Sob o título Passos e “Passas” de uma Vida, publicou José Manuel Azevedo e Silva a sua autobiografia (edição de autor, Coimbra, 2011).
Professor associado com agregação da Faculdade de Letras de Coimbra, onde esteve ligado ao Instituto de História da Expansão, o Doutor Azevedo e Silva jubilou-se a 30 de Maio de 2007, data em que perfez 70 anos, e decidiu passar a letra de forma o que fora o seu percurso. E fez bem.
Primeiro, porque, sendo natural de Tibaldinho (Alcafache, Mangualde), começou por ser agricultor, foi agente da polícia, professor, tocou em bandas, foi bancário e só aos 36 anos entrou na Universidade, tendo feito, portanto, todos os seus estudos a pulso, como trabalhador-estudante. Profetizara-lhe a professora primária (e nunca será de mais repetir a importância que os docentes do Ensino Básico detêm no ‘destino’ dos seus alunos) que ele «iria longe»; e vemo-lo a ingressar, em Abril de 1983 (aos 46 anos!), como assistente estagiário da Faculdade.
Para além deste exemplo de tenacidade, o livro – que tem uma segunda parte com o seu currículo pessoal e académico – explicita miudamente os contextos em que foi a sua vida, pelo que constitui, atendendo às mui pormenorizadas informações que fornece, fecundo manancial para a história local e regional (as famílias, as pessoas, as profissões, o tipo de economia…) e, por isso mesmo, até para a história nacional e das mentalidades, que dessas vivências particulares cronologicamente bem anotadas e geograficamente bem situadas carece de se alimentar. Note-se, por exemplo, que é um jovem de antes do 25 de Abril, cuja vida activa se desenrola já em pleno período revolucionário e pós-revolucionário, com especial destaque para a sua actividade como bancário e sindicalista.
Por todas as circunstâncias que a rodearam, trata-se, pois, de uma vida que poderemos considerar exemplar, tanto do ponto de vista profissional como do ponto de vista psicológico, uma vez que sempre o tem norteado um pensamento positivo, consubstanciado quiçá na devoção ao Anjo da Guarda, presente, aliás, de modo claro em ocasiões-chave da sua vida.
Publicado no quinzenário Renascimento [Mangualde], nº 583, 15-12-2011, p. 13.
quinta-feira, 29 de dezembro de 2011
terça-feira, 27 de dezembro de 2011
Andarilhanças 29
Candeeiros desajustados
Causou admiração e, não se nega, algum mal-estar entre os comerciantes a escolha do modelo de candeeiros ora implantados no topo oriental da Rua Direita e na Rua Sebastião José de Carvalho e Melo, na vila de Cascais.
É que, apesar da modernidade dos seus estabelecimentos, essa zona mantém, do ponto de vista arquitectónico, um cariz vetusto, de linhas tradicionais, que, na verdade, não se compadece com o estilo ultra-moderno, de design, desses candeeiros. Requer-se para ali um tipo de candeeiro com desenho a condizer com o ambiente dos edifícios, para não chocar. Aliás, sempre foi essa uma das preocupações do Município no centro histórico (em que essa zona de pleno direito se inclui) e não se enxerga a razão para tal atropelo agora!
125 anos dos Bombeiros de Cascais
Em singela, mas mui significativa cerimónia, decorreu, no sábado, 17, no Teatro Gil Vicente, em Cascais, a entrega de emblemas aos sócios com 50 e 25 anos de membros desta Associação Humanitária.
Aproveitou-se a oportunidade para apresentar o livro Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Cascasse – 125 Anos ao Serviço da População, da autoria de Manuel Eugénio Fernandes da Silva.
Mais de 420 páginas, ilustradas e densas de informação acerca do que tem sido o percurso da instituição. A obra assume-se, pois, como uma reedição, corrigida e aumentada, da anterior, referente aos cem anos, datada de 1986, a que se acrescentaram as efemérides e dados relevantes até ao mês de Outubro passado. Mais actual não seria, pois, de esperar.
Uma narrativa pormenorizada, fecundo manancial para a história local, em que se não esquece o registo dos nomes de quantos têm contribuído para fazer singrar a Associação, nas mais diversas actividades (não é esquecido o brilhante desempenho do Grupo Cénico, por exemplo), assim como o Corpo de Bombeiros no seu constnate e abnegado papel de socorro e assistência à população.
Rama da Silva, presidente da direcção, para além das palavras de circunstância obrigatórias em tão lustroso acto, não quis deixar de referir que se espera para muito breve a inauguração das piscinas, que vão estar ao serviço não apenas dos sócios mas de toda a população.
Senhora da Boa Nova
O serviço da Câmara Municipal de Cascais que mais dificuldade tem em organizar-se é o que superintende na colocação de placas identificativas. Uma tarefa, aliás, que não é fácil, porque requer estudo, investigação não apenas nos documentos mas também no terreno; e nem sempre os responsáveis disso se aperceberão – e é pena! – mormente porque não estarão atentos ao que se escreve na Comunicação Social local, que não é assim tanta como isso e, de resto, mandam as boas práticas, em que a Câmara de Cascais sempre deu exemplo, até há um serviço de recortes que tem o cuidado de diligenciar no sentido de a informação acerca de anomalias identificadas chegarem a quem lhes pode dar remédio.
Não, não vale a pena falar das placas a identificar Pampilheira (e terminamos mais um ano, sem que se tenha encontrado disponibilidade para esse efeito) ou daquela que, frente à Clínica CUF, indica ‘beco sem saída’ numa rua que não é beco e que tem saída!... Refiro-me, agora, pela segunda ou terceira vez, à identificação do auditório da Senhora da Boa Nova na Galiza, onde se têm desenvolvido publicitadas actividades, designadamente na quadra natalícia. Está a placa direccional em S. João do Estoril e na grande rotunda à saída da auto-estrada; mas na rotunda junto ao auditório nada há, de forma que, se não se descobre o minúsculo letreiro por cima de uma porta lateral do templo, vai-se em frente e… cadê o auditório?
O mesmo se diga em relação ao lugar da Areia. Há, decerto, má vontade por parte de algum funcionário contra este simpático lugar, só pode ser! Onde é que há aí uma placa que indique a quem vem da auto-estrada ou da vila qual é a direcção a seguir? Não pensaram assim, na primeira metade do século XX, os senhores do Automóvel Clube de Portugal que inseriram o nome da localidade em lugar de destaque na parede da capela de S. Brás; mas esses senhores andavam pelas estradas e isso faz toda a diferença!
[Publicado no Jornal de Cascais, nº 295, 21-12-2011, p. 4.
Causou admiração e, não se nega, algum mal-estar entre os comerciantes a escolha do modelo de candeeiros ora implantados no topo oriental da Rua Direita e na Rua Sebastião José de Carvalho e Melo, na vila de Cascais.
É que, apesar da modernidade dos seus estabelecimentos, essa zona mantém, do ponto de vista arquitectónico, um cariz vetusto, de linhas tradicionais, que, na verdade, não se compadece com o estilo ultra-moderno, de design, desses candeeiros. Requer-se para ali um tipo de candeeiro com desenho a condizer com o ambiente dos edifícios, para não chocar. Aliás, sempre foi essa uma das preocupações do Município no centro histórico (em que essa zona de pleno direito se inclui) e não se enxerga a razão para tal atropelo agora!
125 anos dos Bombeiros de Cascais
Em singela, mas mui significativa cerimónia, decorreu, no sábado, 17, no Teatro Gil Vicente, em Cascais, a entrega de emblemas aos sócios com 50 e 25 anos de membros desta Associação Humanitária.
Aproveitou-se a oportunidade para apresentar o livro Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Cascasse – 125 Anos ao Serviço da População, da autoria de Manuel Eugénio Fernandes da Silva.
Mais de 420 páginas, ilustradas e densas de informação acerca do que tem sido o percurso da instituição. A obra assume-se, pois, como uma reedição, corrigida e aumentada, da anterior, referente aos cem anos, datada de 1986, a que se acrescentaram as efemérides e dados relevantes até ao mês de Outubro passado. Mais actual não seria, pois, de esperar.
Uma narrativa pormenorizada, fecundo manancial para a história local, em que se não esquece o registo dos nomes de quantos têm contribuído para fazer singrar a Associação, nas mais diversas actividades (não é esquecido o brilhante desempenho do Grupo Cénico, por exemplo), assim como o Corpo de Bombeiros no seu constnate e abnegado papel de socorro e assistência à população.
Rama da Silva, presidente da direcção, para além das palavras de circunstância obrigatórias em tão lustroso acto, não quis deixar de referir que se espera para muito breve a inauguração das piscinas, que vão estar ao serviço não apenas dos sócios mas de toda a população.
Senhora da Boa Nova
O serviço da Câmara Municipal de Cascais que mais dificuldade tem em organizar-se é o que superintende na colocação de placas identificativas. Uma tarefa, aliás, que não é fácil, porque requer estudo, investigação não apenas nos documentos mas também no terreno; e nem sempre os responsáveis disso se aperceberão – e é pena! – mormente porque não estarão atentos ao que se escreve na Comunicação Social local, que não é assim tanta como isso e, de resto, mandam as boas práticas, em que a Câmara de Cascais sempre deu exemplo, até há um serviço de recortes que tem o cuidado de diligenciar no sentido de a informação acerca de anomalias identificadas chegarem a quem lhes pode dar remédio.
Não, não vale a pena falar das placas a identificar Pampilheira (e terminamos mais um ano, sem que se tenha encontrado disponibilidade para esse efeito) ou daquela que, frente à Clínica CUF, indica ‘beco sem saída’ numa rua que não é beco e que tem saída!... Refiro-me, agora, pela segunda ou terceira vez, à identificação do auditório da Senhora da Boa Nova na Galiza, onde se têm desenvolvido publicitadas actividades, designadamente na quadra natalícia. Está a placa direccional em S. João do Estoril e na grande rotunda à saída da auto-estrada; mas na rotunda junto ao auditório nada há, de forma que, se não se descobre o minúsculo letreiro por cima de uma porta lateral do templo, vai-se em frente e… cadê o auditório?
O mesmo se diga em relação ao lugar da Areia. Há, decerto, má vontade por parte de algum funcionário contra este simpático lugar, só pode ser! Onde é que há aí uma placa que indique a quem vem da auto-estrada ou da vila qual é a direcção a seguir? Não pensaram assim, na primeira metade do século XX, os senhores do Automóvel Clube de Portugal que inseriram o nome da localidade em lugar de destaque na parede da capela de S. Brás; mas esses senhores andavam pelas estradas e isso faz toda a diferença!
[Publicado no Jornal de Cascais, nº 295, 21-12-2011, p. 4.
A singularidade do «Lugar ao Sul»
Na sua coluna «Coisas e Loisas» da edição de Setembro de Noticias de S. Braz, evocou J. P. da Cruz o programa da Antena 1 «Lugar ao Sul», de Rafael Correia:
«Com o gravador ao ombro, percorria todo o interior algarvio e o Baixo Alentejo para entrevistar gente castiça, com talentos diversos: poetas populares, contadores de histórias, artesãos e até experiências de vida».
Confessa J. P. da Cruz que era «um ouvinte fanático». Eram, de facto, muitos milhares esses ‘fanáticos’, que viam nesse programa algo de muito diferente do que se fazia em rádio, mormente porque assim se dava voz a um Portugal profundo, lídimo, muito nosso, e se registavam dados que, doutra forma, definitivamente se perderiam na noite dos tempos.
Alcançada a idade da reforma, Rafael Correia largou tudo da mão, fugiu do mundo e, por mais que o tentássemos convencer a manter-se por mais uns tempos – no que a administração da RDP acabou por não ver inconveniente, tanta foi a pressão feita nesse sentido – Rafael Correia não se deixou demover.
Criou-se, na altura, na Internet um grupo de pressão, ainda hoje activo, liderado pelo incansável dinamismo de Álvaro José Ferreira, os Amigos do Lugar ao Sul – http://groups.google.com/group/lugar-ao-sul –, que lutou sem tréguas para que tão singular repertório não só não se perdesse como voltasse à antena. Luta que tem tido altos e baixos, porque nem todos os responsáveis da RDP compreendem o interesse do programa e, se calhar, urbanos como são na sua quase totalidade, irritam-se ao ouvir falar algarvio e alentejano; não compreendem o valor da poesia popular; não imaginam o que é contar em verso a história de Portugal nem como é delicioso manjar o doce caseiro feito pela Ti Marquinhas em aldeia perdida nas dobras da Serra do Caldeirão...
Conseguiu-se que, em repetição, o programa voltasse para o ar. Nem sempre a horas próprias para consumo (dantes, era pelas manhãs de sábado e regalávamo-nos com esse genuíno começo de fim-de-semana), mas… está de novo no ar, a partir das 7 horas de sábado! E pode ser ouvido também na página da RDP na Internet.
Estamos satisfeitos por a batalha ter sido ganha e consola ler o comentário de Adelino Gomes – que, enquanto Provedor do Ouvinte, cedo se apercebeu, pelas constantes mensagens que recebia, do interesse deste «prazer da conversa com Rafael Correia» – inserto nessa página da RDP:
«O mais belo programa da rádio jamais feito sobre a terra, as gentes, os costumes, a cultura do sul do continente português».
[Publicado em Notícias de S. Braz (S. Brás de Alportel), nº 181, 15 de Dezembro de 2011, p. 14].
«Com o gravador ao ombro, percorria todo o interior algarvio e o Baixo Alentejo para entrevistar gente castiça, com talentos diversos: poetas populares, contadores de histórias, artesãos e até experiências de vida».
Confessa J. P. da Cruz que era «um ouvinte fanático». Eram, de facto, muitos milhares esses ‘fanáticos’, que viam nesse programa algo de muito diferente do que se fazia em rádio, mormente porque assim se dava voz a um Portugal profundo, lídimo, muito nosso, e se registavam dados que, doutra forma, definitivamente se perderiam na noite dos tempos.
Alcançada a idade da reforma, Rafael Correia largou tudo da mão, fugiu do mundo e, por mais que o tentássemos convencer a manter-se por mais uns tempos – no que a administração da RDP acabou por não ver inconveniente, tanta foi a pressão feita nesse sentido – Rafael Correia não se deixou demover.
Criou-se, na altura, na Internet um grupo de pressão, ainda hoje activo, liderado pelo incansável dinamismo de Álvaro José Ferreira, os Amigos do Lugar ao Sul – http://groups.google.com/group/lugar-ao-sul –, que lutou sem tréguas para que tão singular repertório não só não se perdesse como voltasse à antena. Luta que tem tido altos e baixos, porque nem todos os responsáveis da RDP compreendem o interesse do programa e, se calhar, urbanos como são na sua quase totalidade, irritam-se ao ouvir falar algarvio e alentejano; não compreendem o valor da poesia popular; não imaginam o que é contar em verso a história de Portugal nem como é delicioso manjar o doce caseiro feito pela Ti Marquinhas em aldeia perdida nas dobras da Serra do Caldeirão...
Conseguiu-se que, em repetição, o programa voltasse para o ar. Nem sempre a horas próprias para consumo (dantes, era pelas manhãs de sábado e regalávamo-nos com esse genuíno começo de fim-de-semana), mas… está de novo no ar, a partir das 7 horas de sábado! E pode ser ouvido também na página da RDP na Internet.
Estamos satisfeitos por a batalha ter sido ganha e consola ler o comentário de Adelino Gomes – que, enquanto Provedor do Ouvinte, cedo se apercebeu, pelas constantes mensagens que recebia, do interesse deste «prazer da conversa com Rafael Correia» – inserto nessa página da RDP:
«O mais belo programa da rádio jamais feito sobre a terra, as gentes, os costumes, a cultura do sul do continente português».
[Publicado em Notícias de S. Braz (S. Brás de Alportel), nº 181, 15 de Dezembro de 2011, p. 14].
domingo, 18 de dezembro de 2011
Heroísmo português no Brasil guarda-se no Museu do Mar
Teve despretensioso e anódino título, «Doação de artefacto de história marítima ao Museu do Mar Rei D. Carlos», a proposta nº 965/2011, apresentada pela Senhora Vereadora da Cultura na reunião camarária de 3 de Outubro, p. p.
Inserem-se os considerandos no estilo habitual de propostas congéneres: é vocação deste museu contribuir, inclusive mediante o enriquecimento das suas colecções, para documentar o que foi a gesta marítima nacional; por isso, a proposta ia no sentido de se «aceitar a doação de Maria Leonor Vieira de Novais e Castilho Monteiro, constituída por uma placa de agradecimento oferecida em 1898, por cidadãos brasileiros e portugueses de S. Paulo ao comandante português Augusto de Castilho, pelo seu papel na revolta da armada brasileira de 1894».
Não consta que tenham sido feitos quaisquer comentários durante a reunião, pensando os mui dignos vereadores que se tratava de mais uma das muitas doações que felizmente se destinam àquele museu, repositório da nossa tradição de pescadores e mareantes. Foi, por isso, aprovada, sem mais, por unanimidade. Decerto a algum o nome Augusto de Castilho não terá soado a desconhecido, por ser nome de arruamentos, aqui e além, na zona da Grande Lisboa, ou por ter havido uma corveta da Armada Portuguesa baptizada com esse nome…
Não se trata, porém, de uma doação vulgar.
O gesto heróico
A preciosa placa, oferecida ao Museu do Mar por uma sobrinha do homenageado, através da intervenção directa de um dos sócios do Grupo de Amigos, explicita, na inscrição junto ao anagrama de Augusto de Castilho (Augusto Vidal de Castilho Barreto e Noronha, de seu nome completo, nascido em Lisboa a 10 de Outubro de 1841, cidade onde viria a falecer a 30 de Março de 1912):
«Heróico comandante da Mindelo e da Affonso de Albuquerque em 1894 nas águas do Rio de Janeiro. Homenagem de Brasileiros e Portuguezes residentes em S. Paulo. 6-12-98».
Que se passou, então, com este brioso militar da Marinha Portuguesa?
Nesse ano de 1894, comandava Augusto de Castilho esses dois vasos de guerra, ancorados no porto do Rio de Janeiro, quando rebentou a rebelião no seio da esquadra brasileira contra o governo de Floriano Peixoto, que instalara a República. Uma revolta que motivou intensa actividade diplomática, gerida de modo especial pelo Conde de Paço d’Arcos, Carlos Eugénio Correia da Silva, o primeiro diplomata português nesse Brasil recém-republicano, uma vez que os portugueses foram de imediato considerados apoiantes dos revoltosos monárquicos e conservadores.
Esmagada a revolta, 493 brasileiros, incluindo cerca de 70 oficiais e o respectivo cabecilha, o almirante Saldanha da Gama, pediram asilo a bordo. Augusto de Castilho não hesitou em o conceder. E, não obstante os enormes protestos das autoridades brasileiras, que faziam temer o pior, zarpou da Baía de Guanabara e rumou para o Rio da Prata, onde procedeu ao desembarque da quase totalidade dos refugiados.
Tal decisão foi, por conseguinte, muito mal vista pelas autoridades brasileiras; invocou-se violação da soberania; e chegou-se mesmo ao extremo de se concretizar o corte das relações diplomáticas entre os dois países, como o historiador Adelar Heinsfeld muito bem frisou, por ocasião do XXIV Simpósio Nacional de História, que, sob o tema «História e Multidisciplinaridade: territórios e deslocamentos», se reuniu em Julho de 2007, na cidade de São Leopoldo, Rio Grande do Sul (Brasil), na comunicação intitulada "A ruptura diplomática Brasil-Portugal: um aspecto do americanismo do início da República brasileira".
O testemunho no Museu do Mar
Tendo herdado de seus pais esta placa de homenagem e considerando que se tratava de documento a resguardar num museu, Maria Leonor Castilho Monteiro, que tem casa em Cascais, optou, pois, pelo Museu do Mar como destinatário da sua doação.
Trata-se, na verdade, de um testemunho que, ainda que pertença de uma família concreta, acaba por ser de grande significado histórico, que vale também pelo seu carácter invulgar: não vem, decerto, nos livros que esta homenagem fora prestada quatro anos depois, prova de que a coragem do comandante se perpetuou na memória de quantos dela puderam beneficiar.
São gestos como estes que cumpre sublinhar – porque é também para resgatar memórias que existem os museus.
[Publicado no Jornal de Cascais, nº 294, 14-12-2011, p. 6].
Inserem-se os considerandos no estilo habitual de propostas congéneres: é vocação deste museu contribuir, inclusive mediante o enriquecimento das suas colecções, para documentar o que foi a gesta marítima nacional; por isso, a proposta ia no sentido de se «aceitar a doação de Maria Leonor Vieira de Novais e Castilho Monteiro, constituída por uma placa de agradecimento oferecida em 1898, por cidadãos brasileiros e portugueses de S. Paulo ao comandante português Augusto de Castilho, pelo seu papel na revolta da armada brasileira de 1894».
Não consta que tenham sido feitos quaisquer comentários durante a reunião, pensando os mui dignos vereadores que se tratava de mais uma das muitas doações que felizmente se destinam àquele museu, repositório da nossa tradição de pescadores e mareantes. Foi, por isso, aprovada, sem mais, por unanimidade. Decerto a algum o nome Augusto de Castilho não terá soado a desconhecido, por ser nome de arruamentos, aqui e além, na zona da Grande Lisboa, ou por ter havido uma corveta da Armada Portuguesa baptizada com esse nome…
Não se trata, porém, de uma doação vulgar.
O gesto heróico
A preciosa placa, oferecida ao Museu do Mar por uma sobrinha do homenageado, através da intervenção directa de um dos sócios do Grupo de Amigos, explicita, na inscrição junto ao anagrama de Augusto de Castilho (Augusto Vidal de Castilho Barreto e Noronha, de seu nome completo, nascido em Lisboa a 10 de Outubro de 1841, cidade onde viria a falecer a 30 de Março de 1912):
«Heróico comandante da Mindelo e da Affonso de Albuquerque em 1894 nas águas do Rio de Janeiro. Homenagem de Brasileiros e Portuguezes residentes em S. Paulo. 6-12-98».
Que se passou, então, com este brioso militar da Marinha Portuguesa?
Nesse ano de 1894, comandava Augusto de Castilho esses dois vasos de guerra, ancorados no porto do Rio de Janeiro, quando rebentou a rebelião no seio da esquadra brasileira contra o governo de Floriano Peixoto, que instalara a República. Uma revolta que motivou intensa actividade diplomática, gerida de modo especial pelo Conde de Paço d’Arcos, Carlos Eugénio Correia da Silva, o primeiro diplomata português nesse Brasil recém-republicano, uma vez que os portugueses foram de imediato considerados apoiantes dos revoltosos monárquicos e conservadores.
Esmagada a revolta, 493 brasileiros, incluindo cerca de 70 oficiais e o respectivo cabecilha, o almirante Saldanha da Gama, pediram asilo a bordo. Augusto de Castilho não hesitou em o conceder. E, não obstante os enormes protestos das autoridades brasileiras, que faziam temer o pior, zarpou da Baía de Guanabara e rumou para o Rio da Prata, onde procedeu ao desembarque da quase totalidade dos refugiados.
Tal decisão foi, por conseguinte, muito mal vista pelas autoridades brasileiras; invocou-se violação da soberania; e chegou-se mesmo ao extremo de se concretizar o corte das relações diplomáticas entre os dois países, como o historiador Adelar Heinsfeld muito bem frisou, por ocasião do XXIV Simpósio Nacional de História, que, sob o tema «História e Multidisciplinaridade: territórios e deslocamentos», se reuniu em Julho de 2007, na cidade de São Leopoldo, Rio Grande do Sul (Brasil), na comunicação intitulada "A ruptura diplomática Brasil-Portugal: um aspecto do americanismo do início da República brasileira".
O testemunho no Museu do Mar
Tendo herdado de seus pais esta placa de homenagem e considerando que se tratava de documento a resguardar num museu, Maria Leonor Castilho Monteiro, que tem casa em Cascais, optou, pois, pelo Museu do Mar como destinatário da sua doação.
Trata-se, na verdade, de um testemunho que, ainda que pertença de uma família concreta, acaba por ser de grande significado histórico, que vale também pelo seu carácter invulgar: não vem, decerto, nos livros que esta homenagem fora prestada quatro anos depois, prova de que a coragem do comandante se perpetuou na memória de quantos dela puderam beneficiar.
São gestos como estes que cumpre sublinhar – porque é também para resgatar memórias que existem os museus.
[Publicado no Jornal de Cascais, nº 294, 14-12-2011, p. 6].
segunda-feira, 12 de dezembro de 2011
Invenções de gavetas
– Ora lá vens tu com mais uma invenção de gavetas!... A expressão era utilizada quando alguém se armava em esperto e apresentava, para resolução de uma situação, um projecto que, vindo de quem vinha, por ser useiro e vezeiro nesse tipo de sugestões, não teria qualquer viabilidade prática.
Não sei donde terá origem a expressão. ‘Invenção’ detém, aqui, o seu sentido mais popular de «fantasia imaginada com astúcia»; por seu turno, a referência a gavetas estará, sem dúvida, relacionada com o hábito de se usarem gavetas falsas ou múltiplas para melhor se guardarem tesouros ou jóias. Recorde-se como se apresentam cheios de pequenas gavetas os contadores indo-portugueses, algumas delas fingidas e, por isso, aparentemente desnecessárias, servindo, porém, como embuste para atrapalhar ladroagem!... Lembro também o hábito do segundo quartel do século XX de, no quarto de vestir das senhoras nobres ou da alta burguesia, existirem móveis cheios de gavetas, cada uma com sua etiqueta… o cúmulo da arrumação!
Penso, pois, que essa referência algarvia a algo de irrealista, saído de mente fecunda em ideias estapafúrdias – essa ‘invenção de gavetas’… – terá a ver com a abundância de gavetas no mobiliário, incompreensível para o comum dos mortais…
Publicado no mensário VilAdentro [S. Brás de Alportel], nº 155 (Dezembro 2011) p. 10.
Não sei donde terá origem a expressão. ‘Invenção’ detém, aqui, o seu sentido mais popular de «fantasia imaginada com astúcia»; por seu turno, a referência a gavetas estará, sem dúvida, relacionada com o hábito de se usarem gavetas falsas ou múltiplas para melhor se guardarem tesouros ou jóias. Recorde-se como se apresentam cheios de pequenas gavetas os contadores indo-portugueses, algumas delas fingidas e, por isso, aparentemente desnecessárias, servindo, porém, como embuste para atrapalhar ladroagem!... Lembro também o hábito do segundo quartel do século XX de, no quarto de vestir das senhoras nobres ou da alta burguesia, existirem móveis cheios de gavetas, cada uma com sua etiqueta… o cúmulo da arrumação!
Penso, pois, que essa referência algarvia a algo de irrealista, saído de mente fecunda em ideias estapafúrdias – essa ‘invenção de gavetas’… – terá a ver com a abundância de gavetas no mobiliário, incompreensível para o comum dos mortais…
Publicado no mensário VilAdentro [S. Brás de Alportel], nº 155 (Dezembro 2011) p. 10.
sábado, 10 de dezembro de 2011
Andarilhanças 27
Toponímia de Carcavelos
Prosseguem Manuel Eugénio e José Ricardo Fialho o projecto de cimentar comunidade, porque ensinar-nos o significado do nome da nossa rua em muito contribui para isso, para até sentirmos mais nosso o arruamento onde vivemos.
Depois de o terem feito em relação a Cascais (2009) e ao Estoril (2010), disponibilizam-nos agora, com o imprescindível apoio da Junta de Freguesia e da Câmara Municipal, Toponímia da Freguesia de Carcavelos (2011). Quase 180 páginas, sempre com ilustrações referentes ao topónimo em análise, que se folheiam com prazer.
Parabéns!
Folhetos de muito louvar
Levei, há dias, um amigo que reside no Brasil a visitar a Casa das Histórias da Paula Rego. Apreciou os desenhos; horrorizou-se com o oratório (essa é, seguramente, a intenção da pintora: horrorizar, mostrando o universo em que se movimenta); deliciou-se com a tapeçaria «Alcácer-Quibir»; celebrou a arquitectura de Souto Moura.
Desanuviámos, depois, na vizinha ecocabana, excelente ideia. E foi a minha vez de apanhar tudo quanto era desdobrável disponível, um mundo de sugestões para… habitar o espaço público!
Alguns dos títulos (certamente outros haverá): Rota das Aldeias (em Sintra e em Cascais), Rota do Cabo Raso, Rota do Litoral do Guincho, Rota das Quintas, Rota dos Capuchos… O objectivo: «Sinta a Natureza»! A iniciativa vem de uma parceria que envolve as câmaras de Sintra e de Cascais (através dos Pelouros do Desporto), o Parque Natural Sintra-Cascais, o Turismo de Portugal e outras entidades.
Aplauda-se a iniciativa!
Ideia, sonho… realidade!
Um bem variegado manto de criatividade aconchegou brilhantemente a cerimónia da inauguração, no passado dia 30, dos novos equipamentos da Cooperativa O Nosso Sonho, em Outeiro de Polima.
Da extrema funcionalidade e modernidade do edifício (creche, infantário e pré-escolar) nem vale a pena escrever: primam pela excelência a que a equipa chefiada pela Dra. Fátima Souto já nos habituou.
Saliente-se, porém, quanto foi prazenteiro para os que pudemos estar presentes sentir o entusiasmo de educadoras e de petizes na apresentação das várias «cenas» com que, ao longo do percurso da visita, deliciadamente nos foram presenteando. E nós deliciadamente saboreámos!
Inundações
Sempre se chamou a atenção para as grandes alterações que a impermeabilização do solo provoca. Há, aliás, obrigatoriedade, para grandes obras, de se fazer a avaliação do impacte ambiental por técnicos especializados (Decreto-lei nº 6/2000, de 3 de Abril).
Terrenos de semeadura sitos na encosta de colinas, se são abundantemente preenchidos por construção, tornam-se canais de escoamento das águas pluviais outrora facilmente absorvidas pelas terras. E como tudo se mantém em declive e a construção desce até ao vale, a velocidade de descarga, aquando de chuvada repentina ou continuada, tem as consequências que bem se conhecem. E… aqui d’el-rei que tenho tudo inundado, máquinas estragadas, mobília sem aproveitamento possível!...
Assim, em Outeiro de Polima, nas traseiras da Saint Dominic’s School.
[Publicado no Jornal de Cascais, nº 293, 07-12-2011, p. 6].
Prosseguem Manuel Eugénio e José Ricardo Fialho o projecto de cimentar comunidade, porque ensinar-nos o significado do nome da nossa rua em muito contribui para isso, para até sentirmos mais nosso o arruamento onde vivemos.
Depois de o terem feito em relação a Cascais (2009) e ao Estoril (2010), disponibilizam-nos agora, com o imprescindível apoio da Junta de Freguesia e da Câmara Municipal, Toponímia da Freguesia de Carcavelos (2011). Quase 180 páginas, sempre com ilustrações referentes ao topónimo em análise, que se folheiam com prazer.
Parabéns!
Folhetos de muito louvar
Levei, há dias, um amigo que reside no Brasil a visitar a Casa das Histórias da Paula Rego. Apreciou os desenhos; horrorizou-se com o oratório (essa é, seguramente, a intenção da pintora: horrorizar, mostrando o universo em que se movimenta); deliciou-se com a tapeçaria «Alcácer-Quibir»; celebrou a arquitectura de Souto Moura.
Desanuviámos, depois, na vizinha ecocabana, excelente ideia. E foi a minha vez de apanhar tudo quanto era desdobrável disponível, um mundo de sugestões para… habitar o espaço público!
Alguns dos títulos (certamente outros haverá): Rota das Aldeias (em Sintra e em Cascais), Rota do Cabo Raso, Rota do Litoral do Guincho, Rota das Quintas, Rota dos Capuchos… O objectivo: «Sinta a Natureza»! A iniciativa vem de uma parceria que envolve as câmaras de Sintra e de Cascais (através dos Pelouros do Desporto), o Parque Natural Sintra-Cascais, o Turismo de Portugal e outras entidades.
Aplauda-se a iniciativa!
Ideia, sonho… realidade!
Um bem variegado manto de criatividade aconchegou brilhantemente a cerimónia da inauguração, no passado dia 30, dos novos equipamentos da Cooperativa O Nosso Sonho, em Outeiro de Polima.
Da extrema funcionalidade e modernidade do edifício (creche, infantário e pré-escolar) nem vale a pena escrever: primam pela excelência a que a equipa chefiada pela Dra. Fátima Souto já nos habituou.
Saliente-se, porém, quanto foi prazenteiro para os que pudemos estar presentes sentir o entusiasmo de educadoras e de petizes na apresentação das várias «cenas» com que, ao longo do percurso da visita, deliciadamente nos foram presenteando. E nós deliciadamente saboreámos!
Inundações
Sempre se chamou a atenção para as grandes alterações que a impermeabilização do solo provoca. Há, aliás, obrigatoriedade, para grandes obras, de se fazer a avaliação do impacte ambiental por técnicos especializados (Decreto-lei nº 6/2000, de 3 de Abril).
Terrenos de semeadura sitos na encosta de colinas, se são abundantemente preenchidos por construção, tornam-se canais de escoamento das águas pluviais outrora facilmente absorvidas pelas terras. E como tudo se mantém em declive e a construção desce até ao vale, a velocidade de descarga, aquando de chuvada repentina ou continuada, tem as consequências que bem se conhecem. E… aqui d’el-rei que tenho tudo inundado, máquinas estragadas, mobília sem aproveitamento possível!...
Assim, em Outeiro de Polima, nas traseiras da Saint Dominic’s School.
[Publicado no Jornal de Cascais, nº 293, 07-12-2011, p. 6].
sábado, 3 de dezembro de 2011
O canastrão de pisar castanhas
Foi com muito prazer que apresentei, no Dia de S. Martinho, o livro Murmúrios de um tempo… – O objecto etnográfico, repositório de memória, de João Orlindo Marques (Apenas Livros, Lisboa, 2011, ISBN 978-989-628-343-1).Por dois motivos:
Prende-se o primeiro com o local da cerimónia: o Centro das Artes Culinárias, sediado no Mercado de Santa Clara, em Lisboa. O antigo mercado, sito junto ao largo da vetusta Feira da Ladra, foi recuperado na sua estrutura de ferro forjado e nele funciona agora este Centro, repositório de uma colecção de quase 4000 objectos «relacionados com as artes culinárias de vários locais, épocas e estilos, do mais modesto ao mais sofisticado, da arte popular ao design, da cozinha rural à cozinha burguesa, do passado mais ao menos longínquo ao presente».
Ambiente de todo oportuno, portanto – e este é o segundo motivo –, para aí se dar conta de como singelo canastrão de pisar castanhas, usado na aldeia de Balocas, perdida nas dobras da Estrela, freguesia de Vide (Seia), pode ser um bom pretexto para, em livro, se fazer ressuscitar todo um quotidiano, o ciclo anual na vida de uma comunidade.
Não são, pois, inúteis esses objectos, ainda que eventualmente já fora de uso: constituem memória ou, como reza o título da obra, «murmúrios de um tempo…». Por isso, hoje, dois caminhos temos pela frente: um, a musealização perpetuadora de memórias; outro, a recuperação desses costumes antigos.
Na circunstância, manifestei a opinião de que, perante o caos em que o desenfreado capitalismo nos atolou, não se me afigurava nada impossível um cada vez maior retorno aos campos, à lavoura, à riqueza abandonada por quantos, nas últimas décadas, sonharam vir a usufruir, nos meios urbanos do litoral, de condições de vida sadia e venturosa. Desenganados estamos! E a recuperação de casas, de terras agrícolas outrora úberes, poderá ser, na verdade, inevitável e mui salutar caminho a seguir!
Por isso, falar, em plena cidade e no Dia de S. Martinho, do canastrão de pisar castanhas… teve sabor especial!
Publicado no quinzenário Renascimento [Mangualde], nº 582, 01-12-2011, p. 13.
Prende-se o primeiro com o local da cerimónia: o Centro das Artes Culinárias, sediado no Mercado de Santa Clara, em Lisboa. O antigo mercado, sito junto ao largo da vetusta Feira da Ladra, foi recuperado na sua estrutura de ferro forjado e nele funciona agora este Centro, repositório de uma colecção de quase 4000 objectos «relacionados com as artes culinárias de vários locais, épocas e estilos, do mais modesto ao mais sofisticado, da arte popular ao design, da cozinha rural à cozinha burguesa, do passado mais ao menos longínquo ao presente».
Ambiente de todo oportuno, portanto – e este é o segundo motivo –, para aí se dar conta de como singelo canastrão de pisar castanhas, usado na aldeia de Balocas, perdida nas dobras da Estrela, freguesia de Vide (Seia), pode ser um bom pretexto para, em livro, se fazer ressuscitar todo um quotidiano, o ciclo anual na vida de uma comunidade.
Não são, pois, inúteis esses objectos, ainda que eventualmente já fora de uso: constituem memória ou, como reza o título da obra, «murmúrios de um tempo…». Por isso, hoje, dois caminhos temos pela frente: um, a musealização perpetuadora de memórias; outro, a recuperação desses costumes antigos.
Na circunstância, manifestei a opinião de que, perante o caos em que o desenfreado capitalismo nos atolou, não se me afigurava nada impossível um cada vez maior retorno aos campos, à lavoura, à riqueza abandonada por quantos, nas últimas décadas, sonharam vir a usufruir, nos meios urbanos do litoral, de condições de vida sadia e venturosa. Desenganados estamos! E a recuperação de casas, de terras agrícolas outrora úberes, poderá ser, na verdade, inevitável e mui salutar caminho a seguir!
Por isso, falar, em plena cidade e no Dia de S. Martinho, do canastrão de pisar castanhas… teve sabor especial!
Publicado no quinzenário Renascimento [Mangualde], nº 582, 01-12-2011, p. 13.
Andarilhanças 26
Iluminações
O minitornado que, no dia 22, se abateu sobre o vale do Rio dos Mochos, desde a Pampilheira até ao Parque Marechal Carmona, arrancando árvores pela raiz, poupou a zona da vila onde se haviam instalado as singelas, mas sugestivas, iluminações de Natal.
Em tudo o que é iniciativa, agora se pensa na forma de melhor servir com menos dispêndio, e a sobriedade por que, neste domínio, se optou mercê encómios. O presépio, a dar as boas-vindas na rotunda, gesto que aos Rotários se deve, fica bem ali, amparado pelos pinheiros mansos já crescidinhos. E a cónica árvore de Natal eléctrica, no alinhamento da alameda e a saudar os pescadores também colhe simpatia.
Parques de estacionamento
Informou o Município que, em virtude da quadra natalícia e durante ela, os parques de estacionamento de superfície, concessionados, passam a ser gratuitos ao fim-de-semana. Atitude de louvar. Perguntaria, porém, se – depois de meses sem terem lucro e às moscas – os dois parques geridos pela ESUC não poderiam vir a ter novos preçários. Quando se pensou num e noutro, apressei-me a sugerir à Presidência da Câmara que optasse por considerar gratuita a primeira hora ou, até, as duas primeiras horas, atendendo aos objectivos a atingir: no do Parque Palmela, facilitar o usufruto do paredão; no do Parque Marechal Carmona, facilitar o usufruto desse parque e servir de apoio a dois museus, o do Mar e a Casa das Histórias. Volto a fazer a sugestão.
Aliás, também não compreendo por que razão não haverá para os funcionários camarários uma… ‘atenção’. Eu sei: se começarmos a fazer excepções… Compreendo. Mas não costuma dizer-se que, muitas vezes, importa dar um passo atrás para que se possam dar dois em frente? Ponham os olhos no parque junto à estação do caminho-de-ferro de Cascais! O agradável desconto para quem utiliza o comboio faz com que o parque esteja sempre bem recheado de viaturas!
Palácio da Cidadela
Ainda me não foi possível revisitá-lo após as obras de restauro, que tive, no entanto, ocasião de observar quando iam sensivelmente a meio. Aplaudo a abertura ao público, como já aplaudira, na década de 80, a sua utilização parcial para fins culturais e aí se fez, por exemplo, em Agosto de 1986, a exposição «Cascais ao tempo dos Romanos».
Primeira fase, portanto, do amplo projecto, que é o de proporcionar à população cascalense o usufruto de imóveis com enorme potencial histórico e que, abandonados, corriam sério risco de mais debilitarem as nossas frágeis finanças. Assim se pode conviver com a História e assim se vai compondo o ramalhete cultural dessa nova centralidade cascalense onde a Cultura (com maiúscula) é rainha: o Centro Cultural, o Museu do Mar, a Casa das Histórias, o Condes de Castro Guimarães, a Casa de Santa Maria e o Museu dos Faróis.
Falta a recuperação da Casa Sommer. Oxalá se consigam verbas para que nela se instale, como anunciado, o excelente e bem organizado Arquivo Municipal. Claro que já não luto pelo Museu da História de Cascais, depois de tantas vezes anunciado, quer com o nome de Museu de Arqueologia quer sob a designação de Museu da História local. Pugnei para que, num recanto do vasto espaço do quartel, houvesse um apontamento que fosse sobre a memória do sítio e se aproveitasse o ensejo para dar uma ideia, mesmo pálida, do que fora o passado cascalense. Não venci essa batalha e não fui só eu quem ficou a perder.
Também este vai abaixo!
Não é notícia oficial, ainda que possa, um dia, ter sido já sussurrada antes da ordem do dia ou mesmo no decorrer de uma sessão do Executivo camarário. O certo é que se torna, cada dia que passa, mais provável que o edifício de super-esquadra da PSP, localizado em cima do passeio da Adelino Amaro da Costa e obra de um arquitecto de nomeada, vá mesmo abaixo, não só porque não haverá dinheiro para obras como, ao que parece, outras hipóteses de instalação da PSP podem estar no horizonte, mais viáveis e menos dispendiosas.
A título de exemplo, e só para se acrescentar mais um dado à história do imóvel, o Sr. Presidente da Câmara Dr. António Capucho afirmou, no período antes da ordem do dia da reunião camarária de 2 de Dezembro de 2009 (há dois anos, portanto), que fora «também informado pelo Senhor Ministro que a obra da Esquadra da PSP de Cascais está parada porque o empreiteiro faliu, o que obriga a recomeçar de novo todo o procedimento concursal para terminar esta obra». Atendendo a isso, iria «colocar de novo esta questão junto do Senhor Ministro porque essa informação é contradit6ria com a que ele lhe havia transmitido há uns meses atrás em audiência que teve». E a informação anterior era precisamente que adoptariam um procedimento expedito com ajuste directo para concluir a esquadra até Setembro desse ano...
O «também» do título desta nota – assinale-se – prende-se com o facto de, na edição de 27 de Julho, eu ter anunciado que era intenção da Câmara mandar demolir a carcaça do edifício em frente da estação do caminho-de-ferro de Cascais. Ainda lá está.
[Publicado no Jornal de Cascais, nº 292, 30-11-2011, p. 4].
O minitornado que, no dia 22, se abateu sobre o vale do Rio dos Mochos, desde a Pampilheira até ao Parque Marechal Carmona, arrancando árvores pela raiz, poupou a zona da vila onde se haviam instalado as singelas, mas sugestivas, iluminações de Natal.
Em tudo o que é iniciativa, agora se pensa na forma de melhor servir com menos dispêndio, e a sobriedade por que, neste domínio, se optou mercê encómios. O presépio, a dar as boas-vindas na rotunda, gesto que aos Rotários se deve, fica bem ali, amparado pelos pinheiros mansos já crescidinhos. E a cónica árvore de Natal eléctrica, no alinhamento da alameda e a saudar os pescadores também colhe simpatia.
Parques de estacionamento
Informou o Município que, em virtude da quadra natalícia e durante ela, os parques de estacionamento de superfície, concessionados, passam a ser gratuitos ao fim-de-semana. Atitude de louvar. Perguntaria, porém, se – depois de meses sem terem lucro e às moscas – os dois parques geridos pela ESUC não poderiam vir a ter novos preçários. Quando se pensou num e noutro, apressei-me a sugerir à Presidência da Câmara que optasse por considerar gratuita a primeira hora ou, até, as duas primeiras horas, atendendo aos objectivos a atingir: no do Parque Palmela, facilitar o usufruto do paredão; no do Parque Marechal Carmona, facilitar o usufruto desse parque e servir de apoio a dois museus, o do Mar e a Casa das Histórias. Volto a fazer a sugestão.
Aliás, também não compreendo por que razão não haverá para os funcionários camarários uma… ‘atenção’. Eu sei: se começarmos a fazer excepções… Compreendo. Mas não costuma dizer-se que, muitas vezes, importa dar um passo atrás para que se possam dar dois em frente? Ponham os olhos no parque junto à estação do caminho-de-ferro de Cascais! O agradável desconto para quem utiliza o comboio faz com que o parque esteja sempre bem recheado de viaturas!
Palácio da Cidadela
Ainda me não foi possível revisitá-lo após as obras de restauro, que tive, no entanto, ocasião de observar quando iam sensivelmente a meio. Aplaudo a abertura ao público, como já aplaudira, na década de 80, a sua utilização parcial para fins culturais e aí se fez, por exemplo, em Agosto de 1986, a exposição «Cascais ao tempo dos Romanos».
Primeira fase, portanto, do amplo projecto, que é o de proporcionar à população cascalense o usufruto de imóveis com enorme potencial histórico e que, abandonados, corriam sério risco de mais debilitarem as nossas frágeis finanças. Assim se pode conviver com a História e assim se vai compondo o ramalhete cultural dessa nova centralidade cascalense onde a Cultura (com maiúscula) é rainha: o Centro Cultural, o Museu do Mar, a Casa das Histórias, o Condes de Castro Guimarães, a Casa de Santa Maria e o Museu dos Faróis.
Falta a recuperação da Casa Sommer. Oxalá se consigam verbas para que nela se instale, como anunciado, o excelente e bem organizado Arquivo Municipal. Claro que já não luto pelo Museu da História de Cascais, depois de tantas vezes anunciado, quer com o nome de Museu de Arqueologia quer sob a designação de Museu da História local. Pugnei para que, num recanto do vasto espaço do quartel, houvesse um apontamento que fosse sobre a memória do sítio e se aproveitasse o ensejo para dar uma ideia, mesmo pálida, do que fora o passado cascalense. Não venci essa batalha e não fui só eu quem ficou a perder.
Também este vai abaixo!
Não é notícia oficial, ainda que possa, um dia, ter sido já sussurrada antes da ordem do dia ou mesmo no decorrer de uma sessão do Executivo camarário. O certo é que se torna, cada dia que passa, mais provável que o edifício de super-esquadra da PSP, localizado em cima do passeio da Adelino Amaro da Costa e obra de um arquitecto de nomeada, vá mesmo abaixo, não só porque não haverá dinheiro para obras como, ao que parece, outras hipóteses de instalação da PSP podem estar no horizonte, mais viáveis e menos dispendiosas.
A título de exemplo, e só para se acrescentar mais um dado à história do imóvel, o Sr. Presidente da Câmara Dr. António Capucho afirmou, no período antes da ordem do dia da reunião camarária de 2 de Dezembro de 2009 (há dois anos, portanto), que fora «também informado pelo Senhor Ministro que a obra da Esquadra da PSP de Cascais está parada porque o empreiteiro faliu, o que obriga a recomeçar de novo todo o procedimento concursal para terminar esta obra». Atendendo a isso, iria «colocar de novo esta questão junto do Senhor Ministro porque essa informação é contradit6ria com a que ele lhe havia transmitido há uns meses atrás em audiência que teve». E a informação anterior era precisamente que adoptariam um procedimento expedito com ajuste directo para concluir a esquadra até Setembro desse ano...
O «também» do título desta nota – assinale-se – prende-se com o facto de, na edição de 27 de Julho, eu ter anunciado que era intenção da Câmara mandar demolir a carcaça do edifício em frente da estação do caminho-de-ferro de Cascais. Ainda lá está.
[Publicado no Jornal de Cascais, nº 292, 30-11-2011, p. 4].