segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Está um lindo dia para sorrir!

             Para neutralizar a negritude dos noticiários que nos pintam o quotidiano de desgraças, multiplicam-se na Internet as saborosas mensagens a apelar a uma visão mais positiva do tempo que nos é dado viver! Frases lindas, sábias, profundas, integradas sempre nas mais lindas paisagens, nos ângulos mais inesperados e surpreendentes. É um lavar d’alma!
        Não esperava, porém, que, numa área como a da estratégia comercial turística, também a mentalidade estivesse voltada para esse lado emotivo do Homem. E foi o Prof. José Manuel Hernández Mogollón, da Universidade da Extremadura (Cáceres), quem no-lo salientou, na comunicação apresentada, a 1 de Novembro, em Lisboa, no âmbito da Conferência Internacional «Heritage and Cultural Tourism», organizada pelo Departamento de Turismo da Lusófona e pela Progestur.
         Intitulou a sua intervenção «A transformação da indústria do turismo em uma indústria dos viajantes: o turismoslow, a ‘implicação’ e o turismo de experiências como eixos da mudança».
          Referiu-se, claro, ao slowfood e às slowcities, o «comer devagar» e as «cidades desapressadas», um dos meus temas preferidos, até porque S. Brás de Alportel, minha terra natal, cedo aderiu a esse movimento. Motes como vivedespacio, «vive devagar», «o consumo te consome», «o tempo é uma nova ferramenta para a qualidade», «o turismo, uma actividade a consumir com o sorriso», porque, aliás, «dá gozo planear uma viagem!»… acabam por ser, de facto, boas palavras de ordem, consubstanciadas, por exemplo, naquele saco que ostenta o letreiro: «Está hoje um lindo dia para sorrir!».
       É o advento de uma nova mentalidade, baseada no facto, provado, de que o turista recordará vida afora 10% do que ouviu na sua viagem, 30% do que leu sobre os sítios que visitou, 50% do que viu e 90% do que lhe foi dado fazer!
         Palavras como surpresa, participação, brincadeira, gozo e paz de espírito constituem, doravante, verdadeiras pedras de toque a potenciar.
      Muitos de nós começam a recusar-se a ouvir e a ver os noticiários, dada a superior carga negativa a que as concepções actuais da ‘notícia’ obedecem, de acordo com directrizes diligentemente planeadas; e nunca será de mais salientar que, afinal, o que mais se vê e do que mais se fala acabam por ser aquelas cenas de ternura em que, nomeadamente, intervêm animais, a dar – eles, sim! – exemplos deveras cativantes!

             Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 650, 15-11-2014, p. 11.
 
                                                                               José d'Encarnação

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