Houve
a saga dos descobrimentos portugueses. Há a saga dos reformados, que dia a dia
labutam pela sua subsistência e pela dos filhos e netos.
Outra
saga é a das avaliações. E avaliados não faltam: somos todos nós!
Não,
não vou referir-me aos professores. Sou professor, fui avaliado a vida inteira,
sempre me autoavaliei. E sinto-me bem.
Quero
referir-me à obrigatoriedade que ora há de um paper (perdão, um «texto»!) apenas ser válido para efeitos,
primeiro, de publicação e, depois, da subsequente creditação, se devidamente apreciado
por referees (desculpe: «relatores»!).
Dois
exemplos:
1
‒ F. é catedrático. Formou, portanto,
discípulos na sua especialidade. Propõe um artigo para a revista (que, por
sinal, até dirigiu durante anos). Por sugestão do actual director, propôs a
inclusão de três imagens; um dos relatores (seu ex-aluno) achou a inclusão desnecessária;
o segundo: mais uma imagem era importante!
2
‒ Ao proponente pareceu-lhe de
interesse elaborar sucinta nota sobre tema inédito que ora surgira. Um dos relatores
deu parecer negativo: era imprescindível investigar melhor e, aliás, o autor
até nem conhece – perorou – o resultado da última investigação publicada
semanas atrás…
Pois.
Verifica-se,
por outro lado, que há cada vez menos investigadores disponíveis para fazerem
recensões bibliográficas, que devem vir assinadas e onde as opiniões carecem
sempre de justificação adequada. Exacto: aí está o busílis! É que, na saga das avaliações,
tudo se passa supostamente sob anonimato, o que constitui mais uma ‘anedota’ do
sistema (os especialistas conhecem-se bem uns aos outros…). A recensão tem um
objectivo claro de discussão científica, de apreciação fundamentada; por seu
turno, a avaliação, esta avaliação apenas
deveria ajuizar se o texto proposto reúne, ou não, as condições necessárias e
suficientes para ser publicado, ou seja, submetido à consideração dos especialistas
em geral; não tem de seguir obrigatoriamente a opinião do relator.
Publicado
em Renascimento
(Mangualde), nº 649, 01-11-2014,
p. 11.
Guilherme Cardoso comentou:
ResponderEliminar"Aquilo que me deixa mais descansado é que chegará o momento em que certos "avaliadores" de hoje serão os avaliados de amanhã. Passamos a vida inteira a lembrarmo-nos que a Terra é redonda, porque a vemos plana, o que quer dizer: umas vezes por cima, outras por baixo..."