Cerimónia solene do Dia de Camões, de Portugal e das Comunidades, numa vila piscatória. Apresentaram-se bandas a fazer a guarda de honra; içou-se a bandeira, depositaram-se coroas de flores na estátua do Épico; um actor foi à varanda dos Paços do Concelho e disse as primeiras oitavas d’Os Lusíadas… Entre os assistentes, o Augusto, em mangas de camisa. Uma camisa axadrezada, que, de repente, até fazia lembrar as típicas, de flanela, dos pescadores. Por isso, o Silvino, seu amigo, lhe disse, ao cumprimentá-lo:
‒ Óptimo ver-te aqui, Amigo! E com camisa à maneira dos pescadores, mesmo a condizer, sim, senhor!
Terminada a cerimónia, já sem individualidades por perto, o Augusto veio sorrateiramente até junto do Silvino e explicou-lhe, com ar muito sério e em tom quase recriminatório:
‒ Pode ser parecida com a dos pescadores, pode, mas é de marca, fica sabendo!
‒ Claro, homem! Foi uma brincadeira minha, não ligues!
E ficou pasmado! Como é que uma pessoa, de alguma cultura até, se podia sentir ofendida por terem confundido a sua ‘camisa de marca’ com a dos pescadores locais!...
Para mim, que sou pelo «património do vestir», tem mais valor a do pescador do que a de marca – que se enverga aqui, em Nova Iorque e na Cochinchina!...
Publicado em VilAdentro [S. Brás de Alportel], nº 153 (Outubro 2011), p. 10.
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