Na
verdade, esta 28ª edição do Salão de
Primavera, inaugurada no sábado, 23, na Galeria de Arte do Casino Estoril é
muito mais do que isso.
Para
já, é de se atentar no número, a significar que este projecto, iniciado em
1981, teve seguimento. Por ele já passaram, pois, como Nuno Lima de Carvalho explicita
na bem oportuna abertura do cat álogo
a que deu o sugestivo título de «Nobreza no ensino da Arte», 916 jovens artistas,
«muitos dos quais», acrescenta, «são hoje pintores de referência ou profissionais
qualificados no mundo artístico, como é o caso dos mestres que escolheram os participantes
da exposição do corrente ano», Hugo
Ferrão (de Lisboa) e Domingos Loureiro (do Porto). De muito louvar, portanto,
essa continuidade, num mundo em que iniciativas do género surgem aqui e além e mui
rapidamente se dissipam….
Depois,
aqui se expõem, agora, obras de 24 finalistas das Faculdades de Belas Artes de
Lisboa e do Porto. Para muitos deles, será essa a primeira linha a figurar no
seu currículo, o pontapé de saída para uma carreira que se antoja promissora e
estou bem ciente de que o facto de terem aqui sido acolhidos será memória boa a
acompanhá-los vida afora.
Finalmente,
é exposição com cat álogo a preceito, em bom papel couché, que traz a
reprodução , a cores, de uma das duas
obras expostas de cada um. Um investimento apoiado, mui naturalmente por
Estoril Sol III, mas que deve realçar-se, porque é, sem dúvida, o que fica como
documento-memória.
Apresentou
Filipa Tojal (a artista a quem foi atribuído o Prémio Rainha Isabel de Bragança) dois óleos sobre tela a que deu
o nome de «Jardim em Azul», ao amanhecer e ao entardecer. Foi o do amanhecer
que conquistou o júri, que certamente apreciou a maestria com que soube
levar-nos a penetrar numa floresta – mais do que jardim, eu diria – onde a
serenidade impera e, diante dela, interrogamo-nos como é que nos cat iva assim tanto este aparente emaranhado de
verdes e de azuis, e a nesga de céu por cima, verde-acinzentado…
Dei uma volta pelo salão
‒ Pedro Cunha, densos rostos enclausurados;
‒ Elisa de Sousa, a serenidade, quiçá
desalentada, de um cordeiro ;
‒ Mónica Medeiros, cromático geometrismo;
‒ Sérgio Almeida (menção
honrosa), retratos tristes, castanhos;
‒ Rita Alfaiate (menção
honrosa), uma «narcoléptica prostrada» e um nu prostrado também, de bem
visíveis costelas;
‒ António Bahia (menção
honrosa), arranha-céus, na geometria dos telhados creme;
‒ Rita Sá Lima (menção
honrosa), explosão de cor nos seus vasos floridos;
‒ Carolina Machado (menção honrosa), de roupas espalhadas a dizerem que
assim está bem;
‒ Benedita Santos (menção
honrosa): que bem atormentados são esses rituais eróticos, menina!...
‒ Teresa Pessoa, «memórias» salpicadas;
‒ Carolina Sales (menção
honrosa), «positivo opaco» e «negativo transparente» (mero jogo de palavras,
será?);
Eva, de Karyna Igesias |
‒ Karyna Iglesias (menção
honrosa), também gostei da sua Eva expectante ou sonhadora, assim como das duas
meninas com o coelho de peluche por companhia (bonito aquele fundo de um branco
intenso!);
‒ Eduarda Alves, negrura trágica;
‒ Juliana Lopes, da originalidade de bem
sofredora superposição , como de duas
personalidades que teimam em não se encontrar, sangrentos são os rostos;
‒ Marisa Nóbrega, a comprazer-se no verde
duma imaginária floresta;
De João Maria Ferreira |
‒ João Maria Ferreira, o quarto antigo e a
velhota a surpreender-se, que é como quem pergunta ‘o que é isso de «7 ou como
tornar alguém neutro para que o comprem»’?, que é o título do quadro;
‒ João Miguel Ramos, «bêbedo» e «Telémaco», retratos
em ambiente surreal;
‒ David Lopes, a obsessão de uma bisnaga de tinta
azul;
‒ Digo Branco, névoa?
‒ Jorge Charrua: os putos;
‒ Pedro Poscha : uma visão de anjos bem
estranhos, um tem leveza (garante o pintor), o outro… vai-se embora!
‒ David Simões (menção
honrosa), lúgubres são as figuras, amigo!
‒ Margarida Lopes (menção
honrosa), tersas pinceladas de paisagens!...
José d’Encarnação
José d’Encarnação
Publicado em Cyberjornal, 2015-05-24:
Filipa Tojal com representantes da Estoril Sol |