fundación Catedral de Santa María, responsável pelo processo, organizou visitas guiadas pagas, que têm sido um êxito quer do ponto de vista turístico quer financeiro: «Arquitectos, arqueólogos, operarios, andamios… configuran el dia a día de un proyecto innovador en el turismo cultural […] lo que nos lleva a ser un referente tanto nacional como internacional»!
Dei este exemplo num dos seminários do recente congresso realizado em Cascais sobre o património edificado e sua reabilitação. António Lamas, o orador cuja intervenção eu comentava, conhecia o caso de Vitória e garantiu-me que, em Sintra, as reabilitações em curso, da responsabilidade de Parques de SintraMonte da Lua, estão… «abertas para obras». Rejubilei.

 
Publicado no quinzenário Renascimento (Mangualde), nº 599, 1-09-2012. p. 4.

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