domingo, 23 de janeiro de 2011
Tirar areia das dunas
«Crismina em regime florestal. Decreto de 20-06-1906. É proibido caçar».
Aprendi de cor, desde as bancos da Instrução Primária, o que diziam as placas colocadas em sítios estratégicos do areal junto ao Guincho. Era assim. E gostava de ver aqueles pinheirinhos agachados, como que a fugir do vento, de tal modo que, no meu primeiro livro, o já bem longínquo Devagar, Coração! (Edições Salesianas, Porto, 1966, p. 36), a eles tive de me referir, porque faziam parte do magnífico mundo da minha infância: «pequeninos, rastejantes, como querendo fugir do mar»…
Tive agora a curiosidade de procurar o significado de crismina. Nada envontrei
Em todo o caso, vi há dias – e a acção já foi noticiada – que andaram a plantar sebes pelo areal, a fim de reter as areias.
E voltei à Instrução Primária, onde Zulmira Fialho Faria, saudosa professora, me ensinara que el-rei D. Dinis mandara plantar os pinhais de Leiria e de Azambuja para deter o avanço das areias sobre os terrenos de cultivo. Acabou-se, mais tarde, por aproveitar também a madeira para fazer barcos; mas reter as areias era primordial.
Conversando, porém, com amigo de longa data, que ali viveu desde sempre, há 70 anos, ele que conhece as dunas como as suas próprias mãos e o regime dos ventos e as noutes de temporal…
– Estás a ver isto? – perguntou-me.
Que sim. É para as areias não virem por aí adentro.
– E já viste como está grande a duna grande? E como a areia avança para o parque de campismo?... Isto não vai com estacazinhas, não! É preciso voltar a tirar areia das dunas!
– Eu lembro-me de ver camiões, com autorização da Câmara. A Câmara até vendia as carradas, não era?
– Precisam de areia para a outra banda; precisam de areia para as praias da vila… porque não vêm buscá-la aqui? Quanto maior for a duna, mais a areia avança!...
Acho que o meu amigo tem razão.
Publicado no Jornal de Cascais, nº 250, 19-01-2011, p. 6.
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