Dei comigo a dizer a frase e
senti-me rural; ou seja, há ‘séculos’ que não a ouvia e isso me fez voltar ao
tempo em que meus pais tinham capoeira e eu ia todos os dias espreitar a cesta,
‘a ver se havia ovo’; e, por outro lado, lembrou-me a deliciosa cena de sentir
os pintainhos a começarem a piar ainda dentro da casca, a tentarem parti-la com
o frágil biquinho, a mãe galinha a ajudar e nós próprios, com muito jeitinho, a
facilitar-lhes a vinda a este mundo.
E atente i
no «goro». É adjectivo derivado de «gorar», falhar; mas o mais curioso é que
não há meio de se descobrir donde é que a palavra veio! Uns dizem que o verbo gorare terá existido no latim da
Península Ibérica, formado a partir de um radical celta «gor», com significado
de ‘quente’; outros apontam, dubitativamente, um étimo grego: ourios, que tem, por sinal, sentido
exactamente contrário: «favorável»; outros, ainda, filiam-no no adjectivo
latino orbus, que quer dizer «privado
dos pais» ou… dos filhos!
Pela minha parte, inclino-me mais
para essa questão da temperatura, não só porque o «gorar-se» está muito
relacionado com variações térmicas, mas também porque, na realidade, essa
aproximação com uma etimologia indo-europeia
não é desprovida de solidez. Assim, a propósito da divindade ‘termal’ Bormanicus, escreveu Juan José Moralejo
que a palavra galega e portuguesa goro
(em castellano, ‘huero’) documenta
bem a existência, nas línguas românicas, de um substrato céltico, a partir de *ghwor- > *gwor- (estranhas
formas de tentar grafar sons bem antigos, digo eu!...).
Publicado em VilAdentro [S. Brás de Alportel] nº 177, Outubro de 2013, p. 10.
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