(Lisboa, 23.12.1923 – 21.02.2009)
«Mestre» é, sem dúvida, a palavra adequada!
Tive o privilégio de ser aluno de Lagoa Henriques, na cadeira de Escultura do Curso de Conservador de Museus (1972-1973), no Museu Nacional de Arte Antiga.
Sim, o Curso era no museu, mas as aulas do Mestre foram sempre fora: ou no seu ateliê em Belém ou nas Belas-Artes – que a teoria precisava sempre de referências práticas, concretas, saber como se faz, como se olha....
«Como se olha»! – essa foi uma das maiores lições que o Mestre nos incutiu: a educação do olhar! Olhar de frente, de lado, das mais variadas posições, pois que é o volume que distingue o monumento escultórica e, visto de diferentes ângulos, ele assume dinâmicas diversas – e é isso que o escultor pretende transmitir. Lembro-me que fiz para a cadeira a análise de «Jeune femme dançant avec son enfant», uma escultura de Joseph Bernard, que está defronte do Museu dos Condes de Castro Guimarães, em Cascais, precisamente vendo-a de todos os ângulos – e foi uma descoberta!
Ainda não há muito tempo, quando o reencontrei, falávamos dessa sua experiência, que reputava enriquecedora: a de ter dado aulas a futuros conservadores de museus, pois que as esculturas carecem de ter, em ambiente museológico, uma respiração muito própria.
Eram fascinantes as aulas, sem cansaço, participadas, esclarecedoras. Tínhamos bem presente um dos seus últimos trabalhos na altura, de que se orgulhava: o conjunto escultórico da fonte luminosa de Leiria, a simbolizar a união do Lis e Lena, que viria a ser inaugurado no Dia da Cidade (22 de Maio de 1973). E o Mestre falava-nos com emoção desta sua vontade de trazer a escultura para o meio das gentes. Por isso, o Fernando Pessoa lá está, hoje, a dialogar connosco, com todos, em frente à Brasileira! E o António Aleixo, em Loulé! E o Alves Redol, nu, numa praça de Vila Franca de Xira!…
Sobre a obra de Mestre António Augusto Lagoa Henriques, além do que se escreve no seu portal oficial – www.lagoahenriques.com/ – muito se há-de ainda dizer. Ficar-nos-á, porém, sempre a imagem… do grande Mestre!
Que descanse em paz!
Publicado em Museus em Rede (Boletim da Rede Portuguesa de Museus) 31, Março 2009, p. 28-29.
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