sexta-feira, 16 de julho de 2010

Transportes públicos

Num tempo em que se deita miúda conta ao porta-moedas e, por outro lado, se está consciente da necessidade de diminuir efeitos poluidores, a preferência pela utilização dos transportes públicos apresenta-se cada vez mais premente no nosso quotidiano.
Preconiza-se, por isso, que os concessionários, em íntima colaboração com quem concessiona, saibam ter em conta, aquando da concessão, o real interesse da população e a característica de ‘serviço público’ que esses transportes inevitavelmente detêm.
Em Cascais, no tempo da «Palhinha» (a que ora sucedeu a Scotturb, depois de ter passado por outras concessionárias), havia o cuidado de se afirmar, por exemplo, que os horários eram feitos em consonância com os horários dos comboios – o que ora nem sempre acontece. Além disso, pensa-se que tanto o Município como a empresa vão tendo o cuidado de periodicamente auscultar a população, a fim de melhor a servirem, com o estabelecimento de novas carreiras e supressão das que não interessam, com a adequação de horários. Nada mais errado, pelos vistos!
O caso veio a lume nas reuniões camarárias de 22 de Fevereiro e 8 de Março, por causa de ser pago o estacionamento no novo hospital de Cascais, o que postularia – naturalmente – esse acerto. Isto solicitou a senhora vereadora Leonor Coutinho e a resposta foi (pasme-se!) que o contrato de concessão não podia ser alterado, só quando terminasse o actual, e que a Câmara até nem é havida nem achada nessas negociações!... E o povo vulgar pergunta: «Como é? O IRS pode alterar-se de um dia para o outro e isto não?». Pois que é assim. De tal modo que, em jeito de conclusão, o senhor vice-presidente desabafou, na reunião do dia 8, a propósito de uma possível intervenção camarária:
«[…] Faz todo o sentido que se tenha essa intervenção, já que este concessionário, de facto, não se mostra muito sensível a querer ter uma boa relação com a própria Câmara, certamente porque sente que a capacidade de influência e de intervenção do Município no processo de concessão é nula».
E tem isto alguma razão de ser? Não há aí quem barafuste?

Publicado em Jornal de Cascais, nº 228, 13-07-2010, p. 6.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Ser docente universitário a custo zero!

Com data de hoje, 13 de Julho de 2010, enviou o Sindicato Nacional do Ensino Superior uma nota em que começa por afirmar:
«O SNESup teve conhecimento de que foi descoberta uma nova figura para resolver alguns dos problemas de excesso de serviço docente: O DOCENTE VOLUNTÁRIO, nas vertentes de Professor Auxiliar Voluntário e Assistente Voluntário.
«Esta inovação não é mais do que uma forma de contratar pessoas a custo zero dando-lhes como contrapartida a falsa ideia de que certificarão a sua prestação de serviço docente que realiza de forma voluntária e gratuita (espécie de estágio não remunerado) para incluir no CV, tal como já tem sido tentado por alguns gestores mais afoitos com a desculpa de que só assim conseguiam assegurar o serviço docente. O SNESup não tem ficado calado e em vários momentos se tem insurgido contra estas situações de trabalho não remunerado no Ensino Superior.»

Óptimo! E que todos se mexam contra tal aleivosia!
Ao jeito que emprestava à coluna POIS que mantive, durante anos, primeiro no Jornal de Coimbra e, depois, no jornal Centro, por amável deferência de Jorge Castilho, escrevi sobre esse mesmo assunto o seguinte (já lá vão quase dois anos!):

POIS
Português é assim mesmo. Como o brasileiro que “criámos”. Sabe sempre dar a volta por cima!
Não dá o Governo verbas para contratar docentes em substituição dos muitos que optaram pela aposentação ou mesmo dos que se jubilaram? Que problema há nisso? Nenhum! Não há por i tanta gente desejosa de ser docente universitário e que até paga por isso? Vamos nessa: contratamos a custo zero! Você quer? Compreende: ganha currículo e sempre tem a possibilidade de invocar a qualidade de "professor universitário", está a ver?

Publicado no jornal Centro [Coimbra], ano II, nº 62, 19-11-2008, p. 13.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Besoirar…

Nem sempre nos consciencializamos que um dos patrimónios mais importantes que temos é o tempo. Do seu aproveitamento e boa organização diária depende, na prática, toda a nossa vida e a serenidade que importa manter.
O falar quotidiano típico das nossas gentes é outro património a valorizar e, por isso, o vocábulo ‘besoirar’ me ocorreu a esse propósito. Era palavra que meu pai empregava amiúde, não exactamente no sentido que aparece no Dicionário do Falar Algarvio – incomodar com barulho, com palavras monótonas, como o besoiro que anda à nossa volta e não nos larga, zum… zum… – mas para caracterizar a atitude de quem faz agora isto e ainda não acabou e vai fazer aquilo e depois se lembra de mais uma coisa e outra de seguida e… nunca mais se despacha!...
Como o dia daquele senhor, já passada a meia idade, que pegava nas chaves do carro para as arrumar e, de caminho, via uma carta e se ‘passeava’ assim, de tarefa em tarefa, o dia todo… e, no final da tarde, as chaves do carro continuavam fora do sítio! Relevante sinal de alerta para a nossa capacidade de concentração, de consciente aproveitamento do tempo – na opção, a cada momento, pela prioridade a gerir…
Anda o besoiro dum lado para o outro, zumbindo, num espalhafato, sem rumo, poisando aqui e acolá… E a gente acaba por não saber o que é que ele, na verdade, quer!...
Ora bolas! Será que, afinal de contas, este «A retalho», hoje, virou… parábola?

Publicado em VilAdentro [S. Brás de Alportel], nº 138 (Julho 2010) p. 10.

Folhas volantes… precisam-se!

É perfeitamente compreensível que um dos mais prestigiados clubes de futebol se chame A. C. Milan, Associazione Calcio Milan, porque foi fundado, em 1899, por ingleses; e que o Benfica, fundado em 1904, se chame Sport Lisboa e Benfica, assim como o Sporting tenha a designação de Sporting Clube de Portugal (hoje já com o ‘e’ final em clube). Ainda em pequeninos, nós gritávamos «corner!» para dizer «canto» e hoje ainda ouvimos penálti, em vez de «grande penalidade».
Como se sabe, essa modalidade desportiva foi inventada por ingleses e, aliás, Cascais teve até papel preponderante na sua introdução em Portugal, como ficou cabalmente demonstrado pela exposição «Aqui nasceu o futebol em Portugal (1888-1928)», realizada no Centro Cultural de Cascais de 27 de Maio a 5 de Outubro de 2004.
Custa-me, porém, admitir que mesmo universidades e instituições públicas portuguesas hajam, agoira, alinhado pelo uso sistemático de vocábulos ingleses, inclusive em produções destinadas prioritariamente a leitores de língua portuguesa, quando a nossa língua, além de estar entre as dez mais faladas do mundo, detém uma riqueza vocabular ímpar, e quando, oficialmente, se está sempre a dizer que devemos preservar o nosso património. Ora, sendo a língua o nosso património maior, por que carga de água se multiplicam hoje, como cogumelos, as newsletters, os fliers, os banners?... A Universidade de Coimbra (imaginem!) divulga, pela Internet, um boletim informativo mensal que chama de «Newsletter UC»! Cada vez mais os museus portugueses têm uma… newsletter! Ainda outro dia recebi o «Banner de Divulgação das Férias de Verão no Museu de Portimão»! Era… um cartaz! Eu, se mandasse na Rede Portuguesa de Museus, exigia que, para pertencer à Rede, o museu não dobrasse o jugo à tirania do inglês!...
E, aqui para nós, «folha volante» não tem mais tipicismo que isso de… ‘flyer’?
Que as senhoras ministras da Educação (agora até temos uma que é escritora) e da Cultura olhem para isto, olhem por isto e… ordenem urgente extradição de banners, newsletters e quejandos barbarismos dos seus próprios ministérios. Assim darão o exemplo!
Publicado no Jornal de Cascais, nº 227, 06-07-2010, p. 6.