sábado, 22 de maio de 2021

Ah, barrocalense duma figa!...

             Rodrigo Aleixo, de 11 anos, no programa Got Talent Portugal de 25 de Abril
– «Ê sou muito vergonhoso, mas quando canto…».
Tem o professor, mormente o universitário, o privilégio de lidar com estudantes de várias zonas do País. Apanha, por isso, o jeito de falar de cada uma. Aliás, essas diferentes entoações de voz e uso de palavras específicas de cada região acaba por determinar a alcunha pela qual vêm alguns a ser conhecidos: é o Alentejano, o Alvito, o Viseu, o Galafura…
            Há muito ano que eu não ouvia o termo «vergonhoso», próprio do nosso Sul e extremamente adequado, sobretudo quando aplicado a uma criança, que se diz envergonhada, como foi o caso do Rodrigo, que, nesse programa, a todos encantou pela simplicidade e enorme talento na interpretação, com os grandes, do cante alentejano.
            As palavras, os gestos, a maneira de ser caracterizam, de facto, as gentes daqui e dacolá. O Homem do Barrocal, por exemplo, tem, a meu ver, um pouco como o alentejano, a resposta na ponta da língua, não para ser ‘engraçadinho’ – como, amiúde, outros acham – mas porque isso lhe está no sangue.
            Tu dizes um piropo. Arriscas-te a ouvir resposta airosa – tu ris e a menina ou a senhora ri também. Maldade nenhuma! E vamos andando!
            Deixas cair uma coisa: «Do chão não passas!» – e vamos andando. Sem afeleação.
         «Não botes qu’ê nam bebo!» – a garrafinha do medronho estava mesmo no fim e… vamos andando!
            – Então, menino, como é que tu te chamas?
            – Ê nam me chamo, chamam-me!
            Ora toma! E o catraio ainda não tem três anos!...
            O garoto caiu, magoou-se, ficou choroso:
            – Deixa lá, môce, isso com o andar disfarça e, parado, não se nota!
            Ah, barrocalense duma figa!...

                                                                       José d’Encarnação

 

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