Amiúde cobertos já por líquenes,
sinal de abandono e desinteresse. Outras vezes, porém, mantêm-se limpos, quiçá
por alguém ter suspeitado do seu interesse histórico, embora pouco ou nada
compreenda do que lá está escrito. É um letreiro antigo, já no tempo do meu avô
eu o via ali, não sei o que significa.
Pelas terras, há marcos com letras.
A maior parte das vezes, só os anciãos se lembram do que essas estranhas siglas
querem dizer. São os nomes dos proprietários e, por vezes, apenas uma pesquisa
nas Finanças locais poderá esclarecer quem foram. Recorde-se, por exemplo, que
os marcos com a sigla V.de espalhados pelo interior do País
resultam da preocupação da Universidade de Coimbra em assinalar essa posse, na
sequência da doação feita pelo Governo central.
Tenho
recebido inúmeros pedidos quer de antigos alunos meus quer de amigos para os
ajudar nessas decifrações. José Carlos Santos, de Moimenta da Beira, tem sido
incansável nesse sentido. Por vezes, logramos decifrar; doutras, não chegamos
lá.
Recorto
dois que nos deram especial contentamento.
O
primeiro é uma placa que se encontra no chão da zona central da capela
seiscentista de Santo António, em Arcos, concelho de Tabuaço, frente ao altar.
Assenta numa espécie de tampa de sepultura; está escrita em Latim e a tradução
é a seguinte:
«Quem, como eu, a este estado
chegar, então a verdade será revelada, amigo!»
Ou
seja, o defunto adverte que, após a morte, tudo se saberá!
O
segundo testemunho é o da placa com inscrição encastrada no muro de suporte de
um fontanário no Largo da Praça, na povoação de Longa, também do concelho de
Tabuaço. De água fresca e cristalina, alimenta-o uma nascente. Igualmente
redigida em língua latina, a inscrição quer dizer em português:
«Pára,
viandante, e bebe o bastante. Que a Natureza te dá abundante água grátis!
1835».
Apetece
completar a mensagem: sacia a tua sede! E agradece o dom gratuito de que
dispões!
Um
diálogo, afinal, tanto numa como noutra das epígrafes.
A
incitar-nos a nunca esquecer uma saudação, no dia-a-dia, àqueles que connosco
se estão a cruzar!...
José d’Encarnação
Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 802, 01-07-2021, p. 12.
E eu saúdo-o por mais esta agradável leitura.
ResponderEliminarResposta bem apanhada, sim, Maria!
EliminarComeço pela lembrança da saudação: nem sempre a faço. A partir da leitura deste texto, vou deixar de lado alguma amargura que no momento interfira com a obrigação de saudar. Depois "Esses letreiros por i perdidos" inscritos na perenidade da pedra. Também eu gostaria de falar com eles (elas) e decifrar a mente de alguém que um dia pensou deixar uma espécie de epitáfio. Mas por agora basta-me ler estes poéticos textos e aprender com o seu autor.
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