domingo, 30 de novembro de 2014

Actualidade dos autos de Mestre Gil

           Autos? O Teatro Experimental de Cascais e Carlos Avilez têm em cena, no Mirita Casimiro, autos de Gil Vicente? Xaropada, só pode ser! Gil Vicente não é do século XVI? Passaram 500 anos, senhores! Muito se mudou! E a gente até teve de estudar isso na escola e rimos com a samicas de caganeira do parvo Joane. Parvo, sim, ele é. Por isso pode falar à vontade, que não lhe põem freio na boca. E não é que as verdades de há 500 anos são as mesmas d’agora? Com uma diferença, quiçá: há maior requinte na malandragem!...
            Portanto, actual, hemos de confessar. Tanto a vida folgada dos que não vão para a Índia como a prosápia dos que ambicionam a barca celestial e têm de seguir na outra.
            O gozo maior é, todavia, o de tudo vestir a pele de um musical. Tem-se a percepção nítida de que Carlos Avilez, Fernando Alvarez, Miguel Graça e os músicos Hugo Neves Reis e Pedro F. Sousa se divertiram à grande.
            Um divertimento contagiante! A não perder!

Publicado em Cyberjornal, edição de 27-11-2014:

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Teatro, lição de vida!

            Ao agradecer a homenagem que o TEC prestou a sua mãe, a filha de Mirita Casimiro realçou a importância que o Teatro detém na comunidade e incitou todos – novos e velhos – a frequentarem os teatros, não apenas para apreciarem uma Arte inigualável mas também para, dessa forma, ajudarem os actores e as companhias a prosseguir o seu trabalho.
            No Espaço TEC, em Cascais, inaugurou-se, no sábado, 22, a exposição evocativa da vida – curta mas bem preenchida – de Mirita Casimiro, cujo centenário do nascimento passou a 10 de Outubro. Maria Zulmira Casimiro de Almeida, de seu nome completo, viria a partir com apenas 55 anos, atormentada pelas sequelas de grave acidente de viação, que a incapacitara de prosseguir na sua brilhante carreira. Estreara-se em 1934, segundo uns, ou a 5 de Janeiro de 1935, segundo outros, na revista «Viva à Folia!», no Maria Vitória; Leitão de Barros escreveu expressamente para ela o guião do filme Maria Papoila (1937), uma criação imorredoira. De regresso do Brasil, onde se ‘refugiara’, foi acolhida pelo TEC, onde são inesquecíveis as suas interpretações em Mar, A Casa de Bernalda Alba e Maluquinha de Arroios (todas de 1966) e O Comissário de Polícia (1968), entre outras, sempre sob a direcção de Carlos Avilez.
            Muito participada, foi singela, mas emotiva – mormente para quantos tivemos a dita de viver esses esplendorosos e heróicos anos do TEC (sempre em luta com a Censura e não só…) – a abertura da exposição. Falou Carlos Avilez, a realçar o profissionalismo de Mirita; Fernando Alvarez (um dos responsáveis pela mostra) leu a mensagem que João Vasco (impossibilitado de estar presente devido à doença que o aflige) escreveu, numa evocação do que a Mirita ficáramos a dever; interveio a filha, sensibilizada e reconhecida, num apelo a que se não deixe morrer o Teatro; disse Norberto Barroca da biografia que está a escrever. Um grupo de alunos da Escola Profissional de Teatro de Cascais dançou, em alegre coreografia, a conhecida cantiga da Maria Papoila, «Adeus, ó terra!...».
            Reuniu-se ali muita documentação, mormente fotográfica, que vale a pena demoradamente apreciar. Uma carta manuscrita houve, porém, que significativamente me chamou a atenção. Não está datada. Assina-a a actriz, que escreve a Serra e Moura, na sua qualidade de “presidente da Assembleia-geral da Associação”:
            «Quero deixar bem vincado o meu reconhecimento pelas palavras que teve para comigo, que muito me sensibilizaram quer como actriz quer como mulher e mãe.
            Bem haja!».
            Nunca será de mais salientar o lúcido papel que Joaquim Miguel Serra e Moura teve como presidente da Junta de Turismo da Costa do Sol no apoio ao TEC e às manifestações culturais em geral, mesmo arriscando-se a ser mal visto pelo Poder, consciente da importância que as Artes – de todo o tipo – detêm para a comunidade. Um exemplo a não esquecer, nomeadamente nos tempos que correm, em que essa não parece ser uma prioridade política.

Eterno Gil Vicente!
            E essa reflexão leva-nos, necessariamente, aos dois autos de Gil Vicente que o Teatro Experimental de Cascais tem em cena: o Auto da Índia e o Auto da Barca do Inferno.
            Recorde-se que foram estas as peças que o então novinho TEC apresentou em Osaka, na Exposição Universal, no dia consagrado a Portugal, 24 de Agosto de 1970, com um elenco onde se integravam actores que davam os primeiros passos, digamos assim, nas suas carreiras: Maria do Céu Guerra, Rui Mendes, Mário Viegas, Zita Duarte, por exemplo.
            E a ‘eternidade’ da mensagem do consagrado autor quinhentista é agora realçada através de bem arrojada encenação: Carlos Avilez optou pelo… musical! Quem diria?!... Qualquer espectador imagina o ‘gozo’ que terá dado ao encenador e aos seus mais directos colaboradores (Fernando Alvarez na cenografia e figurinos, Miguel Graça na dramaturgia, Hugo Neves Reis e Pedro F. Sousa na música original no desenho de som, Natasha Tchitcherova na coreografia), a congeminarem na perpretação deste ‘crime’! Largas asas concederam à sua imaginação e o ‘crime’ aí está, pronto a ser venenosamente saboreado!
            Sim, escalpelizam-se os lúbricos devaneios das damas cujos maridos para a Índia se foram e por cá as deixam, jovens, sensuais e sozinhas; sim, rimo-nos com gosto dos que passaram a vida em esquemas de todo o tipo e pretendem, alfim, viajar na barca divinal e não têm mais remédio do que subir a prancha que a sedutora e azougada Vanessa, o Diabo em pessoa, lhes manda aprontar. Mas… quem há aí que não se desmanche quando o fidalgo (António Marques) se justifica, a cantar o fado; ou quando Teresa Côrte-Real se desdobra numa interpretação notável; e, sobretudo, quando o parvo, Joane, em «rap», atira as suas sarcásticas piadas: «Ó homens dos breviários, rapinastis coelhorum et pernis perdiguitorum e mijais nos campanários!». O máximo!...
            E, no final, bem divertidos, acabamos por dar inteira razão ao que se lê no texto de apresentação:
            «Obras em que se mantém vivo um retrato da Humanidade, com críticas que não poupam ninguém... se ontem foram fidalgos, padres ou magistrados mas também sapateiros e ladrões; hoje, podemos encontrar no texto paralelismos aos temas do nosso quotidiano
            Trata-se de uma reflexão sobre a contemporaneidade de temas como: a igreja, o tráfico humano, a corrupção, o desemprego, a pobreza ou a injustiça social... sustentando o que é a universalidade da obra de Gil Vicente.».
            Nem mais!

Publicado em Costa do Sol – Jornal Regional dos Concelhos de Oeiras e Cascais, nº 71, 26-11-2014, p. 6. Fotos retiradas, com a devida vénia, da página do TEC no Facebook, da autoria de Ricardo Rodrigues.

 

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Está um lindo dia para sorrir!

             Para neutralizar a negritude dos noticiários que nos pintam o quotidiano de desgraças, multiplicam-se na Internet as saborosas mensagens a apelar a uma visão mais positiva do tempo que nos é dado viver! Frases lindas, sábias, profundas, integradas sempre nas mais lindas paisagens, nos ângulos mais inesperados e surpreendentes. É um lavar d’alma!
        Não esperava, porém, que, numa área como a da estratégia comercial turística, também a mentalidade estivesse voltada para esse lado emotivo do Homem. E foi o Prof. José Manuel Hernández Mogollón, da Universidade da Extremadura (Cáceres), quem no-lo salientou, na comunicação apresentada, a 1 de Novembro, em Lisboa, no âmbito da Conferência Internacional «Heritage and Cultural Tourism», organizada pelo Departamento de Turismo da Lusófona e pela Progestur.
         Intitulou a sua intervenção «A transformação da indústria do turismo em uma indústria dos viajantes: o turismoslow, a ‘implicação’ e o turismo de experiências como eixos da mudança».
          Referiu-se, claro, ao slowfood e às slowcities, o «comer devagar» e as «cidades desapressadas», um dos meus temas preferidos, até porque S. Brás de Alportel, minha terra natal, cedo aderiu a esse movimento. Motes como vivedespacio, «vive devagar», «o consumo te consome», «o tempo é uma nova ferramenta para a qualidade», «o turismo, uma actividade a consumir com o sorriso», porque, aliás, «dá gozo planear uma viagem!»… acabam por ser, de facto, boas palavras de ordem, consubstanciadas, por exemplo, naquele saco que ostenta o letreiro: «Está hoje um lindo dia para sorrir!».
       É o advento de uma nova mentalidade, baseada no facto, provado, de que o turista recordará vida afora 10% do que ouviu na sua viagem, 30% do que leu sobre os sítios que visitou, 50% do que viu e 90% do que lhe foi dado fazer!
         Palavras como surpresa, participação, brincadeira, gozo e paz de espírito constituem, doravante, verdadeiras pedras de toque a potenciar.
      Muitos de nós começam a recusar-se a ouvir e a ver os noticiários, dada a superior carga negativa a que as concepções actuais da ‘notícia’ obedecem, de acordo com directrizes diligentemente planeadas; e nunca será de mais salientar que, afinal, o que mais se vê e do que mais se fala acabam por ser aquelas cenas de ternura em que, nomeadamente, intervêm animais, a dar – eles, sim! – exemplos deveras cativantes!

             Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 650, 15-11-2014, p. 11.
 
                                                                               José d'Encarnação

domingo, 23 de novembro de 2014

S. Brás na vanguarda da dieta

            Foi celebrado, a 26 de Setembro, p. p., o protocolo entre a Câmara Municipal e a Associação das Terras e das Gentes da Dieta Mediterrânica, segundo o qual esta associação passa a ter sede num espaço condigno do Centro Explicativo e de Acolhimento da Calçadinha.
            Congratulo-me vivamente e três comentários se me afiguram indispensáveis.
            1º) O espírito de abertura, prontamente manifestado, para, assim, melhor se aproveitar e dinamizar uma infra-estrutura criada pra um fim específico – o apoio à Calçadinha – mas que pode, sem mácula e com benefício, acolher esta entidade.
            2º) A grata coincidência, não ocasional seguramente, de ser são-brasense uma das maiores especialistas na defesa e divulgação da arte de bem comer e de excelentemente se apreciarem as viandas tradicionais, sabiamente confeccionadas e condimentadas com as múltiplas plantas que o campo generosamente nos dá e que, outrora colhidas, ora estavam votadas ao desprezo como «ervas» sem préstimo algum. Refiro-me, claro está, à Doutora Maria Manuel Valagão.
            3º) A possibilidade, que uma sede sempre proporciona, de mais eficazmente se gizarem consistentes campanhas de sensibilização das populações a recorrerem – como saudável alternativa ao chamado fastfood – àquilo que espontaneamente a Natureza nos oferece. Para isso, porém, uma das preocupações fundamentais será a adopção de atitudes respeitadoras do ambiente: como se terá abundância de bons poejos ou de suculentos agriões selvagens se se teimar em impermeabilizar os solos ou em conspurcar as linhas de água?

Publicado em Notícias de S. Braz [S. Brás de Alportel], nº 216, 20-11-2014, p. 21.

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Baixos do Palácio dos Condes da Guarda são embrião do Museu da História de Cascais

             A novidade – com que muito nos congratulamos – foi dada pelo Presidente da autarquia, no sábado, dia 15 (dia em que se comemoraram os 500 anos da outorga, por el-rei D. Manuel, de novo foral a Cascais), por ocasião da apresentação do trabalho de restauro do referido foral: os baixos do Palácio dos Condes da Guarda (actuais Paços do Concelho) vão ser abertos ao público e funcionarão como embrião de um museu da história do concelho.
            Para já, está lá exposto o foral; pode lá ver-se o vídeo que documenta o meticuloso trabalho executado, bem como cópias dos painéis sobre os 650 anos de história do concelho que se expõem no paredão, a nascente do Palácio Palmela, entre Cascais e o Monte Estoril.
            É também intenção do Executivo passar a proporcionar, dentro em breve, a visita do salão nobre, uma vez que – salientou-se – é uma pena não se disponibilizar aos turistas e aos cascalenses a observação, por exemplo, dos magníficos azulejos que ornam as paredes do salão.
            Se o excelente e meticuloso trabalho de consolidação e restauro do foral é obra de muito louvar, não o é menos, em meu entender, a iniciativa de criar este embrião, uma vez que assim se fica na expectativa de vir a ter concretização uma aspiração de há décadas!

Publicado em Cyberjornal, 16-11-2014:

Sacramente, 'Vox Maris' (en)cantou!

             O Grupo Coral Vox Maris, sediado no Hospital de Sant’Ana (Parede), desde 2008, deu, na tarde de domingo, 16, um concerto de música sacra na igreja matriz de Cascais.
            Envolvidos pela excelente acústica do templo e acarinhados pelo brilho amarelo das iluminadas talhas douradas dos altares, a meia centena de ouvintes (entre os quais, a vereadora Catarina Marques Vieira) não deram seguramente por mal empregue o seu tempo! Até S. Pedro, delongas barbas, majestaticamente sentado na sua cadeira episcopal, parecia mostrar-se deliciado com o que lhe era dado apreciar.
            Dirigido pelo maestro Rui Pinto e acompanhado ao órgão pelo Doutor Luís Cerqueira, o coro (17 elementos femininos e 8 masculinos) interpretou: «Veni Iesu», de L. Cherubini; «Cantate Domino», de G. Pitoni; «Ave-maria», de G. di Marzi; o «Pater Noster», à capela, do russo Nikolay Kedrov; «Ave verum», de Mozart.
            A peça nº 6 foi o conhecido «Amazing Grace», ao qual está ligada a história de John Newton, traficante de escravos, que, em apuros no alto mar, com um carregamento de escravos, invoca a graça do Altíssimo e, milagrosamente salvo, se torna cristão e paladino da luta anti-escravatura no Sul dos Estados Unidos; não é exactamente um espiritual negro a música que se compôs para a letra, mas leva-nos, sem dúvida, a esse horizonte cultural pleno de significado e misticismo.
            Seguiram-se, do francês Charles Gounod (1818 -1893), que compôs mais de 50 missas e de que é bem célebre a Ave Maria, três trechos da sua Missa Brevis: o Kyrie, o Gloria e o Agnus Dei. Vibrante o «Tollite hóstias», do compositor parisiense Camille Saint-Säens (século XIX); ligado às tradições evangélicas norte-americanas, «Ven alma que lloras», de Philip Paul Bliss; e, a terminar, o toque exótico do «Sanctus» cantado em língua eslava, retirado da Missa Eslava nº 3, de Urmas Sisask, compositor natural da Estónia.
            O maestro foi fazendo breve introdução a cada um dos trechos interpretados. E passaram rápidos os 45 minutos que a actuação durou. Cá fora, a humidade que se fazia sentir não logrou esmorecer o calor que Vox Maris maviosamente nos inoculara.

Publicado em Cyberjornal, 16-11-2014:

Palmeiras da Pampilheira não resistem!

            Os proprietários de vivendas na zona ocidental do Bairro da Pampilheira e também do Cobre, na freguesia de Cascais, começaram a abater as suas palmeiras, ferozmente atacadas pelo escaravelho-vermelho (Rhynchophorus ferrugineus), um besouro originário da Ásia. De um momento para o outro, a parte superior da palmeira cai e, pouco a pouco, são as folhas que fenecem, como varetas desconjuntadas de um guarda-chuva que o vento estragou.
            E se se noticiava, em Fevereiro, que «em Cascais e em Oeiras, por exemplo, as câmaras garantem ter as suas palmeiras debaixo de olho» e se acrescentava que, em cada um dos concelhos, apenas haviam sido «abatidas 28 plantas desde que a praga foi detectada» (recorde-se que esta batalha dura já há sete anos!), o certo é que, neste momento, nessa zona do bairro, já foram cortadas 3 e há mais umas 3 que o deverão ser proximamente. Um dos proprietários encheu um saco plástico com os escaravelhos, que pareciam multiplicar-se, à medida que se apanhavam!...
            Vemos, de facto, na área urbana da vila, mormente nas palmeiras sob tutela camarária, que um tubo junto ao tronco leva para cima remédio contar o invasor. Isso não impediu, porém, que mesmo uma das palmeiras junto ao Centro Cultural de Cascais já dê sinais de estar afectada.

Publicado em Cyberjornal, 16-11-2014:


sábado, 15 de novembro de 2014

Ideia e O Nosso Sonho ganharam prémios!

            O NOSSO SONHO (Cooperativa de Ensino e Solidariedade Social) e a IDEIA (Instituto para o Desenvolvimento Educativo Integrado na Acção) são duas instituições associadas que desenvolvem, no concelho de Cascais, com sede em Tires (freguesia de S. Domingos de Rana) uma acção notável no âmbito da educação e da solidariedade social.
            Para se compreender melhor a sua actividade, vejamos como ora se encontram estruturados, num designado Sector dos Estabelecimentos de Ensino, que engloba: o Centro de Educação e Desenvolvimento (CEIDe), em Tires, o Centro de Educação Infantil (CEI), em Matocheirinhos e o CEID´Outeiro, o mais recente, em Outeiro de Polima.
            O CEIDe – Centro de Educação e Desenvolvimento – é um estabelecimento de ensino do Instituto para o Desenvolvimento Educativo integrado na Acção (Ideia) que integra as valências de pré-escolar e 1º ciclo, sendo o pré-escolar uma resposta da rede solidária e a escola de 1º ciclo uma resposta particular. O Centro tem as suas instalações no Edifício Ideia, Av. Padre Agostinho Pereira da Silva, nº 820, Tires.
            O CEID´Outeiro é igualmente um estabelecimento de ensino da Ideia que integra, por agora, um pré-escolar, sito na Rua Ruben Rolo, Edifício Ideia – Outeiro.
            O CEI é um estabelecimento de ensino de O Nosso Sonho com um pré-escolar, também este uma resposta da rede solidária. O CEI funciona na Rua da Paz, Matoscheirinhos.
            No próximo dia 27, a IDEIA faz 23 anos de existência. Por seu turno, O NOSSO SONHO fará 28 em Março de 2015. Todas as valências da IDEIA e também de O NOSSO SONHO recebem as famílias durante esse dia 27 e/ou durante toda a semana.
            Uma vez que a IDEIA existe porque antes se fundou O NOSSO SONHO, vai lançar-se a brochura de comemoração dos 25 anos de O NOSSO SONHO.
            Entretanto, mau grado todas as dificuldades por que vai passando, resultantes, em boa medida, da falta de cumprimento de compromissos assumidos por parte de entidades que assinaram protocolos de colaboração, mas que tardam a cumpri-los, nomeadamente no que concerne a financiamentos, porquanto ambas as instituições se estão a substituir a organismos públicos para resolverem, por exemplo, problemas de inserção social, é justo realçar o dinamismo que todos os colaboradores põem nas suas actividades. Prova disso é o quadro que a seguir se apresenta a dar conta dos prémios ganhos pelas crianças nos concursos em que têm participado.
 
            Os nossos parabéns por obra tão meritória! E que nunca baixem os braços!

Publicado em Cyberjornal, edição de 15-11-2014:

Luís Dourdil homenageado no Casino Estoril

            No âmbito do XXVIII Salão de Outono, vai ser homenageado, na Galeria de Arte do Casino Estoril, o pintor e artista gráfico Luís Dourdil (Coimbra, 8-11-1914 – Lisboa, 1989), dado que passa este mês o centenário do seu nascimento.
            É por de mais conhecido o mural de têmpera a gema de ovo, restaurado este ano, que, em 1955, Luís Dourdil preparou para o Café Império, em Lisboa. Começou a expor em 1935 e fez na Sociedade Nacional de Belas Artes a maior parte das suas exposições. Participou também na colectiva Arte Portuguesa – Cascais 88, realizada no Palácio da Cidadela, na altura sob a tutela da Secretaria de Estado da Cultura, a funcionar como importante e mui significativa galeria. No Casino, integrou o número dos que se juntaram, em 1988, na mostra comemorativa do 50º aniversário de vida literária de Fernando Namora.
            Nuno Lima de Carvalho, o director da galeria, que tem pelo trabalho de Luís Dourdil o maior apreço, pois o considera um dos maiores pintores nossos contemporâneos, escolheu alguns dos seus quadros para figurarem neste salão. Aliás, já em 1990, poucos meses depois do seu falecimento, recorda Lima de Carvalho, a galeria lhe dedicou «uma exposição/homenagem, na qual participaram 72 artistas seus amigos».
            É de louvar uma iniciativa que vai na sua XXVIII edição! O Salão de Outono, exposição nas modalidades de pintura, desenho, fotografia e escultura, na qual participam artistas que integram habitualmente as exposições individuais ou colectivas, apresentadas na galeria do Casino – será inaugurado na próxima quinta-feira, dia 20, a partir das 21,30 horas, e estará patente todos os dias (excepto na véspera de Natal), das 15 às 24 horas, até 15 de Janeiro.

Publicado em Cyberjornal, edição de 14-11-2014:
http://www.cyberjornal.net/index.php?option=com_content&view=article&id=1013:luis-dourdil-homenageado-no-casino-estoril&catid=22:artes-plasticas&Itemid=30

Caiu parte do varandim da torre de menagem!

            As duas fotografias que se juntam são do fotógrafo Nicola di Nunzio, que assim captou o estado em que ficou o ângulo do varandim da torre de menagem do castelo de Beja, após ter caído ontem, quinta-feira, dia 13, parte do seu paramento.
            Felizmente, ninguém passava por perto no momento em que as pedras despegaram.
            Temos a certeza que este grito de alerta não deixará indiferentes não apenas a Direcção Regional de Cultura do Alentejo nem as outras entidades que deveriam superintender à conservação do nosso património histórico edificado.


Publicado em Cyberjornal, 14-11-2014:
http://www.cyberjornal.net/index.php?option=com_content&view=article&id=1012:beja-caiu-parte-do-varandim-da-torre-de-menagem&catid=78&Itemid=30

Casais Velhos - ali bem perto do mar do Guincho

            Sim, por ali teriam existido muros de casas que, de tão velhas, foram deixando de o ser. Além disso, haveria soleiras e ombreiras bem talhadas no lioz local – e era uma pena não as reaproveitar nas casas, mais novas essas, que se iam erguendo mais para o interior, como que a querer fugir do mar. Eram… «casais velhos», quiçá do tempo dos Mouros, sabia-se lá!... Bem conhecidos, portanto, de pastores e lavradores, que topavam nas pedras e, uma que outra vez, por ali acharam moedas e deram com alguma estranha caveira.
            Casais Velhos é um povoado romano, que prosperou pelo menos até ao século V da nossa era, a crermos nas poucas numismas que por ali se encontraram e se conseguiram recuperar. Classificado como imóvel de interesse público desde 25 de Junho de 1984, foi alvo de intervenções arqueológicas nomeadamente na década de 60 do século passado. E se o escolhi para o incluir nesta série de locais de um «Portugal desconhecido» foi porque, na verdade, o temos logrado manter nalgum recato, ainda que se localize bem perto do Guincho, uma das zonas de praias mais concorridas de Cascais.
            Teve muralha; alimentava-o um aqueduto, de que ainda há vestígios; seus habitantes usufruíram de termas de águas quentes e frias… Contudo, o que mais impressionou os arqueólogos foi o facto de, dentro de edifícios, haver estranhas tinas com tampa que se diria hermética. O mistério parece, porém, que foi desvendado, imagine-se, por se ter verificado, numa lixeira, abundância de conchas de purpura haemastoma, búzio marinho donde, macerado, se extrai a essência da púrpura, a cor dos mantos imperiais e das amplas barras das togas dos senadores romanos.
            Reza milenar tradição que foram os Fenícios os ‘inventores’ da púrpura. O achado dos Casais Velhos, por um lado, e o facto de por aqui abundarem os carrascais, onde se desenvolve a cochonilha, também ela fornecedora de adequada coloração carmim para os tecidos, levam-nos a pensar que – misturando ambos os produtos – os habitantes romanos dos Casais Velhos sabiamente lograram obter não uma contrafacção purpúrea mas algo que muito se assemelhava a esse requinte e que bastante mais barato lhes ficava, pois então! E o oceano ali tão perto – por onde o produto se poderia escoar!...

Publicado em Portugal-Post [Correio Luso-Hanseático] (Hamburgo), nº 56, Novembro de 2014, p. 16, integrado num ‘caderno’ sobre «Portugal desconhecido».

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Na prateleira - 35

As conversas ao vivo… morreram!
            Todos o sentimos, no metro, no comboio, no autocarro, à mesa, no sofá… Já não há conversas ao vivo. Há-as, sim, mas através de uns aparelhozinhos onde se passa com o dedo para cima, para baixo, para o lado… Outro dia, até demos com o nosso neto de dois anos a querer passar com o dedo as imagens da televisão!… ‘Vivemos’ com o mundo, com o Brasil, Paris, Londres, mas… esquecemo-nos de viver com os que estão ao nosso lado.
            Vêm estas considerações a propósito do que se vê a todo o momento, sim; no entanto, o pretexto maior é o que, decerto, bastantes de nós já receberam de amigos (e podem ver-se na Internet): os instantâneos colhidos nas ruas de Londres pelo fotógrafo londrino, Babycakes Romero, um deveras eloquente conjunto a que deu o significativo nome de "The Death of Conversation”, «a morte da conversação». Inclusive, um par de namorados, de braço dado, está cada um profundamente embrenhado nas imagens do seu smartphone! É caso para garantir: «Já não se namora como dantes!». Outrora, acendia-se um cigarro para entabular uma conversação, diz Babycakes Romero; hoje, liga-se o smartphone para acabar com ela!

Já é usual a «quentinha»
            Quando, em Outubro de 1989, estivemos, pela primeira vez, no Rio de Janeiro, admirámo-nos do hábito, já então aí vigente, de nos proporem, no final da refeição, se queríamos levar o que não comêramos do prato servido. Já tinham mesmo tudo programado, a «quentinha», como lhe chamavam, o recipiente de folha de alumínio, que hoje é banal em qualquer pronto-a-comer. Aproveitávamos habitualmente, pois o que sobejara do jantar dava para o almoço do dia seguinte, a não ser que topássemos pelo caminho de regresso ao apartamento com um sem-abrigo deveras necessitado.
            Estamos, pois, muito contentes por verificarmos que se torna cada vez mais essa uma prática corrente nos nossos restaurantes, onde, até há pouco, a comida que sobrava ia para o caldeirão dos restos, para o lixo, nem sequer servia, como nas décadas de 50 e 60, de lavadura para os porcos; e singular legislação, a cumprir entusiasticamente pelos agentes da ASAE, proibia qualquer reaproveitamento.
            Abençoada «quentinha»!

Os pombos
            Gostamos deles. Sabemos que não podemos dar comida aos que enxameiam as cidades e cujas fezes ácidas contribuem para deteriorar os monumentos. Sabemos que há um ditado popular que reza «casa de pombos, casa de tombos» – para desagrado dos columbófilos. Apreciamos, contudo, a sua fidelidade conjugal e não nos cansamos de lhes admirar os rituais de sedução, mesmo que ‘casados’ há muito! Um exemplo!
            Não deixei, porém, de sorrir para aquele casal que se passeava como quem não quer coisa numa das plataformas em serviço na estação de Cascais, no começo da tarde de 18 de Junho. Assim que o comboio chegou de Lisboa, abeiraram-se das portas e… foram sorrateiramente entrando, na mira de migalhas por ali caídas. Nunca imaginara tamanha capacidade de «desenrascanço»! Abençoados!

Coreografias de grupo – uma experiência para o envelhecimento activo
            Já tive ensejo de me referia à actividade que Teresa Meira está a desenvolver, com alunos dos 60 aos 86 anos, no Centro Eng.º Álvaro de Sousa, no Estoril. Chama-se Coreografias de Grupo (internacionalmente conhecida como Line Dance), tem técnicas específicas para os seniores, com a finalidade de se exercitar o cérebro ao nível da memória, ouvido, concentração e coordenação com a equipa, ao mesmo tempo que se dançam coreografias específicas, com músicas do “nosso tempo”, resultando em benefícios visíveis a nível de saúde, quer quanto ao colesterol, como muscular e ósseo.
            Era bom que mais instituições se consciencializassem da relevante importância de uma actividade assim.

A relatividade do quotidiano
            A data para a celebração foi escolhida tendo em conta as agendas dos vários intervenientes. Um bem aliciante final de tarde de segunda-feira; mas… pouca gente acorreu, apesar da divulgação feita.
            Hoje em dia, porém, a gente pensa que uma data e uma hora são as ideais e logo se lhe pranta em cima um aguaceiro, uma crise política, uma decapitação, o resultado de um referendo… E planeia-se um curso para adultos e pensa-se que o melhor é em horário pós-laboral e, depois, é a turma de dia que mais gente tem, porque pós-laboral há os putos para ir buscar à escola, a sopa para fazer, o farnel a preparar para o dia seguinte, o episódio da telenovela…
            Enfim, também nisso já me habituei à relatividade extrema do quotidiano.

Publicado em Costa do Sol – Jornal Regional dos Concelhos de Oeiras e Cascais, nº 69, 12-11-2014, p. 6.

sábado, 8 de novembro de 2014

S. Brás de Alportel – 100 anos de concelho!

             Publica a Câmara Municipal de S. Brás de Alportel uma das agendas culturais mais sedutoras.
            Sob o título São Brás Acontece, já vai nº 145 (Novembro 2014), tendo resistido à tentação de se apresentar exclusivamente em edição digital, bem ciente de que à Internet não são assim tantos os munícipes que têm a necessária versatilidade para aceder. Aliás, também nesse aspecto a Câmara dá lições a câmaras ditas urbanas e ‘progressivas’, que esquecem boa parte da sua população.
            Em formato de bolso, dá informação mensal acerca das actividades mais importantes programadas para o mês; apresenta sempre, no entanto, sessões específicas sobre sugestivos temas. Assim, por exemplo, depois de – duramente mais de um ano – se ter debruçado sobre as profissões tradicionais, com entrevistas a pessoas que ainda hoje as exercem, ideia que prossegue com reportagens sobre o comércio tradicional (é a vez, em Novembro, da Mercearia ‘Cavaco’, da D. Hortênsia) dá agora grande relevo à biodiversidade, ocupando-se em cada mês de um animal no seu habitat; neste mês, as cobras, sobre as quais se explica:
            «As cobras colaboram para a qualidade dos ecossistemas locais, sendo predadores de tudo que capturam, sobretudo pequenos roedores que são prejudiciais para as culturas agrícolas, contribuindo assim para ajudar indirectamente o homem».
            Baste este parágrafo para se compreender a utilidade e o alcance de tal informação. E desta forma se fortalece o espírito de comunidade e de partilha.
            A comemorar, desde 1 de Junho, o seu centenário de elevação de São Brás de Alportel a concelho, a agenda inclui um suplemento de 4 páginas destacáveis que manualmente traz ao grande público um pedaço da história são-brasense – o que não podemos também deixar de aplaudir.
            Como se encontra disponível na Internet, o meu convite é, pois, para – se tiver curiosidade, leitor amigo – dar uma espreitadela a: http://www.youblisher.com/p/1009789-Agenda-Sao-Bras-Acontece-Novembro-2014/ . E estou certo de que concordará comigo!

Publicado em Cyberjornal, edição de 8-11-2014:

«Ele está de volta» – uma sátira feroz à sociedade actual

            O livro do noremberguês Timur Vermes Ele Está de Volta, já traduzido em 35 línguas, constitui uma sátira feroz à sociedade actual. Um líder político ressuscita, depois de ter morrido em 1945, e queda-se estupefacto perante a nova realidade que ora lhe é dado viver no seu próprio país.
            Para já, ninguém acredita que é ele mesmo e tomam-no, portanto, como um farsante, pois dá a impressão que para ele o tempo parou e que, para ele, as ideias que há mais de 50 anos queria pôr em prática teriam hoje a mesma validade. Daí a ser convidado para um programa de televisão como humorista foi um passo, um programa assaz polémico, como seria de esperar, mas que, até por isso mesmo, acabou por redundar num êxito total, a ponto de uma editora – após largos meses de êxito – lhe propor mui rendível publicação de um livro. E é com esse livro, na primeira pessoa, que Timur Vermes nos brinda.
            Escusado será dizer que o estatuto de morto-vivo permite ao autor tecer sobre o mundo que o rodeia as observações mais acutilantes, obrigando-nos, pois, a nós próprios a reparar nas enormes incongruências de uma sociedade onde parece que tudo interessa menos viver o dia-a-dia. Sentimo-nos, amiúde, irmanados nessas críticas e, por isso, este é um dos livros cuja leitura, de tão aliciante, quase não permite pausas.

Alguns tópicos
            Das inúmeras situações (re)criadas e comentadas, respigo frases que se me afiguraram de acutilância maior (utilizei a edição de Setembro de 2013, de Lua de Papel).
            «Quanto maior for a mentira, mais dispostas estão as pessoas a acreditar nela» (p. 108).
            «O facto de no Ocidente as pessoas se poderem dedicar sobretudo a discussões infantis tinha que ver com o facto de as coisas mais importantes estarem a ser tratadas pela alta finança americana, que nesse continente continuava a dominar» (p. 108-109).
            «O chefe daquela pocilga preocupava-se mais com a cera do seu automóvel desportivo do que com as necessidades dos seus apoiantes» (p. 110).
            «Um povo saudável precisa de uma guerra de cinquenta em cinquenta anos para assim renovar o sangue» (p. 111).
            «[…] Os operadores de câmara […] são os funcionários mais sordidamente vestidos à face da Terra, superados apenas pelos fotógrafos de imprensa. Não sei por que motivo é assim, mas tenho a ideia de que os fotógrafos trazem muitas vezes vestidos os trapos que os operadores de câmara de televisão acabam de deitar fora. A razão de ser desses farrapos pode ter que ver com o facto de eles acharem que ninguém os irá ver, pois no fundo são eles quem tem a máquina na mão» (p. 154).
            «Aliás, engano-me muito raramente. Esta é uma das vantagens de uma pessoa só entrar na vida política com uma experiência de vida perfeitamente acabada. E não é à toa que eu digo “perfeitamente acabada”, pois nos dias que correm há muitos alegados políticos que talvez tenham passado um quarto de hora atrás de um balcão ou espreitado de passagem pelos portões de uma fábrica, acreditando por isso saber como é a vida real» (p. 176).
            «Nunca se sabe o que as pessoas podem aprontar com a assinatura. Hoje assina-se ingenuamente o nome num pedaço de papel, no dia seguinte alguém faz uma declaração com essa assinatura e, de um momento para o outro, já a Transilvânia passou irreversivelmente para um qualquer estado corrupto dos Balcãs» (p. 178).
            «Junto a uma grande auto-estrada, utilizada para transportar biliões de bens ao nível da economia nacional, há sempre um adorável coelhinho a tremer de medo» (p. 179).
            «[…] O único objectivo é espalhar o maior caos possível, de modo a que, na procura da verdade, as pessoas se vejam obrigadas a comprar mais jornais e a assistir a mais programas de televisão. Isso constata-se precisamente nas secções de economia, pelas quais antes ninguém se interessava, mas que agora todos têm de seguir para poderem ser ainda mais atemorizados por este terrorismo económico. Comprar acções, vender acções, agora ouro, agora obrigações, depois imóveis. O cidadão comum é forçado a enveredar por uma carreira paralela de especialista em finanças. O que em ultima análise apenas significa que participa agora num jogo de sorte e azar em que a aposta são as suas próprias poupanças, que tanto trabalhou para reunir. Não faz sentido» (p. 193).
            «Depois de um incêndio, eu não serei aquele que fica semanas e meses a chorar pela casa perdida, mas sim aquele que se põe a construir uma casa nova» (p. 252).
            Há também, naturalmente, comentários a propósito do uso constante do telemóvel; dos noticiários em que passam, rápidas, sob o apresentador notícias outras, de modo que a gente não sabe se há-de ligar ao que ele diz ou ao que está a passar…
            Saborosa é a crítica – em que o estratagema do ‘ressuscitado’ se arvora em inteligente escudo de salvaguarda.

Publicado em Cyberjornal, edição de 8-11-2014:

Catedrática de Coimbra condecorada pelo Governo Grego

             A Doutora Maria Helena da Rocha Pereira (Porto, 3-9-1925), Professora Catedrática da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra na área de Estudos Clássicos, foi condecorada, na passada quarta-feira, 5 de Novembro, pelo Embaixador da Grécia em Portugal, Panos Kalogeropoulos, com a Cruz da Ordem da Fénix, distinção superiormente outorgada pelo Presidente da República Helénica.
            A cerimónia decorreu na sede da Embaixada, ao Restelo, na presença de cerca de 50 convidados, entre os quais se contavam o Secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier; o presidente da Fundação Calouste Gulbenkian, Artur Santos Silva; representantes do Instituto Italiano de Cultura e de outras entidades ligadas à Cultura; amigos e colegas das universidades de Coimbra, Lisboa e Porto.
            O senhor Embaixador justificou a condecoração atendendo aos muitos estudos que, desde a licenciatura, a Doutora Rocha Pereira tem efectuado, elevando bem alto o apreço pela civilização e pela cultura da Grécia Antiga. Doutorou-se em 1956, com a tese «Concepções Helénicas de Felicidade no Além, de Homero a Platão», tornando-se, assim, a primeira mulher doutorada da vetusta Universidade de Coimbra. Foi também, aliás, a primeira mulher a exercer as funções de vice-reitora.
            Com mais de 500 trabalhos publicados, entre livros e artigos sobre Cultura Clássica (Grécia e Roma) e também sobre a temática cultural em geral, não será de somenos o seu labor em prol da efectiva e concretizada criação de uma ‘escola’, de forma que muitos discípulos seus prosseguem auspiciosos estudos sobre a Grécia Antiga e a Antiguidade Clássica.
            Visivelmente emocionada, a Doutora Helena Rocha Pereira agradeceu a homenagem e aproveitou o ensejo para, mais uma vez, salientar, no seu breve mas bem suculento discurso, o quanto a cultura ocidental deve à cultura grega antiga, em todos os aspectos, inclusive na política.
                Na foto: Sentada, a Doutora Rocha Pereira profere o seu discurso perante o Senhor Embaixador.

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

A saga das avaliações

            Apetece-me dar de «saga» uma definição levemente heterodoxa: um género literário em que o protagonista passa pelas mais incríveis situações e consegue, alfim, atingir os seus objectivos.
            Houve a saga dos descobrimentos portugueses. Há a saga dos reformados, que dia a dia labutam pela sua subsistência e pela dos filhos e netos.
            Outra saga é a das avaliações. E avaliados não faltam: somos todos nós!
            Não, não vou referir-me aos professores. Sou professor, fui avaliado a vida inteira, sempre me autoavaliei. E sinto-me bem.
            Quero referir-me à obrigatoriedade que ora há de um paper (perdão, um «texto»!) apenas ser válido para efeitos, primeiro, de publicação e, depois, da subsequente creditação, se devidamente apreciado por referees (desculpe: «relatores»!).
            Dois exemplos:
            1 F. é catedrático. Formou, portanto, discípulos na sua especialidade. Propõe um artigo para a revista (que, por sinal, até dirigiu durante anos). Por sugestão do actual director, propôs a inclusão de três imagens; um dos relatores (seu ex-aluno) achou a inclusão desnecessária; o segundo: mais uma imagem era importante!   
            2 Ao proponente pareceu-lhe de interesse elaborar sucinta nota sobre tema inédito que ora surgira. Um dos relatores deu parecer negativo: era imprescindível investigar melhor e, aliás, o autor até nem conhece – perorou – o resultado da última investigação publicada semanas atrás…
            Pois.
            Verifica-se, por outro lado, que há cada vez menos investigadores disponíveis para fazerem recensões bibliográficas, que devem vir assinadas e onde as opiniões carecem sempre de justificação adequada. Exacto: aí está o busílis! É que, na saga das avaliações, tudo se passa supostamente sob anonimato, o que constitui mais uma ‘anedota’ do sistema (os especialistas conhecem-se bem uns aos outros…). A recensão tem um objectivo claro de discussão científica, de apreciação fundamentada; por seu turno, a avaliação, esta avaliação apenas deveria ajuizar se o texto proposto reúne, ou não, as condições necessárias e suficientes para ser publicado, ou seja, submetido à consideração dos especialistas em geral; não tem de seguir obrigatoriamente a opinião do relator.

Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 649, 01-11-2014, p. 11.

 

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Hong Kong, um olhar diferente!

             Somente a partir de 1997, a população de Hong Kong deixou de estar indiferente ao seu património.
            A revelação foi feita por Gregory Ashworth, da Universidade de Groningen, no decorrer da Conferência Internacional «Cultural and Heritage Tourism», realizada, em Lisboa, pelo Departamento de Turismo da Universidade Lusófona e pela Progestur, nos dias 30 e 31 de Outubro e 1 de Novembro.
            Na conferência então proferida, subordinada ao tema «Mutuality: a viable aproach to postcolonial heritage», apresentou os resultados da investigação feita, nesse âmbito, em relação a três casos: o Suriname (antiga Guiana Holandesa), Hong-Kong e a «British army heritage in Canada (1701-1871)». E se, no primeiro caso, tudo o que recorda o colonizador não é apreciado, porque ainda se mantém a sua negativa conotação de esclavagista, no que se refere ao Canadá, as instalações militares inglesas estão a ser reabilitadas, encaram-se como património a preservar e, inclusive, em 2012 se comemoraram os 200 anos da guerra de libertação, porque assim se reafirma a identidade nacional, perante a potência vizinha, os Estados Unidos.
            Hong-Kong constituiu, como se sabe, uma colónia inglesa até 1997, ano em que se processou a sua integração na China. Ora, foi justamente a partir desse ano que a população compreendeu a necessidade de salvaguardar o que era a sua diferença face uma China milenar, detentora de uma cultura e de uma língua que lhe eram completamente alheias.
            Estes três significativos exemplos prendem-se, naturalmente, com o facto de a noção de património não ser algo de estático ou permanente. Circunstâncias exteriores, digamos assim, determinam essa «classificação». Nesse sentido, a comunicação de Gregory Ashworth deteve particular interesse para os portugueses, nomeadamente em contexto lusófono, uma vez que as nossas preocupações se centram, neste momento, em valorizar os testemunhos da presença portuguesa no mundo – e esse desiderato está a ser, habitualmente, bem compreendido pelos países que nasceram da descolonização. Recorde-se que têm origem portuguesa inúmeros monumentos classificados nas mais diversas partes do mundo.

Uma conferência de largos horizontes
            A referida Conferência Internacional contou com mais de uma centena de participantes. A greve da TAP impediu, no derradeiro momento, a vinda de alguns dos conferencistas estrangeiros, de forma que o programa incluiu 20 comunicantes dos 28 previstos.
            Entre os temas abordados, citem-se:
            a mudança operada no Museu Nacional de Arte Antiga (2010-2014);
            o enorme impacte (cultural e económico) que teve, em Bilbao, a criação do Museu Gugenheim;
            as festas de Lisboa;
            o festival internacional da máscara ibérica;
            o papel das Pousadas de Portugal e o cativante exemplo da Casa da Calçada, em Amarante;
            o relevo que detém a Rota do Românico;
            a componente turística na actividade de Fundação INATEL.
            Melanie Smith, da BKF University of Applied Sciences (Budapest), abordou a atitude que está a ser tomada em relação às minorias étnicas, dentro do prisma do turismo cultural (no caso, as minorias ciganas e suas tradições, em Budapeste) – aspectos positivos e aspectos negativos.
            De resto, larga panorâmica geográfica foi abrangida, se pensarmos que se analisaram as enormes potencialidades turísticas de uma região como Himachal Pradesh, um centro religioso deveras significativo na Índia; que se encararam os indígenas da América Latina de um ponto de vista antropológico; que se viu como, na actual Alemanha unificada, novas perspectivas se abrem em relação às estruturas habitacionais («old city quarters») da antiga Alemanha Democrática; que também as cidades chinesas se voltam para o turismo cultural; que, na cidade romana de Pompeios, a avalanche de visitantes implica noções claras de reabilitação e conservação do seu invulgar património arqueológico edificado…
            E se a cidade do Porto é ora susceptível de uma visita tendo como atractivo primordial a sua valiosa arte contemporânea, também se preconizou – e foi essa a acutilante intervenção do Prof. José Manuel Hernández Mogollón, da Universidade da Extremadura (Cáceres) – que há que introduzir, pouco a pouco, o conceito de saborear tudo devagar, não apenas a gastronomia (slowfood) mas também as cidades e as suas maravilhas (slowcities).

Publicado em Cyberjornal, edição de 03-11-2014:
http://www.cyberjornal.net/index.php?option=com_content&view=article&id=978:hong-kong-um-olhar-diferente&catid=37&Itemid=30