quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Dia de S. João Bosco

               Passam hoje 125 anos sobre a morte de S. João Bosco, o sacerdote italiano que fundou a Congregação Salesiana, com dois ramos: o masculino (os Salesianos) e o feminino (as Folhas de Maria Auxiliadora).
            A liturgia católica celebra-o, portanto, neste dia, como é de tradição celebrar-se com uma «festa» nas escolas salesianas, porque, na verdade, a grande obra tanto dos Salesianos como das Filhas de Maria Auxiliadora foi, na sequência dos objectivos traçados pelo seu fundador, o da educação da juventude, mormente da juventude mais pobre e desamparada.
Recorde-se que D. Bosco – como é vulgarmente designado, à maneira italiana – inicia a sua actividade em Turim, uma cidade industrial do Norte de Itália, em Dezembro de 1841, justamente em plena ‘revolução industrial’ que deslocara para as cidades inúmeras pessoas em busca do seu ganha-pão, que nem sempre encontravam; e as crianças eram deixadas ao deus-dará, sem uma rede escolar montada. É com os garotos da rua que D. Bosco começa, preocupando-se, de imediato, em criar ‘escolas’ de artes e ofícios, na medida em que rapidamente compreendera que era nessas ocupações e profissões que se alicerçava o futuro.
        Não se enganou e os colégios salesianos, um pouco por todo o mundo e em Portugal, souberam garantir esse ensino técnico-profissional (de que hoje muitos antigos alunos se orgulham), até ao momento em que, entre nós, uma reforma de ensino desgarrada da realidade o veio a proibir
           Por todo o País se organizam hoje ou no próximo fim-de-semana cerimónias comemorativas.
         No concelho de Cascais, seguramente um dos mais ‘salesianos’ de País, devido à existência de seis estabelecimentos de ensino (dos salesianos, em Estoril e Manique; dois em Cascais e dois no Monte Estoril, das Filhas de Maria Auxiliadora), reúnem-se no sábado, 2, no Centro D. Bosco, na Amoreira, sede da Associação local dos Antigos Alunos Salesianos, que aí também mantém, aliás, um estabelecimento de ensino, nos moldes da lídima tradição salesiana). Celebrar-se-á o Dia Local do Antigo Aluno (contactos: secretaria@aaase.pt, telefones: 214662270 / 961337139 / 966864467).
                                                                       
 Publicado na edição de 31-01-2013 de Cyberjornal:

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

«Aristides de Sousa Mendes. Trinta Mil Vidas Humanas»

            Escreveu Júlia Nery o romance O Cônsul (1991), que viria a ser traduzido para língua francesa por Claire Cayron, sob o título La Résolution de Bordeaux (1993). Desde então se têm multiplicado as iniciativas para reabilitar a memória do cônsul Aristides de Sousa Mendes, que, contra as ordens expressas de Salazar, passou vistos aos milhares que demandavam o porto de Bordéus, a fim de fugirem à perseguição nazi. O Espaço dos Exílios, no Estoril, complementa o que se tem escrito, pois, como se sabe, muitos desses exilados por aqui passaram a caminho dos Estados Unidos.
            Coube agora a vez a Teresa Mascarenhas de retomar o tema, com o livro Aristides de Sousa Mendes. Trinta Mil Vidas Humanas (Edições Esgotadas, Viseu, 2012, 142 pág., ISBN: 978-989-8514-44-8), apresentado em Lisboa, a 15 de Janeiro de 2013, no Museu Nacional de Arqueologia, e que fora galardoado com menção honrosa no âmbito do Prémio Literário Florbela Espanca, promovido pelo Município de Vila Viçosa em 2011.
            Estreou-se a autora em 1990 com a obra Eu, Lourenço, Andarilho da Vida (Prémio Revelação da APE); em 1993, publicou Maria Benta, Filhas das Ervas, da Chuva, do Vento, também premiado; em 1995, Mozart Era um Extraterrestre. Na badana deste, declara: «Adoro receber os amigos, brincar com os cães e tratar da minha horta. Gosto de túlipas e de vinho verde. Fico feliz quando as pessoas gostam daquilo que escrevo. Detesto este mundo em que vivo. Qualquer dia vou-me embora». Significativamente, na quarta capa deste Mozart, vem o texto «Notas sobre a autora», escrito em caracteres wingdings maiúsculos, que não tem qualquer sentido, pois que se trata da sequência desses caracteres no teclado do computador. Uma forma, portanto, de se esconder num enigma…
            Aristides de Sousa Mendes – Trinta Mil Vidas Humanas não é apenas a história, mais ou menos romanceada, de um cônsul cuja assinatura autenticada salvou vidas. Sim, é a história dele e da família, e das famílias que logrou salvar – ou não, porque muitas ficaram pelo caminho entre Paris e Bordéus. Mas é uma história especial, que o subtítulo mui subtilmente acentua: Trinta Mil Vidas Humanas. Claro que o número é avassalador: 30 000 é muita gente, embora o nosso coração empedernido pelos noticiários já se não comova hoje com os milhares que continuam a morrer na Síria, com o horror fanático dos homens-bomba… 30 000 era muita gente. Foi muita gente. Mas, mais do que no número, o acento é posto no que vem a seguir: Vidas Humanas… Vida é existência, é sonho, é perspectiva de futuro, é comunhão com uma família, uma comunidade… Humanas, por seu turno, diz-nos respeito: somos nós! «Homo sum, humani nihil alienum», «Sou homem e nada do que é humano me é alheio», sentenciou o escritor romano Terêncio. E é verdade – tem de ser verdade, por mais que os grupos económicos que a todos nos governam insistam em tratar-nos como números. Aliás, ainda que este livro de Teresa Mascarenhas se insira numa perspectiva prenhe de actualidade no tema em si e no sadio movimento de recuperar e redimir a memória de quem tanto veio a sofrer por ter ousado desobedecer, ele é prenhe de actualidade também porque nessa luta estamos: queremos ser tratados como pessoas! Uma mensagem clara, oportuna, importuna – mas que não podemos calar!
            E ao acompanharmos pessoas, famílias, gente, povo, no seu martirizado peregrinar, na sua desesperada fuga a um totalitarismo cego (como o são todos os totalitarismos), que só tem como fito a destruição – esse acompanhamento soa-nos agora – mesmo agora! – bem presente. Fere-nos a pele, acicata-nos a mente, atira-nos para a depressão. Como, fuzilados sem dó nem piedade, eles eram atirados para a vala comum. Horrores de então? Horrores de hoje!
            Por isso, o livro de Teresa Mascarenhas não deixa de ser mais um libelo. Grito de alerta. Mais um!
          Por isso, a gente pega nele e não despega! A leitura inebria-nos, não nos deixa sossegados, é preciso ler mais, saber o que aconteceu. Vão salvar-se? Escapou ou não? Terão ainda forças? Crianças, pais, avós, mulheres… E os aviões. E o comboio que nunca mais chega ou que já não tem carris para prosseguir. E mais um incêndio além. Deixar-me-ão cavar a sepultura dela, cumprir o ritual?...
            Andamos por Paris, Bruxelas, Varsóvia, ruas esconsas, caves, esconderijos inauditos… mas é Bordéus o coração de tudo:
            «Aristides de Sousa Mendes pagou muito caro pelo seu sentido de humanidade. Salazar não o mandou prender, mas condenou-o a uma velhice vivida na mais triste pobreza. Viu-se obrigado a recorrer, com toda a sua família, à sopa dos pobres. Os filhos, um a um, impossibilitados de construir um futuro em Portugal, foram emigrando, e por fim o heróico cônsul morreu só, no Hospital da Ordem Terceira de S. Francisco. Não tendo à época um único fato decente com que pudesse ser sepultado, vestiram-lhe um hábito de Franciscano, e assim desceu à sepultura».
            Esta é a nota final do romance. Dever cumprido, castigo aplicado, a evocar quase heroísmo de mártires estraçalhados na arena dos anfiteatros romanos para supremo gáudio da populaça sedenta de sangue.
E por aqui me poderia quedar, pois cumprido está, creio, o dever de que me incumbi: aliciar à leitura do romance, do drama, da história… que tudo isso aqui visceralmente se mescla.
            Que me seja permitido, porém, transcrever parte mínima de um diálogo:
            – Pai, quantas estrelas há no céu?
            – Não sei. Acho que deve haver uma para cada um de nós.
            – Então, qual é a minha?
            – A tua estrela?
         – Sim. O avô contou-me sobre o Rei David e a sua estrela… e eu chamo-me David, por isso também tenho de ter uma estrela; mas, no meio de tantas, como é que posso saber qual é a minha?
            – Ah! A Estrela de David! Bom, eu acho que podes ser tu a escolher aquela de que gostares mais. Será essa a tua estrela.
            David apontou para o céu.
            – Pode ser aquela grande, brilhante?
            – Sim, claro, a partir de agora é tua!».
            Foi bem difícil a «resolução de Bordéus». Teresa Mascarenhas expressa-o com grande intensidade, ao retratar toda a imensa dúvida do cônsul horas antes de tomar a decisão: «Eu vou ajudar estas pessoas. Não é justo que morram, porque lhes falta… uma assinatura sobre uma folha de papel. Eu sei que Deus não me fez responsável pela vida dos meus irmãos. E todos os seres humanos são meus irmãos. Mas se eu permitir que eles morram, se não os salvar, serei verdadeiramente culpado pela morte deles».
            «Não tendo à época um único fato decente com que pudesse ser sepultado, vestiram-lhe um hábito de Franciscano, e assim desceu à sepultura». É verdade. Foi verdade. Trinta Mil Vidas Humanas será mais uma frechada no monstro do totalitarismo reinante. Oxalá o mate de vez. Sem dó nem piedade!
                                                                                           


            

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

A ignorância dos senhores das centrais telefónicas...

... ou como a um cidadão já não apetece ralar-se mais

Hoje de manhã (22-01-2013), ao verificar, na Rua do Cobre, em Cascais, que, nos postes telefónicos, várias caixas PDO estavam abertas devido ao vendaval, deixando a descoberto os circuitos electrónicos, apressei-me a telefonar para o Apoio ao Cliente da PT.
Inútil: depois de várias hipóteses – se quiser isto, marque 1… – vim a verificar que, por já não ser cliente da PT, não tinha um telefone que a empresa identificasse e, por isso, nada feito: não conseguia falar com um assistente!
Liguei, pois, por ser jornalista, para o número 21 500 2000, que é o das «Relações com os Media». O rapaz que me atendeu apressou-se a dizer-me, quando lhe expus a situação, que eu deveria ligar era para o apoio técnico ou para o serviço de avarias. Expliquei que já o fizera, debalde, por não ser cliente MEO, e apenas estava a ter algum interesse no caso por se me afigurar, como cidadão e como jornalista, que essa informação das caixas abertas poderia ter algum interesse para quem de direito. Além disso, eu tinha de pagar a chamada para ser útil a uma empresa de que nem era cliente! O rapaz ouviu-me, ouviu-me e… eu desliguei, garantindo-lhe que oe não voltaria a incomodar nem a ralar-me com o que é que acontecesse à PT ou à empresa das tais caixas PDO.
            Por curiosidade, fui saber – por minha iniciativa – o que era uma caixa PDO. E é o seguinte:
«A Caixa PDO (Ponto de Distribuição Óptico) é uma infraestrutura destinada às redes GPON (Gigabit Passive Optical Network) com tipologia FTTH (Fibre To The Home) e FTTB (Fibre To The Bulding). Permite a ligação entre a rede de distribuição e o cliente, podendo ser instalada em interior ou exterior».
            Portanto, tanto pode ser da PT como de qualquer outra distribuidora. Que se amanhem!

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

O burro e o frio…

           O facto de ter falado no burro e sua albarda (e nas albardas muitas que nos querem pôr em cima…) levou-me a recordar uma outra frase que amiúde ouvia a meu pai durante o Inverno:
– Está frio que nem um burro!
            Encontrei a expressão citada num dos portais da Internet, apenas num, mas nenhuma explicação aí se aduzia e, sobretudo, não se dava conta do que meu pai sempre acrescentava, com ar bem malicioso:
pai tá em casa, menina?
            Nunca lhe cheguei a perguntar a origem exacta da expressão, que certamente ele próprio ouvira desde pequenino. Mas imagino a cena: o namorado bate à porta, demora o namoro à janela, como era de uso nesses tempos, e, a certa altura, o frio apertava um pouco mais e o desgraçado, enregelado – que o fogo do amor só o aqueceria por dentro… –, atrevia-se a perguntar:
            – pai tá em casa, menina?
            Penso eu que a intenção era bem clara: se o pai estivesse, poderia autorizar a que o moço entrasse e pudesse a conversa continuar mais perto do borralho, no aconchego da casa.
            Quiçá haja aqui uma referência à baixa temperatura da montada, de burro sem albarda; mas a mim o que mais me encanta na frase é esse humor tão nosso, tão meridional, a raiar a brincalhona malícia que o algarvio sempre sabe pôr na fala quotidiana.

            Publicado em VilAdentro [S. Brás de Alportel], nº 168 (Janeiro 2013) p. 10.

sábado, 19 de janeiro de 2013

«Património Histórico na Freguesia de Cascais»

              Merece o maior encómio a iniciativa da Junta de Freguesia de Cascais de patrocinar a edição do livro «Património Histórico na Freguesia de Cascais», da autoria de Manuel Eugénio F. Silva e José Ricardo C. Fialho, apresentado no passado dia 14 de Dezembro.
           O principal contributo da obra reside no facto de nela se terem procurado registar exaustivamente todos os ‘monumentos’ (usando a palavra no seu sentido mais lato) que existem, ou existiram até há pouco, no território da freguesia: casas com memória, chafarizes, fortalezas, grutas, monumentos, museus, placas-testemunhos, templos e… «o que já não existe».

Um trabalho meticuloso
            Trata-se de um trabalho sério, meticuloso, corajosamente levado a cabo por quem, ainda que sem formação histórica específica, tudo procura registar, aduzindo documentação adequada, amiúde esquecida.
Claro que, por isso mesmo, se torna aliciante, transformando-se como que num guia para quem deseje passear-se pelo termo da freguesia cascalense e será tentado depois a querer saber mais, recorrendo, então, a outros livros, com outro tipo de documentação. Alguns são indicados na mui reduzida bibliografia final, que uma visita à biblioteca municipal ou mesmo às edições camarárias (patrocinadas algumas, inclusive, pela própria Junta de Freguesia) logrará facilmente complementar.
Admira-me, por exemplo, que – certamente por modéstia – os autores não tenham querido citar os livros que já fizeram e que viriam a propósito; ou que hajam omitido não apenas livros que tratam especificamente dos monumentos ou até das placas que referem, designadamente uma obra que se me afigura de grande interesse neste domínio: «Povoamento e Arquitectura Popular na Freguesia de Cascais», edição da Junta de Freguesia de Cascais, em 2004, de João Cabral e Guilherme Cardoso; ou, ainda, o magnífico catálogo da exposição «Patrimónios de Cascais» editado pela Câmara (2003), devido também a João Cabral e à sua equipa do Gabinete de Arqueologia camarário.

Placas com letras e esculturas
            Tudo é, porém, passado a pente e, como epigrafista, não posso deixar de me congratular com a importância dada às placas comemorativas, designadamente aquelas que, numa louvável iniciativa da Câmara, foram sendo afixadas em casas onde viveram pessoas ilustres do nosso País. E também as placas evocativas de acontecimentos marcantes para a história local. Não lhes escapou, por exemplo, a placa que marcou a inauguração do Bairro Operário, a 12 de Março de 1933 (por lapso, vem indicado o mês de Maio, na p. 205); nem, no que se refere ao abastecimento de água na freguesia, o que foi durante muito tempo designado «o depósito de água», no Alto da Pampilheira, cuja placa de mármore (p. 158) dá conta de que a deliberação de o construir foi tomada na sessão camarária de 6 de Julho de 1898, sendo presidente da Câmara Jaime Artur da Costa Pinto.
            Um dos aspectos com que também mais me regozijo é o rol das esculturas plantadas em meio das nossas rotundas, incluído no capítulo «Monumentos». Há anos que pugno para que se faça tal roteiro. Agora se fez, ainda que de boa parte se desconheça o significado ou o nome; mas sempre ficamos com uma ideia de quando foi colocada e quem é o seu autor. Parabéns!

Algumas achegas
            E se, como epigrafista, fico consolado, como arqueólogo gostaria que – além da gruta do Poço Velho e da placa que assinala, no chão, o troço de muro de contenção da Ribeira das Vinhas identificado aquando, em 2008, ali se fizeram escavações para implantação dos contentores subterrâneos – também houvesse sido incluída entre o património histórico da freguesia a «villa» romana dos Casais Velhos, classificada como imóvel de interesse público pelo decreto-lei nº 29/84, de 25 de Junho. Creio que também poderá ter escapado uma notável epígrafe sita nas traseiras da cerca da Casa das Histórias Paula Rego, inicialmente incorporada num chafariz hoje desaparecido, não mencionado. Reza o seguinte:
«Sendo rei dos três Reinos Unidos de Portugal, Brasil e Algarves, o muito alto, poderoso e fidelíssimo Senhor D. João VI, se fez esta parada, em que trabalharam os soldados do Regimento nº 19, sendo coronel Francisco José da Costa do Amaral, o qual mandou colocar este padrão no ano de 1818».
            Tivemos ocasião de a recentemente analisar («Cascais – Paisagem com Pessoas dentro», Cascais, 2011, p. 50-52), chamando a atenção para o elevado interesse do seu conteúdo e da sua consequente preservação.
            Outro aspecto com que vivamente me regozijo é o de se haver retomado o que se fizera em 1995, no livro, que assinei com Guilherme Cardoso, «Para uma História da Água no Concelho de Cascais»: a importância dada aos chafarizes. Por sinal, não se indicou que ao chafariz estão habitualmente ligados os tanques de lavar roupa, como acontece na Charneca, na Areia e, ainda, no Cobre. São, de facto, ‘monumentos’; aliás, amiúde, o único monumento existente no lugar. Recordo, por exemplo, a pompa e circunstância de que se revestiu, em meados da década de 50, a inauguração, com a presença do Sr. Governador Civil, do modesto chafariz da então chamada Barraca de Pau, que vinha satisfazer as necessidades de abastecimento do «Bairro da Felecidade», assim designado em homenagem à mulher do seu construtor, Zé Martins, aglomerado populacional então relativamente importante, dada a grande comunidade de algarvios aí residentes, vindos para o trabalho nas pedreiras.
            Enfim, mais um relevante testemunho dá este livro de Manuel Eugénio e Ricardo Fialho para a história da freguesia de Cascais. Retrato minucioso e cuidado do que hoje por aí se vê – num convite, afinal, à descoberta de um rincão onde é bem agradável viver, porque… respira história por todos os poros!

Publicado em Jornal de Cascais, nº 329, 16.01.2013, p. 6.



sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Tertúlia «À 5ª no Monte» fez dois anos!


            Numa sociedade em que grassa o individualismo e o televisor é rei, o facto de um grupo de pessoas terem optado por, numa quinta-feira do mês, se reunirem em jantar, com o pretexto de conviverem e, aproveitando o ensejo, para convidarem um palestrante, reveste-se do maior significado e merece aplauso e… imitação, até porque, para além do jantar, outras iniciativas daí brotarem, como visitas de estudo a lugares de interesse na área da Grande Lisboa!
            O caso passa-se no Monte Estoril, onde, há dois anos, por iniciativa de uma professora aposentada da Escola João de Deus, a Dra. Elvira Bugalho, uma tertúlia mensal se realiza, tendo passado por ela personalidades que vieram reflectir sobre os mais diversos temas: a ideia de Deus, os vestígios romanos em Cascais, a I República em Cascais, o culto de Nossa Senhora do Cabo, os políticos vistos por Miguel Torga…
            O 2º aniversário de «À 5ª no Monte» comemorou-se, ontem, dia 17, com um almoço no restaurante de Oitavos, também ele cheio de tradição e postado sobre uma duna fóssil classificada como monumento geológico nacional (como, na ocasião, se teve ensejo de referir), não sem que, antes, os mais de trinta participantes tenham passado pelo Forte de S. Jorge de Oitavos, para verem a exposição permanente e, desde já, os primeiros passos da que vai apresentar-se sobre o naufrágio do navio «Gran Principessa di Toscana».
Cada mesa evocava um arruamento ou um local paradigmático do Monte; os lugares foram ditados por provérbios divididos a meio; e trocaram-se prendas para mais se fomentar o convívio e o espírito de comunidade.






Quando, repita-se, a Comunicação Social dá conta dos milhares de anciãos que vivem e morrem sós; quando, cada vez mais, os inquilinos de um prédio se não conhecem, inclusive por disporem de elevador próprio que os despeja na sala… o aparecimento de tertúlias como esta é motivo de aplauso e incitamento a que iniciativas do género se multipliquem. E queremos, por isso, que… seja notícia, a contrabalançar eficazmente as das desgraças com que diariamente nos bombardeiam!
                                                                                        
Publicado na edição de 18-01-2013, de Cyberjornal:

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

A dar que falar!...

             Foi, sem dúvida, uma consolação ter havido tantas oportunidades, na quadra natalícia e perto dela, de ouvir falar de S. Brás. Diversas foram as reportagens televisivas, sempre de elevado nível e a mostrar o que é mais típico das nossas gentes, das nossas tradições, do nosso viver quotidiano. E foi bom!
            Claro que – «água mole em pedra dura…» – nunca será de mais salientar quanto tudo isso se deve também ao dinamismo da equipa do Gabinete de Imagem, Documentação e Informação do Município, que não se cansa de dar conta de todas as iniciativas tanto as directamente ligadas à autarquia como as que partem do entusiasmo de colectividades e de particulares, indistintamente, porque se compreendeu – e bem! – que é nessa actividade conjunta que reside o segredo do sucesso.
            Como já tive ensejo de escrever, a imagem que ora passa é a de um concelho que «mexe», que vai à frente, que não se deixa desanimar! E qual o sucesso maior que se poderia almejar? Que cada vez mais gente viesse viver para o concelho; que cada vez menos casas estivessem desabitadas durante boa parte do ano; que se recuperassem as que ameaçam ruir; que a comunidade estrangeira residente não diminua, antes aumente, mercê de adequada promoção do conchego que este barrocal são-brasense indubitavelmente tem para oferecer.
            Longe do bulício das grandes cidades! Não foi por mero acaso que, juntamente com Lagos, Silves e Tavira, S. Brás criou a Associação Cittaslow Portugal, visando mostrar que o desenvolvimento das comunidades locais deve ser baseado «na capacidade de partilhar e reconhecer as suas especificidades intrínsecas, recuperá-las, divulgá-las e vivê-las profundamente». Longe desse bulício, sim, mas suficientemente perto também, para dessas urbes poder usufruir dos equipamentos complementares que não possui.
            Uma campanha, pois, a prosseguir sem desfalecimento, no plano interno e no estrangeiro, sem receio de parecer lugar-comum: «É bom viver em S. Brás!».
 
[Publicado em Notícias de S. Braz (S. Brás de Alportel), nº 194, 20 de Janeiro de 2013, p. 15].

 

 

                                  

           

Pouparam-se 30 000 vidas humanas!

              Mais de uma trintena de pessoas, entre os quais familiares do cônsul Aristides de Sousa Mendes, estiveram presentes, ontem, dia 15, no Museu Nacional de Arqueologia, para assistir à apresentação do livro Aristides de Sousa Mendes. 30 000 Vidas Humanas, da autoria de Teresa Mascarenhas.
            Abriu a sessão o Dr. António Carvalho, director do Museu, que se congratulou com a realização da sessão, dada a circunstância de ele próprio ter participado, enquanto técnico da Câmara Municipal de Cascais, em muitos actos, no País e no estrangeiro, ligados à reabilitação da memória e em homenagem ao cônsul, designadamente no quadro dos testemunhos expostos e guardados no Espaço dos Exílios, no Estoril, dedicado, como se sabe, a quantos, no decorrer da II Grande Guerra, por aqui passaram a caminho dos Estados Unidos e outros países, fugindo à perseguição nazi.
            Uma evocação com que a representante de Edições Esgotadas também se regozijou, agradecendo o pronto acolhimento dado à iniciativa por parte da direcção do Museu.
            Coube a José d’Encarnação a apresentação do volume, que se enquadra, disse, nesse movimento geral de repúdio do holocausto e de reabilitação da memória de um acto de puro heroísmo, consubstanciado na passagem de vistos, pelo então cônsul de Portugal em Bordéus, aos judeus em fuga. Relacionou esta obra com a de Júlia Néry, O Cônsul, de 1991; deu conta do currículo da autora, que, por exemplo, ganhou, em 1990, o prémio Revelação, da Associação Portuguesa de Escritores, com o livro Eu, Lourenço, Andarilho da Vida; e sublinhou o profundo significado do subtítulo da obra em apreço, «30 000 vidas humanas», num momento em que ao cego capitalismo reinante interessam números e falta essa imprescindível perspectiva humanista, porque «vida é existência, é sonho, é perspectiva de futuro, é comunhão com uma família, uma comunidade», aspectos que, na verdade, muito arredios andam da política contemporânea. Um livro, concluiu, de leitura deveras aliciante, «a gente pega nele e não despega», porque o enredo nos inebria e… queremos chegar ao fim!
            Teresa Mascarenhas agradeceu, no final, aproveitando o ensejo para verberar a política em vigor, que não acarinha a Cultura, por aparente desconhecimento da importância vital que as manifestações culturais de todo o género efectivamente representam para um Povo.

Publicado em Cyberjornal, edição de 16-01-2013:

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Será que a dança vem mesmo do céu?

             O projecto remonta a 1998 e, agrupando vontades de iniciativas congéneres, acabou por resultar no que hoje se designam as Academias Ai! A Dança, com salas de ensaio e aprendizagem em Sintra (I e II), Loures (I e II) Azambuja, Santa Iria e Pontinha.
            Realizou-se no passado sábado, dia 12, no Centro Cultural Olga Cadaval, em Sintra, que registou lotação esgotada em ambas as sessões, mais uma demonstração do trabalho que as academias estão a desenvolver a nível do ensino e aprendizagem dos vários tipos de dança e bailado.
O programa traz o nome de 598 alunos intervenientes, a que se juntaram, naturalmente, os 17 professores. E é de salientar que estiveram em palco desde criancinhas de três-quatro anos a «jovens» a raiar o que se chama a «terceira idade», num entrecruzar de níveis etários e numa demonstração plena de que, em todas as idades, a dança pode vir do céu para tornar mais sadia e agradável a vida aqui nesta terra!...
O espectáculo teve precisamente esse nome «a Dança vem do Céu» e foram 22 os quadros apresentados, nas modalidades que nas academias se praticam: «dirty dancing», dança suave, ballet, hip hop, dança contemporânea infantil e juvenil, broadway style, dança oriental, dança criativa, sevilhanas, flamenco, salsa & merengue…
E se a dança do ventre é susceptível de atrair praticantes pela sensualidade que dela se desprende; se o ballet nos transporta às grandes cenas clássicas; se a voluptuosidade da salsa e do merengue também seduz – não há dúvida que o ritmo das ‘danças de rua’, digamos assim, de movimento bem ritmado, em que todo o corpo se desdobra em posições quase impossíveis, esse ritmo continua a ser deveras contagiante. Não tivemos tango nem valsa – modalidades a requerer outro ambiente – mas as quase duas horas de danças ininterruptas, servidas por bem sugestivas coreografias, acabaram por encher as medidas dos espectadores, na sua totalidade amigos e familiares dos que actuaram, ‘artistas’ que longamente haviam ansiado por aqueles escassos minutos em que lhes era dado mostrar o que já haviam aprendido neste primeiro semestre.
A direcção de cena foi de Cristina Pereira, assistida por Raquel Pacheco e Rosália Rebelo e por toda uma equipa encarregada da maquilhagem, dos figurinos... E a Profª Lucília Bahleixo, directora artística, continua a merecer o mais vivo aplauso, pelo seu dinamismo, alegria contagiante, dedicação extrema e, além do mais, uma presença em palco quase constante! Parabéns!

Comprou palmilhas contra os cogumelos!

            Num alvoroço, o meu vizinho Carlos veio mostrar-me: comprara umas palmilhas «protecção dos cogumelos»!... Fabricadas, naturalmente, na RPC – vulgo China – traziam informações em três línguas: era o português a primeira, depois o castelhano e, por fim, o inglês.
            E se a primeira questão que se põe é o facto, até desculpável, de se confundirem fungos com cogumelos, dado que, por exemplo em Itália, cogumelos é «fungi» – e o que se quer dizer é que essas palmilhas evitam a propagação de fungos, um dos problemas de que podemos sofrer nos pés… – acabamos por nos interrogar, ao ler os textos, como é possível conceberem-se com tanta facilidade atentados às línguas. O que aí se lê na parte dita portuguesa é de fazer rir as pedras. Ora veja-se:
               Mas o que vem em castelhano segue no mesmo caminho e só lendo o inglês (ainda que incorrecto) é que temos uma ideia do que se pretende afirmar:
            «Esta palmilha facilita a ventilação, absorve o suor e protege dos fungos e dos gérmenes. Pode tirar-se e secar ao sol e torna os seus sapatos deveras confortáveis».
            Dificilmente tal mensagem se poderá deduzir do que as cinco linhas «em português» nos apresentam.
            O produto, como é natural, foi importado. É portuguesa a firma importadora e aí vem devidamente identificada (por sinal, sem erros ortográficos), com nº de contribuinte e telemóvel e morada.
E, aqui chegado, o jornalista nem sabe como é que há-de pegar no assunto: limita-se a dar conhecimento e a proporcionar, assim, uma boa risada aos seus leitores ou assume uma atitude mais crítica e ousa perguntar ao senhor importador se não tem vergonha de comercializar palmilhas… contra os cogumelos?
            Vou, pois, ficar-me por aqui, com a pergunta no ar, porque reconheço não ser missão da ASAE pugnar pela defesa da nossa língua mas sim, exclusivamente, pela boa qualidade dos produtos. E os cogumelos… que se cuidem!
 
Publicado no quinzenário Renascimento (Mangualde), nº 608, 15-01-2013, p. 3.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Tomaram posse os corpos sociais da Misericórdia de Cascais

            Numa cerimónia ritual, envolta na dignidade que o acto merecia, ocorreu, na passada quinta-feira, dia 4, a partir das 17 horas, na igreja da Misericórdia de Cascais, a cerimónia de posse dos corpos sociais para o triénio 2013-2015.
            Colaboraram dois grupos corais – um formado por funcionários da instituição e outro, a Tuna Sénior dos centros de dia – que foram sublinhando a solenidade do rito, no intervalo entre cada uma das suas partes. Assim aconteceu no início e no final, bem como após a saudação e leitura de uma passagem do Novo Testamento pelo Prior, Padre Nuno Coelho, e a tomada de posse dos membros da Assembleia Geral, um momento alto, esse, assinalado por uma sentida «Ave Maria» brilhantemente cantada a solo.
O actor Ricardo Carriço disse as obras de misericórdia, após o que tomaram posse, sucessivamente, os membros da Mesa Administrativa e do Conselho Fiscal da Santa Casa assim como do Conselho de Administração e do Conselho Fiscal da Fundação Portuguesa para o Estudo e Prevenção e Tratamento da Toxicodependência, organismo umbilicalmente ligado à Santa Casa.
Tanto o Senhor Presidente da Assembleia Geral, Juiz Conselheiro Armando Leandro, como o Senhor Presidente do Conselho Fiscal, Professor Doutor Alberto Ramalheira frisaram, nos seus discursos, a importância do acto e o seu enorme significado nas circunstâncias presentes em que o serviço social, a que a Santa Casa se dedica, assume papel relevante e imprescindível no seio da comunidade.

Prescindir do mais ter para o mais ser
Tomando a palavra, a Senhora Provedora, Dra. Isabel Miguens, começou por sublinhar que, existindo em Cascais esta Santa Casa desde 1551, «a matriz da sua acção tem sido sempre, e ainda hoje, a mesma: cumprir as obras de Misericórdia», com vista à formação de «uma sociedade mais humanizada e inclusiva, centrada no homem, ser único, e na sua magnífica dimensão familiar».
            Dedica-se, pois, a Misericórdia de Cascais a um trabalho específico, centrado no sector social, que terá de ser «uma opção de partilha sistemática com a sociedade e com os seus representantes», «um compromisso assente na confiança», «diariamente, um acto de humildade perante as graves situações que se nos deparam», «um trabalho profissional, rigoroso, temperado também com o afecto dos voluntários», «determinante no enlace entre gerações».
A actual crise económico-social, acentuou, «é também uma crise de valores, que nos obrigará a todos […] a uma introspecção a que certamente a nossa geração não esteve habituada»: «Prescindir do mais ter para o mais ser é um exercício a que ninguém se poderá negar».
E depois de se referir às novas circunstâncias que tornam ainda mais complexa a actividade que a Santa Casa se propõe desenvolver – o galopante aumento da pobreza, a abrupta diminuição dos chamados direitos sociais, o envelhecimento cada vez maior da população, o assustador crescente número de desempregados… – frisou bem que as organizações do sector social sem fins lucrativos devem ser «socialmente lucrativas, exemplares nas competências, enérgicas nas funções, para potenciarem capacidades».

Apoio diário a mais de 4000 famílias
            Traçou, de seguida, um panorama da actividade que a Santa Casa hoje desenvolve com os seus 620 trabalhadores, no apoio diário a mais de 4000 famílias: cerca de 2000 crianças e jovens, em 14 estabelecimentos; 48 crianças privadas de meio familiar ao seu cuidado num estabelecimento fora do concelho; 340 adultos deficientes e mais de mil idosos em lares, centros de dia e de convívio, e em apoio domiciliário. Ajudam-se famílias necessitadas de intervenção especial, nomeadamente através da articulação dos programas de Rendimento Social de Inserção, e desenvolve-se um trabalho especializado na área das dependências e na sua prevenção, através da Fundação Portuguesa para o Estudo, Prevenção e Tratamento da Toxicodependência.
            Por isso, as actividades comerciais a que a Misericórdia se entrega (refira-se a farmácia e a loja do Bom Apetite, em Alvide, dedicada à venda de refeições confeccionadas) têm como fim exclusivo proporcionar alguma ajuda à sustentabilidade desse trabalho social.
Isabel Miguens saudou, mais uma vez, as entidades presentes, na medida em que toda esta actividade tem, a seu ver, de resultar necessariamente de uma acção colectiva: «Sabemos bem que os nossos dossiês são os maiores da Segurança Social!», declarou, e fez uma referência especial «aos voluntários que partilham a vida da Instituição e, sobretudo, amenizam o dia-a-dia daqueles que servimos».
Concluiu, apontando as metas a atingir:
– Consolidar o trabalho em curso;
– Qualificar as áreas consideradas socialmente mais frágeis, através de um maior empenho na formação;
– Reforçar, através da Irmandade, o enlaçamento da comunidade do concelho com a Misericórdia e da Misericórdia com a comunidade;
– Pedir, pedir todos os dias o apoio dos voluntários;
– Apelar ao apoio do tecido empresarial, através de um reconhecimento mútuo e parcerias.
– Criar pequenas áreas de negócios, que garantam a sustentabilidade dos programas sociais.
– Trabalhar diariamente na motivação da sociedade para os problemas dos mais frágeis.
– Ser motor de mais e mais emprego.
– Ajudar o Estado a definir as suas funções e os seus limites.
E garantiu que «a Santa Casa da Misericórdia de Cascais continua disponível, como até hoje, para fazer parte da solução e da esperança, estando os seus órgãos sociais determinados a trabalhar muito para alcançar esse objectivo».
            Os oradores seguintes – Presidente da União das Misericórdias Portuguesas (Manuel Augusto Lopes de Lemos), o Secretário de Estado da Segurança Social (Dr. Marco Almeida Costa) e o Presidente da Câmara (Dr. Carlos Carreiras) – afinaram todos pelo mesmo diapasão positivo, da esperança, na promessa da maior colaboração. O Sr. Secretário de Estado, num vibrante discurso improvisado mas prenhe de significado, reconheceu quão difícil é trabalhar com o Presidente da União das Misericórdias, dado o seu elevado espírito crítico e a sua tenacidade, e comprometeu-se, por exemplo, a dar o mais rápido andamento à assinatura do protocolo referente à creche da Pampilheira. E o Sr. Presidente da Câmara deu a entender que rapidamente se resolveria também um problema candente e da maior preocupação para a Santa Casa, que é o processo referente ao Plano de Pormenor do local onde esteve a praça de touros.
            A igreja da Misericórdia foi pequena para conter a pequena multidão dos que desejaram associar-se ao acto, entre os quais registamos a presença da vice-presidente da Assembleia da República (Teresa Caeiro); da presidente do Instituto da Segurança Social (Mariana Ribeiro Ferreira); do deputado Dr. Ricardo Leite; de autarcas e antigos provedores; de Mário Assis Ferreira, ainda na sua qualidade de Presidente do Conselho de Administração da Estoril-Sol; de João Cordeiro, da Associação Nacional de Farmácias; de jornalistas da Comunicação Social local – para além de muitos trabalhadores da instituição.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Inaugurada, na Alapraia, a Casa do Alecrim

               Destinada a acolher 30 doentes com a doença de Alzheimer, em regime de internamento, a apoiar 50 em regime de centro de dia e 15 em apoio domiciliário, foi inaugurada pelo Sr. Presidente da Câmara, na tarde de Dia de Reis, na Alapraia, a Casa do Alecrim, uma iniciativa da Alzheimer Portugal, associação que reúne familiares e amigos de pessoas com essa doença.
            Trata-se de uma doença de peculiares características, determinada pelo precoce envelhecimento das células, que leva a pessoa a perder a noção de espaço e de tempo e, por conseguinte, de relação; exige, por isso, naturalmente, um tratamento específico e especializado, num ambiente propício.
            Criada há quase 25 anos, a associação tem procurado promover, a nível nacional, uma consciencialização cada vez maior de como podem conseguir-se respostas-modelo, que privilegiem a autonomia e a liberdade do doente, num processo em que o envolvimento da família é imprescindível. Foi criado, em Lisboa, a 6 de Janeiro de 2003, o 1º Centro de Dia Prof. Doutor Carlos Garcia (o fundador da associação) – daí também o simbolismo da data de 6-1-2013. E a associação detém o Centro de Dia  ‘Memória de Mim’, que funciona em Lavra, no concelho de Matosinhos, a cargo da delegação norte, e estás prestes a abrir outro, o Centro Marquês, em Pombal, sob tutela da delegação do Centro, augurando-se boas perspectivas para que idêntico equipamento venha a ser construído na Madeira.

A Casa do Alecrim
            Resultou este empreendimento da conjugação de um conjunto enorme de boas vontades e de parcerias quer de entidades publicas – em primeiro lugar, a Câmara, que cedeu o terreno – quer privadas (o Lions Clube de Cascais-Estoril, a Inner Wheel Cascais-Estoril, entre outras) a vários níveis: donativos, mecenato, voluntariado... Aliás, cada quarto é diferente, assinalando-se à entrada quem se responsabilizou pela decoração e deu o equipamento – um pormenor deveras cativante. O projecto foi oferecido. Os interessantes quadros que ornam as paredes dos corredores foram realizados, em Setembro de 2010, no âmbito da Acção de Responsabilidade Social da Generali, companhia de seguros que também tomou a seu cargo o ajardinamento do complexo.
            Descerrada a lápide e benzido o edifício pelo Senhor Prior, procedeu-se à visita às instalações.
A cerimónia protocolar começou pela oferta, da Dra. Dina Lopes, de um quadro de sua autoria e de uma cameleira. Maria do Rosário Zincke dos Reis, presidente cessante, pediu, de seguida, uma salva de palmas para o Dr. António Capucho, o «grande responsável por tudo isto», pois foi no decurso do seu mandato que se concretizou, em Setembro de 2003, a cedência do terreno onde o edifício se encontra implantado, e salientou o elevado espírito de colaboração demonstrado pelo empreiteiro, a Poliobra – Construções Civis, Lda.
A 1ª pedra foi lançada a 4 de Julho de 2009 e não pode dizer-se que o processo de execução não tenha sido longo e complicado. A licença de utilização já está concedida (adiantaria de seguida o Sr. Presidente da Câmara) e, por isso, a entrada em funcionamento vai agora ficar dependente da regularização dos acordos de cooperação com o Governo, designadamente no âmbito da Segurança Social, tendo a Dra. Mariana Ribeiro Ferreira, presidente do Instituto da Segurança Social garantido que tudo fará para que sejam rápidas as fases desse processo: «Esta casa», frisou, «é o exemplo do que é possível fazer neste concelho, onde existe uma rede social fortíssima, capaz de levar a bom termo uma resposta inovadora, como esta».

Uma lógica positiva
Carlos Carreiras saudou a presidente cessante e o novo presidente da Alzheimer Portugal, Engº João Carneiro da Silva, que nesse dia tomou posse, assim como a Dra. Fernanda Carrapatoso, que vai dirigir a Casa, e agradeceu, em seu nome e no de António Capucho (também presente) as palavras que haviam sido dirigidas à Câmara Municipal.
Acentuou o apelo a acreditar, a não desistir, a trabalhar no vector «bem-estar», uma das preocupações primeiras do Executivo a que preside. Cascais terá para isso o apoio de especialistas de renome e também nesse quadro esta inauguração não deve ser entendida como ponto de chegada mas, de modo especial, como ponto de partida. Referiu ainda quanto lhe agradara a possibilidade de haver cedido mais uns metros quadrados junto ao edifício, do lado norte, a fim de ali serem implantadas hortas, nomeadamente para serem cuidadas pelos utentes.
Três vasos de alecrim foram simbolicamente oferecidos a C. Carreiras, A. Capucho e a Mariana Ribeiro Ferreira, respectivamente, bem como a todos os voluntários colaboradores.
Seguiu-se um carcavelos de honra no salão, enquanto no pátio interior a banda da Sociedade de Instrução e Recreio de Janes e Malveira, que já dera as boas-vindas aos convidados no início da cerimónia, ora os brindou com um concerto.
Para além das personalidades citadas, refira-se a presença do Sr. Presidente da Junta de Freguesia do Estoril, Luciano Mourão; do deputado Dr. Ricardo Leite; do vereador da Saúde e Acção Social, Frederico Pinho de Almeida; do Dr. João Cordeiro, presidente da Associação Nacional de Farmácias (a ANF também colaborou no projecto); e da Dra. Leonor Beleza, que foi acompanhada na visita às instilações pela Dra. Manuela Mourão Morais, sem dúvida a grande pioneira da associação e, no seu início, uma das suas principais dinamizadoras.














quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

A surpresa e o murro nos que «governam» a Europa

       Falo dos que ‘governam’ da Europa, porque eles têm a ilusão de governar; não falo dos que ‘governam’ Portugal, porque esses há muito que sabem que não governam, não porque se atribua aos Lusitanos uma frase antiga legendária de serem um povo que não se governa nem se deixa governar, mas porque… sabe-se bem porquê: os centros de decisão situam-se algures noutro mundo!...
            Foi notícia o abraço à Casa da Música do Porto. Também se diz que os que ora ‘governam’ a RTP querem acabar com o programa da Praça da Alegria, emitido, há anos, sempre com êxito, a partir da Cidade Invicta. Coitados desses ‘governantes’ a quem ensinaram – mas eles depressa esqueceram (porque «professor» é raça a abater…) – que sempre foi no Norte que as revoluções começaram...
            Por isso me emocionou a mensagem que, em véspera de Ano Novo, me enviou Lourdes Calmeiro. Primeiro, porque trazia um poema do Torga: «De nenhum fruto queiras só metade». Depois, porque vinha em rodapé, como quem não quer a coisa, sem qualquer comentário, um enlace para o youtube: http://www.youtube.com/watch_popup?v=GBaHPND2QJg&vq=mediumhttp://www.youtube.com/watch_popup?v=GBaHPND2QJg&vq=medium
            Fui ver, por curiosidade. E de curiosidade trata esse enlace. Uma curiosidade que chama um, quatro, dez, cem… Primeiro, o homem do violoncelo, que até tem um chapéu no chão para receber esmolas. Pouco a pouco, porém, os rostos transformam-se. E as máquinas fotográficas disparam. E os telemóveis viram gravadores. E os putos trepam pelos candeeiros. E aquele até sobe a uma árvore. E há uma estreita porta donde sai um, saem dois, três… muitos! E, em Sabadell, a Plaça de San Roc, a partir das 18 horas desse 19 de Maio de 2012, começa a ficar cheia, diante dos Paços do Concelho. E a alegria do Hino à Alegria (da 9ª Sinfonia de Beethoven) espalha-se por dezenas de rostos – de homens, de velhos, de novos, de mulheres… Toda a Orquestra Simfònica del Vallès ali estava agora, numa dádiva, num carinho, espalhando emoção, tornando mais doce a agrura desse dia.
            E – por oposição – lembrei-me do abraço à Casa da Música. E apeteceu-me enviar esse enlace aos senhores que ’governam’. Logo desisti, porém. Eles não têm cinco minutos e 40 segundos para irem até à Plaça de San Roc, em Sabadell – por sinal, também em frente de uma instituição bancária…
            Mas para os meus amigos não resisti. Aí vai! Reserva tu cinco minutos e quarenta segundos para te sentires bem neste dealbar de 2013. E ganhares coragem para lutar em prol da Casa da Música, de todas as casas da Música, em prol da relevância imprescindível da Cultura e da Beleza no nosso quotidiano!
 
Publicado em Cyberjornal, edição de 1 de Janeiro de 2013:
http://www.cyberjornal.net/index.php?option=com_content&task=view&id=17629&Itemid=67

Há aposentos e… aposentos!

            Quando me aposentei, fiz questão em dizer aos que tiveram a gentileza de me acompanhar no jantar que assinalou esse momento da minha vida, que me recolhia aos meus aposentos mas… a porta ficava aberta!
            Já passaram mais de cinco anos, as portas continuam abertas e muita gente por lá tem entrado e saído e a partir de lá continuo, felizmente, activo.
            Estabeleceu-se, de novo, a discussão acerca do montante das pensões de reforma. Claro que se pretende falar – mas não se fala – das tais pensões milionárias ou as daqueles que, até 2005, ocuparam funções políticas durante meia dúzia de anos e auferem hoje boas maquias mensais, que acumulam, aliás, com outras funções, pois que ‘saíram’ bastante novos e ainda têm, portanto, forças ‘que importa aproveitar’…
            Pôr tudo no mesmo saco é, porém, imoral, como toda a gente sabe e proclama. E quando o senhor deputado centrista Hélder Amaral, por exemplo, declara que os reformados “têm um dever de solidariedade” para com o País, embora compreenda que “não tenham culpa do actual sistema de contribuições fiscais”, considerando ainda normal que “tivessem reais expectativas em relação ao seu futuro” e acrescentando que o Governo terá de encontrar um “equilíbrio justo” para que essas pessoas dêem o seu “contributo ao País”, à semelhança do que sucede com o conjunto da sociedade portuguesa, o senhor deputado não tem a menor ideia do que significa usar generalizações como essa. Aliás, eu duvido até que ele saiba o real significado de algumas das palavras que usa. O mesmo se diga do chefe do Executivo que criticou, a 16 de Dezembro, «os reformados que recebem pensões mais elevadas, advogando a necessidade de que estes procedam a um maior contributo para o Estado».
            Desça do pedestal, senhor deputado! Desça do pedestal, senhor Passos Coelho! Venham ver, na realidade, como é que as reformas de grande maioria dos portugueses (ia a escrever «dos vossos súbditos»…) estão a servir, neste momento, de indispensável apoio a tantos pais septuagenários, octogenários e nonagenários, a tantos filhos sem emprego, a tantos netos que estão, de facto, ao seu cuidado! Venham!
            Desçam do pedestal, meninos, e venham ver como se come o pão que o Diabo amassou, na classe média que Vossemecês estão apostados a destruir ainda mais, sem se aperceberem do que isso significa, porque… nunca estudaram História nem sabem, por isso, como rebentam as revoluções!

Publicado no quinzenário Renascimento (Mangualde), nº 607, 01-01-2013, p. 3.