Rodrigo Aleixo, de
11 anos, no programa Got Talent Portugal de 25 de Abril
– «Ê sou muito
vergonhoso, mas quando canto…».
Tem o professor, mormente o universitário, o privilégio de lidar com
estudantes de várias zonas do País. Apanha, por isso, o jeito de falar de cada
uma. Aliás, essas diferentes entoações de voz e uso de palavras específicas de
cada região acaba por determinar a alcunha pela qual vêm alguns a ser
conhecidos: é o Alentejano, o Alvito, o Viseu, o Galafura…
Há muito ano que eu não ouvia o
termo «vergonhoso», próprio do nosso Sul e extremamente adequado, sobretudo
quando aplicado a uma criança, que se diz envergonhada, como foi o caso do
Rodrigo, que, nesse programa, a todos encantou pela simplicidade e enorme
talento na interpretação, com os grandes, do cante alentejano.
As palavras, os gestos, a maneira de
ser caracterizam, de facto, as gentes daqui e dacolá. O Homem do Barrocal, por
exemplo, tem, a meu ver, um pouco como o alentejano, a resposta na ponta da
língua, não para ser ‘engraçadinho’ – como, amiúde, outros acham – mas porque
isso lhe está no sangue.
Tu dizes um piropo. Arriscas-te a
ouvir resposta airosa – tu ris e a menina ou a senhora ri também. Maldade
nenhuma! E vamos andando!
Deixas cair uma coisa: «Do chão não
passas!» – e vamos andando. Sem afeleação.
– Então, menino, como é que tu te
chamas?
– Ê nam me chamo, chamam-me!
Ora toma! E o catraio ainda não tem
três anos!...
O garoto caiu, magoou-se, ficou
choroso:
– Deixa lá, môce, isso com o andar
disfarça e, parado, não se nota!
Ah, barrocalense duma figa!...
José d’Encarnação
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