Tiveram guarnição a maior parte
desses fortes e baluartes precisamente até às Guerras Peninsulares, pois não
poderemos esquecer que Junot se aquartelou em Cascais e nessa vila terá
assinado, em 1807, a
chamada Convenção de Sintra, após a 1ª invasão.
Depois,
pouco a pouco, deixaram essas fortificações de ter sentido do ponto de vista da
estratégia militar; aparecerão outros conceitos de artilharia antiaérea e de
costa e, por isso, usos diferentes se deram a esses imóveis e boa parte passou,
mercê da assinatura de protocolos, para a responsabilidade municipal. Um vai
ser Centro de Interpretação da Natureza e Centro para a Juventude; outro
transformou-se em estalagem; um outro em hotel da ‘cadeia’ «Relais et
Chateaux»; há um laboratório marítimo para pesquisas no plâncton; noutro
funciona a Capitania do Porto; temos dois museus, uma futura casa de chá, uma
colónia de férias…
Enfim, toda
uma panóplia de soluções, desde as faldas da Serra de Sintra até Carcavelos.
Detenhamo-nos
apenas sobre uma, decerto a menos conhecida da população: o Forte de Nª Sr.ª da Guia, também conhecido como «Baluarte da Lajem do Ramil», por se situar perto
da laje, por onde, a 30 de Julho de 1580, as tropas do Duque de Alba desembarcaram
e iniciaram a tomada do nosso País. Um dos fortes da série construída logo após
a revolução do 1º de Dezembro de 1640, no intuito de defender a capital de possíveis
novas arremetidas, agora das tropas de Filipe IV: começou a ser edificado a 20
de Junho de 1642.
Aí
funciona o que primeiro se chamou o Laboratório Marítimo do Museu Bocage, da
Faculdade de Ciências de Lisboa. É, desde o ano lectivo de 1974-1975, uma importante
«unidade de investigação e ensino vocacionada para as ciências e tecnologias do
mar» e, simultaneamente, desde Julho de 1998, uma unidade do Instituto do Mar
(IMAR), instituição privada sem fins lucrativos. As disciplinas aí estudadas
prendem-se com a Biologia Marinha, a Oceanografia Biológica, a Ictiologia, os Sistemas
Estuarinos… E os temas das seis linhas de investigação ora em curso no
Laboratório são os seguintes:
1) Ecologia
costeira, biodiversidade e mudanças climáticas globais;
2) Ordenamento
litoral, detecção remota e Sistema de Informação Geográfica;
3) Variabilidade
do recrutamento de pequenos peixes pelágicos;
4) Ecologia
das fontes hidrotermais (domínio profundo marinho);
5) Ecologia
de ecossistemas costeiros tropicais;
6) Aquacultura
(manipulação de reprodutores e qualidade de ovos e de larvas).
Cá está, por conseguinte, um dos
usos a que se prestou uma fortaleza da orla marítima cascalense, a mostrar bem
como, afinal, estes importantes vestígios do passado, perdida a oportunidade da
função para que foram levantados, podem continuar a ser – e são-no! – espaços
com vida!
Publicado em Costa do
Sol – Jornal Regional dos Concelhos de Oeiras e Cascais, nº 17, 09-10-2013,
p. 13.
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