domingo, 28 de fevereiro de 2010
Homenagem a João Silva Maia
POEMAS DO ESTORIL, de João Silva Maia
Conheço João Silva Maia desde os bancos da Escola Salesiana do Estoril, onde ambos estudámos na década de 50, onde partilhámos ambições e, já nessa altura, fomos adestrados na vontade de pôr os nossos préstimos ao serviço dos outros. Recordas-te, João, que pertencemos à Companhia da Imaculada Conceição, sob a sábia orientação espiritual do Padre Heitor Calovi, recentemente falecido (honra à sua memória!).
Do João recordo – eu era mais puto que ele, apesar de ser mais velho que eu apenas três anos e pico – que pertenceu a essa plêiade de estudantes que, pela primeira vez, se abalançaram a fazer um jornal. Havia também aí o José Luís Encarnação, hoje catedrático jubilado da Universidade de Darmstad, na Alemanha, e uma das maiores sumidades, a nível mundial, no campo da computação gráfica. Desse jornal, saíram uns quantos números – uma lança em África na Escola!... – uma devoção respeitosa de nós, os mais pequenos do 2ºano para com os do 5º, que tão bem sabiam escrever! Fizeram um jornal! Creio, aliás, que este terá sido o embrião do que é hoje o semanário «Jovens» da mesma Escola, a que, mais tarde, o Padre Miguel meteu ombros, nomeadamente para relatar as actividades da sua gloriosa equipa de hóquei, a Juventude Salesiana!
Acabados aí os estudos, seguiu cada qual o seu rumo. O João foi para Económicas e Financeiras, que terminou em 1964, exactamente no ano em que eu entrava em Histórico-Filosóficas, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
Como economista, demandou Angola, Moçambique e, depois de nova passagem por Portugal – o bicho das viagens nunca o largou! –, aí vai o João para o Luxemburgo, onde se mantém até 1986, data em que inicia o seu trabalho de vinte anos (até 2006) no Parlamento Europeu, como economista.
Reencontro-o, pois, esgotados os nossos caminhos por aqui e por ali, de novo no rincão que a nossa meninice e juventude acolhera. Creio que numa iniciativa cultural da Câmara Municipal de Cascais. Reconhecemo-nos (o João manteve sempre o mesmo ar, a mesma fisionomia, a mesma placidez…) e começámos a trocar informações de índole cultural e outra, dando-me ele conta, amiúde, das suas idas aqui e acolá, em passeio ou, por exemplo, em missões de observação eleitoral como delegado da União Europeia. Mandava-me, de quando em vez, os textos que incluía no jornal do Cercle Littéraire des Communautés Européennes, o livro «Se houver porto e houver chegada» e agora este – que me pediu para apresentar, o que muito me honrou, acreditem!
Direi que estamos perante um livro… simbólico.
Primeiro, porque o João quis fosse colocada na 4ª capa uma fotografia: «O autor com a Presidente de um centro de voto no dia das eleições, distrito de Itezhi-Tezhi, Zâmbia, Setembro de 2006». O mesmo ar descontraído, à-vontade, nem dá impressão de que lhe pesa (ou pesou) sobre os ombros bem espinhosa missão. Cá está aquele espírito de serviço de que atrás se falava, haurido, sem dúvida, na Escola Salesiana. Num sorriso!
Depois, o simbolismo da ilustração primeira – a eloquente fachada das cocheiras de Santos Jorge, um património, um património em risco, um património com sugestivas carrancas irónicas e, no cimo, a águia em jeito de se abalançar a voo – ou a ataque sobre incauta presa ao alcance?
Não posso deixar de sublinhar, perdoem-me, que esse foi o simbolismo escolhido para outro livro de poemas, de Maria Amélia Brandão de Azevedo, «Costa do Estoril, Tempo de Poesia», publicado pela Associação Cultural de Cascais, de colaboração com a Junta de Freguesia, em 1993. Aí, deixámos o monumento como fundo e puxámos para primeiro plano a carantonha matreira!...
Acontece, portanto, que são ambos livros de poesia. E ambos encaram o Estoril como fonte de inspiração, dir-se-ia: Maria Amélia Brandão de Azevedo fala em «Tempo de Poesia» e noutro livro chama-lhe mesmo «Paraíso das Musas».
João Silva Maia reuniu aqui trinta e cinco poemas, datados de entre 21 de Dezembro de 2005 e 27 de Maio de 2006. Ontem, numa mensagem por correio electrónico, dizia-me o Autor que, se eu quisesse, o poderia interrogar. E interrogo-o mesmo, porque me dá a impressão de que são estes seis meses como que… o repouso do guerreiro! Acabara as funções no Parlamento Europeu, novas perspectivas poderiam existir no horizonte; mas, entretanto, o Estoril precisava de ser saboreado, o Estoril convocou-o para o retiro, a reflexão sobre o que vira, o que viu, o que passara, ele e os outros.
Transcreve Júlia Néry, na antecâmara do seu livro «O Segredo Perdido» (Bertrand, 2005, p. 7), uma passagem de José Luís Borges (in «História da Noite»), que reza assim:
«Um facto qualquer, uma observação, uma despedida, um encontro, um desses curiosos arabescos em que o acaso se compraz pode suscitar uma emoção estética. O destino do poeta é projectar essa emoção, que foi íntima, numa história ou numa cadência»
O destino do poeta é projectar essa íntima emoção numa cadência…
E que me seja permitida nova alusão, agora a um autor também de minha especial predilecção, José Gomes Ferreira. No livro «Poesia – III» (Círculo de Leitores, Lisboa, s/d., p. 23) escreveu a «canção daquela borboleta verde que vi, há momentos, aturdida num passeio de Campolide»:
Borboleta verde,
Aqui não há flores.
– Procuras nas pedras
Jardins interiores?
Borboleta verde,
Aqui não há zumbidos.
– Procuras nas pedras
Perfumes dormidos?
Borboleta verde,
Aqui só há calçadas.
– Procuras nas pedras
As flores geladas?
Borboleta verde,
Chama quase morta.
– Também eu, também,
Aos tombos nas pedras,
Não encontro a Porta.
Um pouco como o «Diário» de Miguel Torga…
Assim entendo eu a Poesia: a frase lapidar, bonita, que faz pensar, mensagem para a eternidade – qual epígrafe a dar voz à frieza do mármore polido…
Todos somos poetas um pouco; «Portugal, um país de poetas» sói dizer-se, ao ouvirmos, por exemplo, o «Lugar ao Sul», de Rafael Correia (programa que nos preenchia as manhãs de sábado na Antena 1 e que, inopinadamente, deixou de existir na Primavera passada), e a facilidade com que algarvios e alentejanos alinham num ápice aquelas décimas obrigadas a mote!...
Aqui, porém, não há décimas, mas sim sextilhas (35 sextilhas) e o mote… são uma catrefada deles! No fundo, um olhar para a vida, dedicado a «todos aqueles que, em qualquer parte do mundo em que estejam, não esquecem o Estoril» – que o Estoril não se esquece nunca, João! Este mar, este anfiteatro voltado à planura destas águas. Mas – curioso!... – tu não dedicas uma sequer dessas sextilhas aos encantos desta terra!... Porque outros a têm cantado, decerto; mas também – aposto! – porque do Estoril se capta aqui não tanto palmeiras e vivendas entre pinheirais, o lúgubre rolar da bola na roleta, o brilho esfusiante de milhões de lâmpadas do Salão Preto e Prata, mas… a alma! Aquilo que, ao fim da tarde, no remanso do paredão, nos entra bem adentro de nós:
Onde o mar me afaga as ideias
escrevo livre o que penso sem peias.
Onde o vento me acaricia os versos
descrevo os meus sonhos transversos
– e em conluio comigo mesmo subtil.
em terra os pés, lhes chamo poemas do Estoril.
27 de Maio de 2006
E assim termina o livro.
Permita-se-me, porém, que eu não termine ainda, porque apresentador que se preza deve aliciar à leitura da obra, não a despindo, é certo, em jeito de desfile de moda no Estoril… mas, se calhar, sublinhando uma que outra roupagem, chamando a atenção para um que outro dos airosos modelos que desfilam. Tanto mais que – e aqui está outro simbolismo – o lugar para esta apresentação não podia ser mais adequado: o Museu dos Exílios… Ponto de encontro foi o Estoril das mais desvairadas gentes… Temos aqui memória…
A 6 de Janeiro, Dia de Reis, escreveu João Silva Maia (p. 25):
A ascese da pedra lascada
levou ao gozo da pedra polida.
A pedra evolui com os humanos,
como os humanos.
Por cada pedra polida havida
há uma pedra lascada deixada.
A ascese que leva ao gozo.
Uma evolução que - bem no sabemos, mas esquecemos tantas vezes!... – das opções do nosso dia-a-dia se constrói. Algo há que deixar para trás, ainda que nos custe, ainda que o hábito nos haja longamente seduzido…
Por cada pedra polida havida
há uma pedra lascada deixada.
E se uma característica perpassa pelos poemas de João Silva Maia é a sua melodia, o seu brincar com os sons – e amiúde nos ecoa por entre as linhas, quase inevitável, Eugénio de Castro, simbolista, «na messe, que enlouquece, estremece a quermesse»… O ritmo, o embalar – quais ondas a espraiarem-se pelo Tamariz…
Quando o pomo da discórdia como
nem porquê nem como o como sei,
ou mesmo se só o engulo em seco.
Não sei nada, nem sequer se apenas peco
e, se deveras peco, como me salvarei.
A discórdia me consome enquanto como o pomo.
23-05-2006
«Nem porquê nem como o como sei»…
Pois é, João: a onda espraia-se, mas há logo outra que, impetuosa, vaidosa, se lhe encavalita atrás, a querer espraiar-se também. Discórdia! Quantas vezes a não palpaste? Quantas vezes a não engoliste em seco e a perguntar-te porquê? Estranho este mundo, João! Discórdia será pecado, sim, consome-te, consome-nos, e – não tenhas dúvidas! – frequentemente nos perguntamos numa confissão:
Não sei nada, nem sequer se apenas peco
e, se deveras peco, como me salvarei?
Voltaste, João – pronto, todavia, para novas viagens. De longe e de perto, sentes o Estoril debruçado sobre o Atlântico, em ânsia de partir. Ou de ficar?
Contra ventos, contra marés
esta pátria nave navega,
embora mais pareça que deriva.
Bem ou mal no chão assentes os pés,
cada luso em vão se imagina o estratega
de relançar capaz a Pátria viva.
25-04-2006
Pois bom profeta me saíste, Amigo! Não da desgraça, mas, como os profetas, de pés bem assentes na terra, que assim é preciso, para que se não ande à deriva. E tens razão! Tinhas razão em 25 de Abril de 2006 (um aniversário talvez já triste, nesse ano, não recordo, porque os rumos se desnortearam, bem sabes…). Tinhas razão nesse 25 de Abril de há três anos e tens razão agora:
Cada luso em vão se imagina o estratega
de relançar capaz a Pátria viva.
Não quer ser estratega o Poeta; no entanto, decerto a sua leitura repousada e quente nos abalançará a navegar com mais segurança contra ventos e contra marés. Essa, a missão do Poeta e, com estes trinta e cinco poemas de um semestre, João Silva Maia cabalmente cumpriu a missão acometida!
Bem hajas!
Post-scriptum
Quando, a 31 de Março de 2009, almocei com o João, a seu convite, prometi-lhe que lhe passaria a letra de forma o texto ora transcrito, que, manuscrito, pejado de siglas e de abreviaturas, me servira para a apresentação do seu livro, a 29 de Janeiro de 2009, no Espaço dos Exílios, no Estoril, em cerimónia presidida pela vereadora da Cultura, Dra. Ana Clara Justino. Não havia pressa e o manuscrito foi ficando em cima da secretária, à espera da melhor oportunidade. E quando, a 2 de Fevereiro de 2010, por ocasião dos 25 anos do Pisão, me encontrei com sua mulher, Helena, vim a saber que o João falecera, inopinadamente, no Panamá (mais uma viagem!...), a 19 de Setembro. De nada eu soubera, nada soou na Comunicação Social local, e fiquei estupefacto, enorme nó a apertar-me a garganta, até porque, dias antes, falara dele na Escola Salesiana, em vista do reencontro, que se está a preparar, dos ‘jovens’ dessa década de 50. 68 anos feitos, nascera a 19 de Abril de 1941. Aqui fica, pois, a minha bem sentida homenagem.
Helena mostrou-me um poema datado de ‘Luxemburgo, Março de 1983’, em que o João escreveu, a dado passo:
O poeta deve morrer em silêncio,
única forma de ser consciente no momento preciso
[…]
O poeta deve morrer.
E que a sua mensagem fique.
A sua mensagem ficou!
Que ora descanse em paz!
sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010
O mistério daquelas grutas
Muito bem aproveitado o Dia dos Monumentos e Sítios (sábado, 18 de Abril) para se proporcionar à população cascalense a possibilidade de ir espreitar a gruta do Poço Velho, bem no coração da vila.
Referiu-se a Senhora Vereadora ao facto de, desde criança, aquelas grutas haverem exercido sobre ela a sedução do desconhecido e, por isso, ter sido um dos seus propósitos, ao pegar nas rédeas da carruagem da Cultura, diligenciar no sentido de, antes do final do mandato, o desejo de tantos cascalenses como ela vir a ser concretizado: ver o que era aquilo, se como as de Mira d’Aire ou as de Alapraia, o que eram…
«Ele há horas de sorte», como apregoa o cauteleiro. E teve sorte a actual equipa e seus colaboradores – e ainda bem! Não a tiveram outros, que pela Arqueologia cascalense vêm labutando. A taluda nem a todos calha… é a vida! O que interessa é que saia e torne as gentes felizes!
Por iniciativa de Abreu Nunes, quando presidente da Junta de Turismo da (então) Costa do Sol, fez-se a electrificação da gruta e foi possível abri-la ao público. Depois, as humidades tudo estragaram. Em tempo de Helena Roseta, em colaboração com o Departamento de Arqueologia governamental, então dirigido por António Carlos Silva, quis-se um plano pioneiro para Cascais e uma equipa liderada por Guilherme Cardoso e Luís Pascoal avançou no plano de reabilitação do imóvel. Vieram as inundações e, literalmente, tudo foi por água abaixo e todo o dinheiro teve de ser canalizado para suprir às muitas dificuldades que as gentes da vila padeceram.
Em tempo de José Luís Judas, quando José Manuel Carinhas (que descanse em paz!) era simultaneamente assessor do presidente e presidente da Junta de Turismo da Costa do Estoril voltou-se ao projecto. Luís Pascoal voltou à mesa das conversações, com o entusiasmo de outro cascalense, José Jorge Letria; gizaram-se planos; acertaram-se verbas (que viriam das contrapartidas do Jogo e da Comissão de Obras da Zona do Jogo do Estoril); programou-se o faseamento da acção; fizeram-se réplicas dos objectos, que a ideia era mostrar como a gruta havia funcionado de necrópole há cinco mil anos atrás… Mas embrulha aqui, embrulha dali, regateia acolá… Não houve o clamor das cheias, mas outros clamores se ergueram, a prioridade à Arqueologia e ao turismo cultural era, ainda, ideia peregrina de mais…
Escrevemos sobre isso no Jornal de Região – Cascais, a 27 de Outubro de 1999, um texto que se transcreveu em Cascais e os Seus Cantinhos (CMC, 2002, p. 72-75). Para que conste! Que a imprensa local e regional, doa a quem doer, ainda detém importante papel a desempenhar no relato da história local. E desempenha-o!
Regozijamo-nos, pois!
E não foi, pois, sem emoção que, no dia 18, voltámos, religiosamente, a percorrer aqueles recantos pejados de simbolismos...
Publicado em Jornal de Cascais, 28-04-2009, p. 4.
Referiu-se a Senhora Vereadora ao facto de, desde criança, aquelas grutas haverem exercido sobre ela a sedução do desconhecido e, por isso, ter sido um dos seus propósitos, ao pegar nas rédeas da carruagem da Cultura, diligenciar no sentido de, antes do final do mandato, o desejo de tantos cascalenses como ela vir a ser concretizado: ver o que era aquilo, se como as de Mira d’Aire ou as de Alapraia, o que eram…
«Ele há horas de sorte», como apregoa o cauteleiro. E teve sorte a actual equipa e seus colaboradores – e ainda bem! Não a tiveram outros, que pela Arqueologia cascalense vêm labutando. A taluda nem a todos calha… é a vida! O que interessa é que saia e torne as gentes felizes!
Por iniciativa de Abreu Nunes, quando presidente da Junta de Turismo da (então) Costa do Sol, fez-se a electrificação da gruta e foi possível abri-la ao público. Depois, as humidades tudo estragaram. Em tempo de Helena Roseta, em colaboração com o Departamento de Arqueologia governamental, então dirigido por António Carlos Silva, quis-se um plano pioneiro para Cascais e uma equipa liderada por Guilherme Cardoso e Luís Pascoal avançou no plano de reabilitação do imóvel. Vieram as inundações e, literalmente, tudo foi por água abaixo e todo o dinheiro teve de ser canalizado para suprir às muitas dificuldades que as gentes da vila padeceram.
Em tempo de José Luís Judas, quando José Manuel Carinhas (que descanse em paz!) era simultaneamente assessor do presidente e presidente da Junta de Turismo da Costa do Estoril voltou-se ao projecto. Luís Pascoal voltou à mesa das conversações, com o entusiasmo de outro cascalense, José Jorge Letria; gizaram-se planos; acertaram-se verbas (que viriam das contrapartidas do Jogo e da Comissão de Obras da Zona do Jogo do Estoril); programou-se o faseamento da acção; fizeram-se réplicas dos objectos, que a ideia era mostrar como a gruta havia funcionado de necrópole há cinco mil anos atrás… Mas embrulha aqui, embrulha dali, regateia acolá… Não houve o clamor das cheias, mas outros clamores se ergueram, a prioridade à Arqueologia e ao turismo cultural era, ainda, ideia peregrina de mais…
Escrevemos sobre isso no Jornal de Região – Cascais, a 27 de Outubro de 1999, um texto que se transcreveu em Cascais e os Seus Cantinhos (CMC, 2002, p. 72-75). Para que conste! Que a imprensa local e regional, doa a quem doer, ainda detém importante papel a desempenhar no relato da história local. E desempenha-o!
Regozijamo-nos, pois!
E não foi, pois, sem emoção que, no dia 18, voltámos, religiosamente, a percorrer aqueles recantos pejados de simbolismos...
Publicado em Jornal de Cascais, 28-04-2009, p. 4.
quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010
In memoriam de Mestre Lagoa Henriques
(Lisboa, 23.12.1923 – 21.02.2009)
«Mestre» é, sem dúvida, a palavra adequada!
Tive o privilégio de ser aluno de Lagoa Henriques, na cadeira de Escultura do Curso de Conservador de Museus (1972-1973), no Museu Nacional de Arte Antiga.
Sim, o Curso era no museu, mas as aulas do Mestre foram sempre fora: ou no seu ateliê em Belém ou nas Belas-Artes – que a teoria precisava sempre de referências práticas, concretas, saber como se faz, como se olha....
«Como se olha»! – essa foi uma das maiores lições que o Mestre nos incutiu: a educação do olhar! Olhar de frente, de lado, das mais variadas posições, pois que é o volume que distingue o monumento escultórica e, visto de diferentes ângulos, ele assume dinâmicas diversas – e é isso que o escultor pretende transmitir. Lembro-me que fiz para a cadeira a análise de «Jeune femme dançant avec son enfant», uma escultura de Joseph Bernard, que está defronte do Museu dos Condes de Castro Guimarães, em Cascais, precisamente vendo-a de todos os ângulos – e foi uma descoberta!
Ainda não há muito tempo, quando o reencontrei, falávamos dessa sua experiência, que reputava enriquecedora: a de ter dado aulas a futuros conservadores de museus, pois que as esculturas carecem de ter, em ambiente museológico, uma respiração muito própria.
Eram fascinantes as aulas, sem cansaço, participadas, esclarecedoras. Tínhamos bem presente um dos seus últimos trabalhos na altura, de que se orgulhava: o conjunto escultórico da fonte luminosa de Leiria, a simbolizar a união do Lis e Lena, que viria a ser inaugurado no Dia da Cidade (22 de Maio de 1973). E o Mestre falava-nos com emoção desta sua vontade de trazer a escultura para o meio das gentes. Por isso, o Fernando Pessoa lá está, hoje, a dialogar connosco, com todos, em frente à Brasileira! E o António Aleixo, em Loulé! E o Alves Redol, nu, numa praça de Vila Franca de Xira!…
Sobre a obra de Mestre António Augusto Lagoa Henriques, além do que se escreve no seu portal oficial – www.lagoahenriques.com/ – muito se há-de ainda dizer. Ficar-nos-á, porém, sempre a imagem… do grande Mestre!
Que descanse em paz!
Publicado em Museus em Rede (Boletim da Rede Portuguesa de Museus) 31, Março 2009, p. 28-29.
«Mestre» é, sem dúvida, a palavra adequada!
Tive o privilégio de ser aluno de Lagoa Henriques, na cadeira de Escultura do Curso de Conservador de Museus (1972-1973), no Museu Nacional de Arte Antiga.
Sim, o Curso era no museu, mas as aulas do Mestre foram sempre fora: ou no seu ateliê em Belém ou nas Belas-Artes – que a teoria precisava sempre de referências práticas, concretas, saber como se faz, como se olha....
«Como se olha»! – essa foi uma das maiores lições que o Mestre nos incutiu: a educação do olhar! Olhar de frente, de lado, das mais variadas posições, pois que é o volume que distingue o monumento escultórica e, visto de diferentes ângulos, ele assume dinâmicas diversas – e é isso que o escultor pretende transmitir. Lembro-me que fiz para a cadeira a análise de «Jeune femme dançant avec son enfant», uma escultura de Joseph Bernard, que está defronte do Museu dos Condes de Castro Guimarães, em Cascais, precisamente vendo-a de todos os ângulos – e foi uma descoberta!
Ainda não há muito tempo, quando o reencontrei, falávamos dessa sua experiência, que reputava enriquecedora: a de ter dado aulas a futuros conservadores de museus, pois que as esculturas carecem de ter, em ambiente museológico, uma respiração muito própria.
Eram fascinantes as aulas, sem cansaço, participadas, esclarecedoras. Tínhamos bem presente um dos seus últimos trabalhos na altura, de que se orgulhava: o conjunto escultórico da fonte luminosa de Leiria, a simbolizar a união do Lis e Lena, que viria a ser inaugurado no Dia da Cidade (22 de Maio de 1973). E o Mestre falava-nos com emoção desta sua vontade de trazer a escultura para o meio das gentes. Por isso, o Fernando Pessoa lá está, hoje, a dialogar connosco, com todos, em frente à Brasileira! E o António Aleixo, em Loulé! E o Alves Redol, nu, numa praça de Vila Franca de Xira!…
Sobre a obra de Mestre António Augusto Lagoa Henriques, além do que se escreve no seu portal oficial – www.lagoahenriques.com/ – muito se há-de ainda dizer. Ficar-nos-á, porém, sempre a imagem… do grande Mestre!
Que descanse em paz!
Publicado em Museus em Rede (Boletim da Rede Portuguesa de Museus) 31, Março 2009, p. 28-29.
quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010
Os meios de comunicação locais
No dia de Carnaval, durante perto de uma hora, ao final da manhã, Cascais esteve sem energia eléctrica.
Hoje, boa parte dos aglomerados familiares têm o seu telefone fixo ligado a um dispositivo eléctrico (moden) que activa a televisão, o telefone e o acesso à Internet. Isso significa que, se não houver telemóvel, se fica sem possibilidade de contacto. Aliás, a falha de energia eléctrica também pode afectar os postos retransmissores de telecomunicações.
Foi uma simples falta de energia em dia, embora frio e chuvoso, mas sem prenúncio de tempestade ou de catástrofe. Mas… se catástrofe houvera? Se inundações acontecessem?... Numa circunstância dessas, agarrava-se, naturalmente, no velhinho rádio transístor, a pilhas, que porventura ainda houvesse em casa, a fim de saber o que se passava, como agir… Esquecemos rapidamente a grande revolução que foi a invenção do transístor, que permite ao pastor perdido pelas encostas saber das notícias do mundo ou ao velhinho do lar acompanhar, ao ouvido, o relato de futebol da sua equipa favorita.
E é nessas circunstâncias que volto a recordar-me daquela cena em que o director de uma rádio local, em reunião para formação de uma espécie de «comissão de catástrofe», sugeriu que a rádio deveria ter um gerador próprio e o solicitou, por isso, à Protecção Civil. A resposta? Claríssima: «Quer um gerador? Compre-o!». Coitado do interlocutor, que de protecção civil pouco devia perceber e, se calhar, estava ali porque o partido lhe fizera o jeitinho…
Não há rádio de proximidade no concelho de Cascais, também porque nem os que ‘dão cartas’ nos órgãos autárquicos nem os agentes económicos alguma vez se importaram com isso; nunca perceberam – ou parecem não ter percebido… – a importância de uma rádio de proximidade. Nem rádio nem jornais.
E é pena! Se calhar, é o único concelho do País que não se interessa com isso. Está próximo de Lisboa, julga que vive à sombra da capital. Quanto se engana!
Publicado no Jornal de Cascais, nº 208, 23-02-2010, p. 4.
Post-scriptum: Esta crónica foi preparada muito antes da tragédia que se abateu sobre a Madeira. Infelizmente, a tragédia veio confirmar a nossa razão; e também se mostrou que não foi maior, por aí existirem ainda muito vivas as relações de vizinhança.
Hoje, boa parte dos aglomerados familiares têm o seu telefone fixo ligado a um dispositivo eléctrico (moden) que activa a televisão, o telefone e o acesso à Internet. Isso significa que, se não houver telemóvel, se fica sem possibilidade de contacto. Aliás, a falha de energia eléctrica também pode afectar os postos retransmissores de telecomunicações.
Foi uma simples falta de energia em dia, embora frio e chuvoso, mas sem prenúncio de tempestade ou de catástrofe. Mas… se catástrofe houvera? Se inundações acontecessem?... Numa circunstância dessas, agarrava-se, naturalmente, no velhinho rádio transístor, a pilhas, que porventura ainda houvesse em casa, a fim de saber o que se passava, como agir… Esquecemos rapidamente a grande revolução que foi a invenção do transístor, que permite ao pastor perdido pelas encostas saber das notícias do mundo ou ao velhinho do lar acompanhar, ao ouvido, o relato de futebol da sua equipa favorita.
E é nessas circunstâncias que volto a recordar-me daquela cena em que o director de uma rádio local, em reunião para formação de uma espécie de «comissão de catástrofe», sugeriu que a rádio deveria ter um gerador próprio e o solicitou, por isso, à Protecção Civil. A resposta? Claríssima: «Quer um gerador? Compre-o!». Coitado do interlocutor, que de protecção civil pouco devia perceber e, se calhar, estava ali porque o partido lhe fizera o jeitinho…
Não há rádio de proximidade no concelho de Cascais, também porque nem os que ‘dão cartas’ nos órgãos autárquicos nem os agentes económicos alguma vez se importaram com isso; nunca perceberam – ou parecem não ter percebido… – a importância de uma rádio de proximidade. Nem rádio nem jornais.
E é pena! Se calhar, é o único concelho do País que não se interessa com isso. Está próximo de Lisboa, julga que vive à sombra da capital. Quanto se engana!
Publicado no Jornal de Cascais, nº 208, 23-02-2010, p. 4.
Post-scriptum: Esta crónica foi preparada muito antes da tragédia que se abateu sobre a Madeira. Infelizmente, a tragédia veio confirmar a nossa razão; e também se mostrou que não foi maior, por aí existirem ainda muito vivas as relações de vizinhança.
segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010
«Na qualidade de falecido»
Se de algo a avalanche de mensagens que diariamente nos atolam a caixa do correio electrónico nos pode servir é para irmos tomando consciência, pouco a pouco, de como falta quem detenha, pelas funções que exerce, poder de decisão, quando entra pelos olhos adentro que o usual procedimento não tem ponta por onde se lhe pegue.
São às miríades os casos que todos os dias se apontam, de verdadeira estupidez, porque cegamente se cumprem as regras e… ai de quem as não cumpra!
Correu, há muito, cópia do ofício 839018, de 29-03-2006 (processo 436/05.GALGS), em que, tendo como assunto ‘notificação’, se escreveu o seguinte:
«Notifica-se V. Exª., na qualidade de Falecido, nos termos e para os efeitos a seguir mencionados:
Para no prazo de 10 dias, vir aos presentes autos, levantar a certidão requerida».
Assina: «O Oficial de Justiça».
Exacto: a pontuação e a paginação são precisamente as que se indicam. Ou seja: há, na Unidade de Apoio dos Serviços do Ministério Público de Lagos, uma minuta – como há por todo o sítio – que o oficial de justiça se limita a preencher com os novos dados, sem minimamente se importar se a frase tem sentido e se está a fazer algo que tenha pés e cabeça. Trata-se, no caso em apreço, como numa coluna se diz, de um ‘inquérito’ e o ofício é dirigido ao «Legal Representante da Companhia de Seguros AXA», de Faro.
Claro que o documento, devidamente digitalizado, correu por aí, por tudo quanto era blogue e sobre ele se teceram os mais curiosos comentários. Basta pôr, num motor de busca, a frase «na qualidade de Falecido» e fica-se logo com uma ideia do gozo que tudo isso gerou:
– «Somos todos doidos?»
– «Afinal, vamos e voltamos».
– Olha, Jaquim, hoje na te trago flores, home. Trago só um papel do tribunal, diz qu'é p'ra ires lá daqui a dez dias levantar uma…».
– «Em Lagos, fala-se com os mortos».
– O «Parceiro Pensador» pensou: «O que eu me pergunto é onde estava a cabecinha da pessoa que dactilografou e assinou esta peça».
– E, a 18 de Outubro, p. p., um despacho da Lusa anunciava o livro de Sofia Pinto Coelho «As Extraordinárias Aventuras da Justiça Portuguesa»…
A questão prende-se não apenas com o facto de expressamente se convocar um morto, mas, sobretudo, com a falta de formação que é dada aos funcionários! Evidentemente que, neste caso, há um espaço depois de «na qualidade de», que é para pôr «réu», «queixoso», «testemunha»… E a oficial, coitada, ao convocar alguém da companhia de seguros em que estava o homem que morreu olhou para a parede, olhou para o papel, perguntou ao colega e… «Então o homem não morreu? Portanto, é falecido, não é testemunha nem réu nem… nada! É falecido, pronto!...».
Por outro lado, como se vê, ninguém ensinou como é que uma frase se combina com a outra. É o que antigamente chamávamos a «chapa», ou seja, respondia-se sempre da mesma forma a um requerimento, a um pedido de subsídio… Aquilo já estava tudo com pontos e vírgulas, quer fosse para tratar de um burro à solta como de uma criança em risco. “Qual é, chefe?” – “Chapa 6!”.
Claro que está lá a menção do processo e a seguradora sabia quem era o falecido e até, habituada como está a este palavreado, lá terá ido o seu ‘legal representante’, sem fazer ondas, levantar a certidão que requerera. Sim, porque quem requereu foi a seguradora e não o defunto como vem no texto.
Tudo se terá resolvido e o «Oficial de Justiça» – que talvez até nem saiba que o seu nome correu Ceca e Meca e vales de Santarém e andou pelas ruas da amargura!… – limitou-se a entregar a certidão e o Ti Jaquim não precisou mesmo de se alevantar da campa, pois que o «legal representante» foi lá, em tempo oportuno. Se calhar, até por esses Serviços terá havido um certo sururu de incompreensão: «Raios partam estes gajos dos blogues e da Comunicação Social, sempre na coscuvilhice! O assunto resolveu-se, não se resolveu? Então, pronto! Tá resolvido!».
Resolvido poderá estar, sem dúvida; mas acabamos sempre por perguntar: «Estes senhores – os chefes e os subordinados – não terão feito o que nós chamávamos a ‘Instrução Primária’? E ninguém na vida lhes ensinou a pensar?»…
– Desculpe lá, amigo! Quer ir hoje ver comigo o Benfica? Sempre desanuvia um pouco…
Publicado no Jornal de Cascais, nº 207, 16-02-2010, p. 6.
São às miríades os casos que todos os dias se apontam, de verdadeira estupidez, porque cegamente se cumprem as regras e… ai de quem as não cumpra!
Correu, há muito, cópia do ofício 839018, de 29-03-2006 (processo 436/05.GALGS), em que, tendo como assunto ‘notificação’, se escreveu o seguinte:
«Notifica-se V. Exª., na qualidade de Falecido, nos termos e para os efeitos a seguir mencionados:
Para no prazo de 10 dias, vir aos presentes autos, levantar a certidão requerida».
Assina: «O Oficial de Justiça».
Exacto: a pontuação e a paginação são precisamente as que se indicam. Ou seja: há, na Unidade de Apoio dos Serviços do Ministério Público de Lagos, uma minuta – como há por todo o sítio – que o oficial de justiça se limita a preencher com os novos dados, sem minimamente se importar se a frase tem sentido e se está a fazer algo que tenha pés e cabeça. Trata-se, no caso em apreço, como numa coluna se diz, de um ‘inquérito’ e o ofício é dirigido ao «Legal Representante da Companhia de Seguros AXA», de Faro.
Claro que o documento, devidamente digitalizado, correu por aí, por tudo quanto era blogue e sobre ele se teceram os mais curiosos comentários. Basta pôr, num motor de busca, a frase «na qualidade de Falecido» e fica-se logo com uma ideia do gozo que tudo isso gerou:
– «Somos todos doidos?»
– «Afinal, vamos e voltamos».
– Olha, Jaquim, hoje na te trago flores, home. Trago só um papel do tribunal, diz qu'é p'ra ires lá daqui a dez dias levantar uma…».
– «Em Lagos, fala-se com os mortos».
– O «Parceiro Pensador» pensou: «O que eu me pergunto é onde estava a cabecinha da pessoa que dactilografou e assinou esta peça».
– E, a 18 de Outubro, p. p., um despacho da Lusa anunciava o livro de Sofia Pinto Coelho «As Extraordinárias Aventuras da Justiça Portuguesa»…
A questão prende-se não apenas com o facto de expressamente se convocar um morto, mas, sobretudo, com a falta de formação que é dada aos funcionários! Evidentemente que, neste caso, há um espaço depois de «na qualidade de», que é para pôr «réu», «queixoso», «testemunha»… E a oficial, coitada, ao convocar alguém da companhia de seguros em que estava o homem que morreu olhou para a parede, olhou para o papel, perguntou ao colega e… «Então o homem não morreu? Portanto, é falecido, não é testemunha nem réu nem… nada! É falecido, pronto!...».
Por outro lado, como se vê, ninguém ensinou como é que uma frase se combina com a outra. É o que antigamente chamávamos a «chapa», ou seja, respondia-se sempre da mesma forma a um requerimento, a um pedido de subsídio… Aquilo já estava tudo com pontos e vírgulas, quer fosse para tratar de um burro à solta como de uma criança em risco. “Qual é, chefe?” – “Chapa 6!”.
Claro que está lá a menção do processo e a seguradora sabia quem era o falecido e até, habituada como está a este palavreado, lá terá ido o seu ‘legal representante’, sem fazer ondas, levantar a certidão que requerera. Sim, porque quem requereu foi a seguradora e não o defunto como vem no texto.
Tudo se terá resolvido e o «Oficial de Justiça» – que talvez até nem saiba que o seu nome correu Ceca e Meca e vales de Santarém e andou pelas ruas da amargura!… – limitou-se a entregar a certidão e o Ti Jaquim não precisou mesmo de se alevantar da campa, pois que o «legal representante» foi lá, em tempo oportuno. Se calhar, até por esses Serviços terá havido um certo sururu de incompreensão: «Raios partam estes gajos dos blogues e da Comunicação Social, sempre na coscuvilhice! O assunto resolveu-se, não se resolveu? Então, pronto! Tá resolvido!».
Resolvido poderá estar, sem dúvida; mas acabamos sempre por perguntar: «Estes senhores – os chefes e os subordinados – não terão feito o que nós chamávamos a ‘Instrução Primária’? E ninguém na vida lhes ensinou a pensar?»…
– Desculpe lá, amigo! Quer ir hoje ver comigo o Benfica? Sempre desanuvia um pouco…
Publicado no Jornal de Cascais, nº 207, 16-02-2010, p. 6.
domingo, 14 de fevereiro de 2010
As artes e os ofícios tradicionais
Abriu, no passado dia 25 de Novembro, em pleno centro histórico da nossa vila – e isso se fez questão de sublinhar na informação então veiculada –, o Centro de Artes e Ofícios. «No coração da vila, no nosso coração» foi, aliás, o lema adoptado para esse bem louvável Plano de Revitalização do Centro Histórico. Também nisso o nosso concelho está a dar cartas, numa acção pioneira – que esperemos venha a ser imitada (como tantas outras o têm sido!...) por outros municípios do País!
A sua primeira exposição intitula-se «À Descoberta das Artes e Ofícios» e vem na sequência da série de entrevistas-reportagens, iniciada, salvo o erro, em Janeiro de 2008, à conversa com Vitória Azinheira, a propósito dos figos cheios, então publicada na agenda «São Brás Acontece». E logo aí se explicava quanto era valioso este «tesouro cultural, legado de geração em geração, que importa valorizar e defender da voraz passagem do tempo».
E, pontualmente, nos meses seguintes, temo-nos deliciado com a viagem: o telheiro José João Horta, as histórias de tesoura e linha de Maria José, a empreita, as vassouras de palma, o esparto, os trapos, o sonho de alfaiate de Romão Galego dos Santos… até, neste Dezembro, Tonico da Caldeira a ensinar-nos “os segredos da aguardente”!…
Abençoada viagem, eloquente Centro, mui válida iniciativa!
In VilAdentro nº 132 (Jan 2010) p. 10 [A RETALHO (72)].
A sua primeira exposição intitula-se «À Descoberta das Artes e Ofícios» e vem na sequência da série de entrevistas-reportagens, iniciada, salvo o erro, em Janeiro de 2008, à conversa com Vitória Azinheira, a propósito dos figos cheios, então publicada na agenda «São Brás Acontece». E logo aí se explicava quanto era valioso este «tesouro cultural, legado de geração em geração, que importa valorizar e defender da voraz passagem do tempo».
E, pontualmente, nos meses seguintes, temo-nos deliciado com a viagem: o telheiro José João Horta, as histórias de tesoura e linha de Maria José, a empreita, as vassouras de palma, o esparto, os trapos, o sonho de alfaiate de Romão Galego dos Santos… até, neste Dezembro, Tonico da Caldeira a ensinar-nos “os segredos da aguardente”!…
Abençoada viagem, eloquente Centro, mui válida iniciativa!
In VilAdentro nº 132 (Jan 2010) p. 10 [A RETALHO (72)].
sábado, 13 de fevereiro de 2010
A importância das estradas
Amiúde se poderá perguntar, não sem alguma dose de ironia:
– A calçadinha? Do tempo dos Romanos? E que jeito tem dar-lhe assim importância, considerá-la quase um monumento, trazê-la nas palminhas? Um empedrado normalíssimo!... É antigo, está bem, mas… «monumento»?!...
As dúvidas têm a sua razão de ser, no quotidiano veloz em que andamos embrenhados, sem tempo para reflexões. Há, porém, nesse mesmo quotidiano, ocasiões que nos obrigam a parar e trazem, por vezes, revelações inesperadas. Assim, no segundo dia após o sismo que destroçou o Haiti, a 12 de Janeiro último, o presidente respondeu sem hesitar, quando lhe perguntaram qual a prioridade mais urgente:
– As estradas!
Sem vias de comunicação desobstruídas, nada se poderia fazer!
Assim bem o entenderam os Romanos, ao gizarem uma inteligente rede viária, ainda hoje conservada em muitos dos seus troços. E uma das primeiras funções da carreira senatorial era a de pertencer à comissão de quatro membros que cuidavam das vias, «quattuorviri viarum curandaram».
As lições… da História! E a importância da nossa ‘calçadinha’ e a da anunciada ligação à Via do Infante.
Publicado na edição de Fevereiro 2010 (p. 10) do mensário "VilAdentro",
de S. Brás de Alportel, na habitual coluna A Retalho,
que aí detenho ininterruptamente desde Abril de 2003.
– A calçadinha? Do tempo dos Romanos? E que jeito tem dar-lhe assim importância, considerá-la quase um monumento, trazê-la nas palminhas? Um empedrado normalíssimo!... É antigo, está bem, mas… «monumento»?!...
As dúvidas têm a sua razão de ser, no quotidiano veloz em que andamos embrenhados, sem tempo para reflexões. Há, porém, nesse mesmo quotidiano, ocasiões que nos obrigam a parar e trazem, por vezes, revelações inesperadas. Assim, no segundo dia após o sismo que destroçou o Haiti, a 12 de Janeiro último, o presidente respondeu sem hesitar, quando lhe perguntaram qual a prioridade mais urgente:
– As estradas!
Sem vias de comunicação desobstruídas, nada se poderia fazer!
Assim bem o entenderam os Romanos, ao gizarem uma inteligente rede viária, ainda hoje conservada em muitos dos seus troços. E uma das primeiras funções da carreira senatorial era a de pertencer à comissão de quatro membros que cuidavam das vias, «quattuorviri viarum curandaram».
As lições… da História! E a importância da nossa ‘calçadinha’ e a da anunciada ligação à Via do Infante.
Publicado na edição de Fevereiro 2010 (p. 10) do mensário "VilAdentro",
de S. Brás de Alportel, na habitual coluna A Retalho,
que aí detenho ininterruptamente desde Abril de 2003.
Homenagem a Bernardo Costa
Texto inserido na pág. 4 da edição de 14 de Janeiro de 2010 do Jornal da Costa do Sol, que, a partir desse número viu suspensa a sua publicação, por tempo indeterminado. Por isso, ficou suspensa também a secção que nele detinha, há quase quatro décadas, intitulada Notas & Comentários; daí o nome dado a este meu blogue.