Assim,
alguém me dizia: «Não há jornais em Cascais, nada se sabe, não há notícias!». O
certo é que as há, minuto a minuto, nas chamadas ‘redes sociais’, inacessíveis,
porém, a muito mais gente do que aquela que nos querem fazer crer.
Vêm
estas considerações a propósito das muitas iniciativas que por Cascais ocorrem
e que ora passam para a posteridade apenas através das formais ‘informações à
imprensa’. Quero, pois, hoje, evocar o que foram as celebrações do 10 de Junho.
Uma tradição da Propaganda
«Foi
no ano de 1980, faz agora 35 anos, que esta Sociedade iniciou a sua presença
junto da estátua do Poeta, celebrando aquele dia com a deposição de coroas de flores e convidando para estarem ao
nosso lado entidades oficiais e particulares, os nossos sócios e a população em geral», escreveu Joaquim Aguiar, presidente
da Sociedade Propaganda de Cascais, no convite enviado.
Um
ritual. E, nessa qualidade, há que cumpri-lo.
Acorreram
ao chamamento, além do Povo, algumas entidades e foi significat ivo (não se pode pedir muito!...) o número de
estandartes que emolduraram o quadro.
A cerimónia na Praça 5 de Outubro
À
Praça 5 de Outubro, onde se situam os Paços do Concelho, foram chegando as
bandas: a da Sociedade Musical Sportiva Alvidense, a da Sociedade de Instrução e Recreio de Janes e Malveira, a da Sociedade
Recreativa e Familiar da Malveira da Serra e a da Sociedade Recreativa e
Musical de Carcavelos. Como que vieram dos quatro cantos da vila e foi emocionante
a parada, nomeadamente porque chegaram e tocaram uma peça à sua escolha.
Ao
som do hino nacional, lá subiram as três bandeiras (a portuguesa, a do concelho
e a da União Europeia) nos mastros do edifício camarário, cuidadosamente içadas
pelo Sr. Presidente da Câmara, por uma senhora e por um senhor, cada um a sua.
O Sr. Presidente, o Povo conhece; os outros dois ouvimos ao nosso lado perguntar
quem eram. Eu explico: foi o senhor presidente da Assembleia Municipal, Jaime
Roque de Pinho d'Almeida, do Grupo Municipal do CDS-PP (poucos cascalenses se terão apercebido que esse cargo já não é exercido
por António Pires de Lima); e a senhora é Paula Alexandra Alves Mateus Ferreira
Dias Gomes da Silva, vereadora pelo PPD/PSD.
Melhor
se andou (permita-se-me o comentário) na noite do dia 7, em que se evocou a
‘Cascais fadista’ de há 50 anos e tudo foi anunciado a preceito para se saber.
Se calhar, para o próximo 10 de Junho, talvez não fosse mau dar trabalho aos
nossos sempre atenciosos e mui eficazes elementos das Relações Públicas, que
até têm boa voz para se fazerem entender, e eles explicavam tudo tintim por
tintim.
A cerimónia no Largo Camões
Fez-se
caminhada depois, atrás da fanfarra dos Bombeiros da vila, para o Largo Camões,
ora bem recheadinho de esplanadas…
A
bandeira já se içara noutro lado (dantes, era mesmo junto à estátua que se
içava, porque a homenagem era a Camões); por isso, perfiladas as entidades e os
estandartes, tocou a fanfarra um alerta (parece que é assim que se diz) e foi a
ritual deposição de coroas de
flores: avançou a senhora presidente da Freguesia de S. Domingos de Rana, a
direcção da Propaganda e, por fim, o
Sr. Presidente da Câmara.
Verifiquei
mais tarde que se fizera, de seguida, pequeno concerto no «largo da Câmara».
Nunca sou previsto nestas andanças e perdi, inclusive, a oportunidade de saber
quem tinha tocado, quanto mais o que tocara! Sei que houve música e assim se
celebrou o nosso épico, que, reza a tradição ,
terá dito, ao morrer, a 10 de Junho de 1580, «ao menos morro com a Pátria»,
pois os Espanhóis invadiram-nos, precisamente desembarcados ali para as bandas
da Guia e por cá ficaram 60 aninhos. Dizem os entendidos que a História se
repete; não enxergo, porém, nenhuma perspectiva de virmos a ser dominados de
novo pelos nossos vizinhos, ainda que, de facto, em muitos dos pacotes de géneros
alimentícios que compro hajam pespegado rótulo em castelhano e o português em
segundo lugar e eu nunca sei se é para português pôr o pezinho lá ou para espanhol
manter o dele cá dentro. Logo se verá!
José d’Encarnação
Publicado em Costa do Sol – Jornal Regional dos Concelhos de Oeiras e Cascais, nº 99, 01-07-2015, p. 6.
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