E deixou-nos uma enorme saudade. Não apenas da sua voz potente, que proclamava
como ninguém «É preciso acreditar!», que convocava o «irmão» para cantar, para
dar as mãos, para lutar… Saudades da Pessoa (sim, com letra maiúscula) que
sempre soube ser, amigo do seu amigo, companheiro indefectível, solidário,
disponível.
Não mais o verei saltar da cadeira do restaurante aqui do bairro onde, de
vez em quando, vinha almoçar. De braços abertos, avançava ao meu encontro para
um forte abraço fraterno e jovial: «Como vais, rapaz? Que prazer ver-te!». Fomentava
a Amizade, cimentava-a.
Nasceu em Coimbra (1933), em Coimbra se formou em Medicina Dentária (profissão
que sempre exerceu), mas desde cedo demandou Lisboa e era um dos mais ilustres
munícipes de Cascais. Aliás, atribuiu-lhe a Câmara Municipal a Medalha de Mérito
Cultural; o TEC tem, no seu mural do Mirita Casimiro, a placa rósea com a sua assinatura,
ali afixada por ocasião da comemoração dos seus 70 anos (5 de Janeiro de 2003),
porque – tal Carlos Carranca, a cujo grupo pertencia – o Luiz sempre fez a ponte entre Cascais e
Coimbra, entre os antigos estudantes da Lusa Atenas que, como ele, se instalaram
na capital e arredores. Carlos Carranca publicara, de resto, em 1998, uma
biografia sua: Luiz Goes de Ontem e de
Hoje.
Enquanto recordamos o Amigo, o Poeta, o Cantor, o Homem, não podemos,
porém, deixar de verberar os tempos que estamos a viver. Morreu em Mafra o
Luiz. Longe, pois, de todos os ambientes por onde fora semeando o seu génio. E
porquê? Porque só em Mafra, depois de muito procurar, houve uma cama disponível
para o receber! Mal vai, na verdade, o nosso Serviço Nacional de Saúde; mal vão
as casas de cuidados continuados que se inauguram e não abrem ou, se abrem, têm
preços incomportáveis para o bolso do cidadão normal.
Diligenciava-se para que a Luiz Goes fosse outorgada uma tença ou algo de
semelhante, por parte da Secretaria de Estado da Cultura, atendendo aos brilhantes
serviços prestados à Cultura Portuguesa (recorde-se que foi condecorado com o
grau de Grande Oficial de Ordem do Infante Dom Henrique, teve a Medalha de Ouro
da Cidade de Coimbra e foi galardoado, em 2005, com o Prémio Amália Rodrigues).
Nada foi possível. E Luiz Goes não resistiu, à sombra do convento…
Houve missa de corpo presente, hoje, dia 19, em Coimbra, na Igreja de
Santa Cruz que tantas vezes cantou e que tão prenhe está da tradição coimbrã. Repousarão
os seus restos mortais no jazigo da família de Manuel Portugal, enquanto se
espera que seja aceite a proposta de virem a repousar no Panteão Nacional de
Santa Cruz.
Luiz, uma coisa tu bem sabes: não te esqueceremos! Descansa em paz, Amigo
e Lutador!
Publicado na
edição de 20 de Setembro de 2012 do Cyberjornal:
O Dr.Gonçalo Reis Torgal teve a gentileza de me enviar hoje este comentário que não teve oportunidade de inserir aqui, como era sua intenção. Transcrevo-o e agradeço:
ResponderEliminar«Só hoje li o seu sentido comentário que comungo totalmente inclusive no que vergonhosamente se passa com a saúde em Portugal e especificamente nesse campo onde se não fosse o papel e acção das Misericórdias nada teríamos a poder ser usufruído por quem roubado é pelo governo do garoto do coelho passos pedro. Bem haja pois. um abraço Gonçalo