Duas secções
reúnem as preferências dos leitores, sobretudo da imprensa local e regional: a
necrologia e uma outra, que nunca a ser mesmo secção
porque, amiúde, quase serve para tapar um buraco na paginação. Essoutra poderia chamar-se prosaicamente
«anedotas» ou, de preferência, «Rir é o melhor remédio». Prefiro este título
porque, dizem os entendidos, rir ou, simplesmente, sorrir é atitude que faz trabalhar
todos os músculos da cara e, desta forma, se mantém um rosto livre de
desgostoso encarquilhamento. Recordo-me de um conferencista que incitou a assistência
a abrir a janela pela manhã e proclamar «Está um lindo dia pra sorrir!». Desde
esse dia, o despertador do meu telemóvel tem mesmo essa frase! E dá resultado!
Com
isto tudo, perdi a necrologia pelo caminho; mas não interessa, porque toda a
gente sabe porque é que gosta de ler a necrologia!...
Dizem
que o Português é danado para anedotas. As picantes, as menos picantes, as de
humor negro (estas, umas das preferidas)... Sempre ouvi afirmar que, no
decorrer da II Grande Guerra, corria uma observação:
«Se queres ouvir uma boa anedota sobre a guerra, vai a Portugal!».
Portanto,
guerra é guerra, Covid-19 dá-nos luta e nós já lhe declarámos guerra cerrada.
Esse, o motivo porque recebemos diariamente uma catrefada de anedotas acerca do
malandro. Sim, malandro é e não tem graça nenhuma. Entra, sorrateiro, goelas
adentro, instala-se, nem sequer atira um piropo às células, o que ele quer é comê-las
e leva tudo de vencida. Poderia ainda fazer uma pausa, encantar-se com uma ou
outra das celulazinhas que tão sossegadas estavam no seu labor e ficar enamorado,
quietinho. Nada! É para matar, é para matar e pronto! Violência doméstica ao
mais alto grau! E pobres dos leucócitos que nem tempo lhes dá para entrarem em
acção.
De
violência se queixou também o canito:
–
Raios o partam, esse tal de covid! Toda a vizinhança me quer levar a passear.
Estou que nem posso!
Do
vírus não escapou a Última Ceia, de Leonardo da Vinci, que, como se sabe, se
mostra no Convento de S. Maria delle Grazie, em Milão, um dos epicentros da
peste. Primeiro, Cristo e os Apóstolos fugiram com medo; depois, voltaram, mas houve
logo quem deles fizesse queixinha e entrou a guarda:
–
Andor!... O que é?... Quero lá saber quem é o teu pai!... Isto é um ajuntamento,
tá proibido, tudo prá esquadra já!
José d’Encarnação
Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 775, 01-05-2020, p. 12.
Está um lindo dia para sorrir !
ResponderEliminarMas o meu comentário a este saboroso texto, não ficou? E fazia, não por esta ordem talvez, o elogio desta descrição original do desempenho do vírus da Covid19, do gosto dos portugueses pelo humor (mais do que pela coluna da necrologia, acho eu) e deste desabafo do convencido cãozinho já cheio de tanta atenção. Sorrir, grande remédio. E grande texto.
ResponderEliminarCaro professor, ando com uma falta de humor desgraçada . A única coisa que me faz sorrir é quando penso nos que acham que o SNS é uma excrescência .
ResponderEliminarCumprimentos.