– Ora lá vens tu com mais uma invenção de gavetas!... A expressão era utilizada quando alguém se armava em esperto e apresentava, para resolução de uma situação, um projecto que, vindo de quem vinha, por ser useiro e vezeiro nesse tipo de sugestões, não teria qualquer viabilidade prática.
Não sei donde terá origem a expressão. ‘Invenção’ detém, aqui, o seu sentido mais popular de «fantasia imaginada com astúcia»; por seu turno, a referência a gavetas estará, sem dúvida, relacionada com o hábito de se usarem gavetas falsas ou múltiplas para melhor se guardarem tesouros ou jóias. Recorde-se como se apresentam cheios de pequenas gavetas os contadores indo-portugueses, algumas delas fingidas e, por isso, aparentemente desnecessárias, servindo, porém, como embuste para atrapalhar ladroagem!... Lembro também o hábito do segundo quartel do século XX de, no quarto de vestir das senhoras nobres ou da alta burguesia, existirem móveis cheios de gavetas, cada uma com sua etiqueta… o cúmulo da arrumação!
Penso, pois, que essa referência algarvia a algo de irrealista, saído de mente fecunda em ideias estapafúrdias – essa ‘invenção de gavetas’… – terá a ver com a abundância de gavetas no mobiliário, incompreensível para o comum dos mortais…
Publicado no mensário VilAdentro [S. Brás de Alportel], nº 155 (Dezembro 2011) p. 10.
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