sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Fortes da orla marítima cascalense – Espaços com vida!

            Guarda a orla marítima cascalense um conjunto de fortalezas que remontam ao tempo das Guerras da Restauração. Na verdade, tendo sido por Cascais que o inimigo invadira Portugal em 1580, importou desde logo, após 1640, reforçar por completo essa defesa, que outra não era que a defesa do estuário do Tejo e, consequentemente, a da capital.
Tiveram guarnição a maior parte desses fortes e baluartes precisamente até às Guerras Peninsulares, pois não poderemos esquecer que Junot se aquartelou em Cascais e nessa vila terá assinado, em 1807, a chamada Convenção de Sintra, após a 1ª invasão.
            Depois, pouco a pouco, deixaram essas fortificações de ter sentido do ponto de vista da estratégia militar; aparecerão outros conceitos de artilharia antiaérea e de costa e, por isso, usos diferentes se deram a esses imóveis e boa parte passou, mercê da assinatura de protocolos, para a responsabilidade municipal. Um vai ser Centro de Interpretação da Natureza e Centro para a Juventude; outro transformou-se em estalagem; um outro em hotel da ‘cadeia’ «Relais et Chateaux»; há um laboratório marítimo para pesquisas no plâncton; noutro funciona a Capitania do Porto; temos dois museus, uma futura casa de chá, uma colónia de férias…
            Enfim, toda uma panóplia de soluções, desde as faldas da Serra de Sintra até Carcavelos.
            Detenhamo-nos apenas sobre uma, decerto a menos conhecida da população: o Forte de Nª  Sr.ª da Guia, também conhecido como «Baluarte da Lajem do Ramil», por se situar perto da laje, por onde, a 30 de Julho de 1580, as tropas do Duque de Alba desembarcaram e iniciaram a tomada do nosso País. Um dos fortes da série construída logo após a revolução do 1º de Dezembro de 1640, no intuito de defender a capital de possíveis novas arremetidas, agora das tropas de Filipe IV: começou a ser edificado a 20 de Junho de 1642.
            Aí funciona o que primeiro se chamou o Laboratório Marítimo do Museu Bocage, da Faculdade de Ciências de Lisboa. É, desde o ano lectivo de 1974-1975, uma importante «unidade de investigação e ensino vocacionada para as ciências e tecnologias do mar» e, simultaneamente, desde Julho de 1998, uma unidade do Instituto do Mar (IMAR), instituição privada sem fins lucrativos. As disciplinas aí estudadas prendem-se com a Biologia Marinha, a Oceanografia Biológica, a Ictiologia, os Sistemas Estuarinos… E os temas das seis linhas de investigação ora em curso no Laboratório são os seguintes:
1)      Ecologia costeira, biodiversidade e mudanças climáticas globais;
2)      Ordenamento litoral, detecção remota e Sistema de Informação Geográfica;
3)      Variabilidade do recrutamento de pequenos peixes pelágicos;
4)      Ecologia das fontes hidrotermais (domínio profundo marinho);
5)      Ecologia de ecossistemas costeiros tropicais;
6)      Aquacultura (manipulação de reprodutores e qualidade de ovos e de larvas).
            Cá está, por conseguinte, um dos usos a que se prestou uma fortaleza da orla marítima cascalense, a mostrar bem como, afinal, estes importantes vestígios do passado, perdida a oportunidade da função para que foram levantados, podem continuar a ser – e são-no! – espaços com vida!
 
Publicado em Costa do Sol – Jornal Regional dos Concelhos de Oeiras e Cascais, nº 17, 09-10-2013, p. 13.

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