Estava
muito longe de começar assim a crónica desta quinzena. Motivou-me o inesperado
falecimento, no passado dia 23, em Dalvares, do Doutor João Luís Vaz, meu ex-aluno
de Coimbra, amigo e companheiro das lides pela Epigrafia romana, pela
Arqueologia e História Antiga, desde há quase 40 anos… Uma vida!
Claro,
precisava de a dedicar à sua memória, não apenas porque ainda não estamos bem
conscientes de que, de facto, partiu do nosso convívio e por ele elevamos uma
prece, mas, de modo especial, por uma das suas mais recentes iniciativas em
prol das ciências a que se entregava como investigador se ter concretizado em
Mangualde, com o mais amplo apoio local: da Câmara, da ACAB –
Associação Cultural de Azurara da Beira e de outras entidades. Refiro-me à VIII
Mesa-redonda Internacional sobre a «Lusitânia Romana – Entre Romanos e
Bárbaros», que, com enorme brio, aqui organizou em Maio de 2013 e cuja
publicação das actas tinha entre mãos.
João L. da Inês Vaz, na sessão de abertura, a 10 de Maio de 2013, da VIII Mesa-redonda Internacional sobre a Lusitânia Romana |
O
texto transcrito está num poema de Ibne Mucana, poeta árabe do século XI; natural
de Alcabideche, terra aonde se ‘refugiou’ após uma vida passada no bulício das
cortes dos reinos de taifas pelo que é hoje a Andaluzia. Viveu também João Vaz uma
vida intensa – de estudo, de investigação, de intervenção política… Contudo, se
a aposentação o não libertou do gosto pela História Antiga e pela intransigente
defesa do Património Cultural, certo é que na agricultura se refugiava e foi
precisamente em meio de um labor agrícola que a morte o veio surpreender. Como
Ibne Mucana.
Ocorrem-me,
naturalmente, todas aquelas frases mais ou menos feitas quando há um desenlace
assim, tão repentino, tão brutal, tão… sem jeito! Escuso-me de as escrever. Recordam-se,
porém, as lutas travadas por um ensino melhor, por uma sociedade mais humana,
pelo reconhecimento e revitalização das memórias locais, fonte de um
enraizamento populacional por que insistentemente se pugna. Fica-nos o exemplo
do lutador com «amor à liberdade». Colheu espinhos onde, quiçá, apenas semeara
ilusões; mas colheu frutos também. E sabemos que continuará a nosso lado!
José d’Encarnação
Publicado no quinzenário
Renascimento (Mangualde), nº
665, 01-07-2015, p. 12.
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