quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Na prateleira - 9

Luto
            Chorámos pela Ana Rita, de 24 anos, dos Bombeiros de Alcabideche. Fazemos diariamente votos para que as promessas feitas no calor da imensa mágoa não caiam em saco roto. Chorámos o Bernardo Figueiredo dos Bombeiros do Estoril, de 23 anos, apanhado pelo mesmo incêndio traiçoeiro, para cujo combate generosamente se haviam oferecido, lá nos confins da Beira.
            Luto pesado caiu sobre Cascais.
            Mas, do outro lado do nosso ser, rompeu, mais uma vez, a revolta. Não há castigo exemplar para os incendiários? Que leis são estas, que punem quem tira, para matar a fome, uma lata de salsichas do supermercado e manda em liberdade condicional quem acarreta milhões de prejuízo ao País, a todos nós, contribuintes?

40 horas
            Cada cavadela, cada minhoca! Tudo porque não imaginaram (é estranho, de facto!) que estão a lidar com pessoas e que, afinal de contas, também eles são pessoas. Pelo menos, parecem!
            No dia 30 de Agosto, a grande novidade: Sua Excelência, o Senhor Presidente da República promulgara «o diploma que prevê um acréscimo de cinco horas semanais ao horário de trabalho dos funcionários públicos». O raciocínio, muito simples: «Mais horas de trabalho, maior rendimento, com os mesmos custos!». Asneira, claro! E logo o antigo conselheiro de Passos Coelho, António Nogueira Leite, veio explicar:
            «Na prática, o aumento para 40 horas não vai pôr a Administração Pública a trabalhar mais. […] O que tinha mais efeito era que, na Função Pública, uma parte do vencimento fosse indexado à performance das pessoas». (Aqui para nós, quando o senhor diz performance não está a falar de perfumes ou afins; está a usar uma palavra inglesa – “é bem, percebe!...” – que significa «dedicação, competência, entrega a uma causa, entusiasmo» – ena, pá, quantas palavras a gente tem para dizer aquilo!...).
            Pois é, amigo Nogueira Leite, o senhor é «antigo» conselheiro, não se esqueça; agora, os conselheiros são outros e têm outras performances! Oh se têm!... Ah! Mas não ligam às performances dos outros!...

Próxima, sim, mas muito pouco!
            Chama-se «Cascais Próxima» a empresa municipal que gere, por exemplo, os parques de estacionamento. Não poderia ter nome mais apropriado, porque, na verdade, está mesmo «próxima» de nós, pois dificilmente na vila estaremos longe de um local onde se não tenha de pagar pelo estacionamento.
            Então qual a razão do título desta nota «Próxima, sim, mas muito pouco!»? Simplesmente, porque, em ocasião de grandes cerimónias, como o foi, por exemplo, no final da tarde de domingo, 8 de Setembro, a solene abertura do Congresso Internacional dos Museus Marítimos, os responsáveis por essa tal de Cascais Próxima poderiam ter-se lembrado de facilitar gratuitamente o estacionamento no parque fronteiro à Casa das Histórias Paula Rego das viaturas de jornalistas devidamente identificados e, sobretudo, dos técnicos camarários que, por razões de serviço, ali se deslocaram em carros camarários, que, como se sabe, estão devidamente identificados. E fiquei a saber que era assim: mesmo os veículos camarários têm de pagar à Cascais Próxima!
            Esperemos, pois, que pelo menos essa empresa dê avultados lucros no final do ano. O problema estará em que – palpita-me!... – tão próxima está que os lucros não serão partilhados com a Câmara Municipal, que é sua mãe. Emancipou-se, a menina! Se nem os parques ela quer partilhar!...

Cascais no centro da meteorologia!
            Desde há uns tempos a esta parte que os boletins do Instituto Português do Mar e da Atmosfera citam habitualmente Cascais. Nunca tal sucedera antes e nós até nem nos importávamos muito com isso. Deve ter havido alguém que resolveu, no entanto, achar que a vila também neste caso estava a ser desconsiderada e, por isso, vá de meter a cunha: «Oiçam lá, meninos, vocês não podem falar de Cascais todos os dias? Era assim a modos de uma forma de fazerem publicidade cá do burgo, entendem?». E os senhores do IPMA têm sido bem mandados: ele é «a norte de Cascais», ele é «a sul de Cascais»…
            Nós os que vivemos em Cascais há algumas dezenas de anos parece-me que sabemos (se calhar, não sabemos…) que, por estas bandas, é pela Serra de Sintra que se faz a distinção do tempo: para norte, é capaz de chover e estar nevoeiro; para sul, ou seja, em todo o território cascalense, normalmente o tempo é outro. E quanto ao sul, se falassem em Cabo da Roca (disseram-me que também podia ser a partir do Cabo Raso) a gente ainda entendia; agora para ‘sul de Cascais’!… A senhora do IPMA que me atendeu, quando eu liguei para lá a pedir uma explicação, respondeu-me mais ou menos assim: «Estamos a falar da costa e quando se diz ‘a sul de Cascais’ é de Cascais até Vila Real de Santo António!».
            Compreendi que tinha sido uma grande cunha, essa de se falar de Cascais na meteorologia. Abençoada cunha!

Publicado em Costa do Sol – Jornal Regional dos Concelhos de Oeiras e Cascais, nº 15, 25-09-2013, p. 12.

Os são-brasenses migrantes

             Referíamo-nos, na passada edição, aos são-brasenses que demandaram outros países.
            Grande responsável da ida, por exemplo, de canteiros para Marrocos deve ter sido o grande entusiasta da fundação do nosso concelho, João Rosa Beatriz, que, como vice-cônsul de Portugal em Mazagão, facilmente logrou regularizar a situação dos são-brasenses que chegavam àquele reino em busca de trabalho. Muitos deles foram para a zona de Meknés, abundante em pedreiras, cidade onde, aliás, após 1940, Rosa Beatriz foi obrigado a residir pelo representantes do governo francês em Marrocos, devido à sua atitude política não estar conforme às leis aí em vigor.
            Mas amiúde se fala desses trabalhadores da pedra e da influência que posteriormente vieram a ter, justamente porque, depois de acabadas as obras em Marrocos, debandaram, por exemplo, Cascais, para trabalharem nas pedreiras.
            Deveras oportuna foi, pois, a notícia veiculada pelo nosso jornal, também na edição de Agosto último (p. 13), referente à presença de são-brasenses em Ermidas-Sado, neste caso no âmbito da actividade corticeira.
            Da ida de mão-de-obra para a esgalha da cortiça no Alentejo, em meados do século passado, muitos ainda estarão lembrados. Agora, a monografia de Paulo Alexandre Gomes, Ermidas-Sado – História de uma Povoação Contemporânea, editada, em 2000, pela Junta de Freguesia local, de que – mui justamente – o nosso director ora se fez eco, veio chamar a atenção para o importante papel que tiveram os homens da cortiça são-brasense no desenvolvimento dessa povoação de encruzilhada, servida pelo caminho-de-ferro precisamente para dar vazão à cortiça.
            Fomos lançando sementes aqui e além, terra de encruzilhada que também somos. E essa é uma história que não podemos esquecer!

 [Publicado em Notícias de S. Braz (S. Brás de Alportel), nº 202, 20 de Setembro de 2013, p. 21].

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Não quero que saibam o meu nome!

              Amiúde estão voltados os cartões de identificação de quem nos atende em estabelecimentos públicos. Pode ser distracção; mas não se errará, decerto, se interpretarmos essa ‘distracção’ como «Não quero que saibam o meu nome!».
            Tenho pena – porque as instituições são feitas de pessoas, pessoas que têm nome, sentimentos, família!... E já nos basta que os ‘governantes’ o esqueçam! Tudo devemos fazer, acho eu, para que tal esquecimento se não generalize.
            Gosto de falar com pessoas que têm nome e aplaudi, por isso, a imediata reacção de Liliana Sintra, no Facebook, quando, a propósito da morte que enlutou o País, se insurgiu: «Não foi uma bombeira! Foi a Ana Rita, de 24 anos!».
            Nas aulas de Política Cultural Autárquica, sempre insisti: «Atenção! Não é a Câmara que convida para a iniciativa: é o seu presidente – que tem nome!».
            Escrevi, não há muito tempo, para uma entidade a solicitar esclarecimento acerca de decisão tomada. Responderam-me de imediato, inclusive terminando a mensagem com saudação estereotipada («Reciba un cordial saludo»), mas… sem qualquer ‘assinatura’. Retorqui e obtive nova resposta, de novo sem identificação pessoal. Não resisti e, na terceira mensagem, comentei: «Bem hajam pela pronta resposta (como não vem assinada, não sei se é uma pessoa só que me responde ou se são várias, desculpem!)».
            Resposta:
            «No tenemos por costumbre poner el nombre en los correos ya que somos varias personas las que trabajamos contestando estos correos. Mi nombre es Paula Campos».
            A minta reacção foi, naturalmente:
            «Perdoar-me-á, Paula: uma equipa, por mais coesa que seja, é constituída por pessoas; se nos deixamos ‘triturar’ por uma engrenagem, em que a individualidade fique submersa, a globalização toma posse de nós e mais facilmente os ‘governos’ serão tentados a considerar-nos números!».
            A Paula não comentou.
            E pensei com os meus botões: se, no dia-a-dia, queremos ser anónimos, que razão temos para nos queixarmos de que não nos tratem como pessoas?        
            Post-scriptum: Curioso verificar, ao invés, que, em vez de termos uma Secretaria de Estado da Cultura, se optou por designar essa instituição como «Secretário de Estado da Cultura». Ora toma! Quando li pela primeira vez, pensei que fora lapso; não é! Fiquei estupefacto! Neste caso, acontece o fenómeno: o homem é a instituição!

Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 623, 15-09-2013, p. 20.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Outro milagre na Galiza!

            Os milagres são obra de uma pessoa. Há, sempre, claro, uma equipa à sua volta; mas sem aquela voz de comando, forte, entusiasta, pronta a ultrapassar todas as barreiras… o milagre acabaria por não acontecer.
            No Alto da Galiza (S. João do Estoril, Cascais), era o fim do mundo; Irmã Elvira, das Filhas de Maria Auxiliadora, fomentou o milagre. E há a singular igreja da Senhora da Boa Nova, o auditório, uma comunidade… O espírito salesiano alastrou e singelo ATL (núcleo de Actividades de Tempos Livres), aparentemente igual a tantos, encontrou em Maria Gaivão a outra taumaturga: Vam’lá! Essa, a expressão mágica, diária, que desconhece o significado da palavra hesitação.
            Assim, os Guerreiros da Galiza, feliz designação da Escolinha de Rugby ali criada em Setembro de 2006. Desvairada loucura, comentou-se; todavia, o milagre veio sob a capa de mais um «vam’lá!».
            Foi pequeno o auditório do Centro Cultural de Cascais para tanta gente que ali acorreu, no final de tarde do passado dia 12 de Setembro. Pretexto: o lançamento do elucidativo (e bonito!) álbum Os Guerreiros da Galiza. Foi a Câmara Municipal op patrocinador executivo; a Biorumo (Consultadoria em Ambiente e Sustentabilidade), a patrocinadora editorial. Colecção de nome sugestivo: Pequenos Nadas! – que de pequenos nadas, afinal, se nos entretece a existência!... Coordenação de Nuno de Oliveira e Catarina Mota; texto de Lúcia Cruz; maquetização de João Mota; ISBN: 978-972-99688-6-0.
            Para além das fotos, a darem conta de que são os incríveis instantâneos dos praticantes de râguebi em acção, os depoimentos da Câmara, da Santa Casa, de Maria Gaivão: uma entrevista a Tomaz Morais; a história da «escolinha guerreira» (a ideia, os primeiros tempos; os guerreiros que criam, que confiam, que conquistam, que ajudam…). Nas capas interiores, o rol dos guerreiros… Aqui e além, em destaque, as frases que norteiam esta ‘guerra’:
            «É também através da promoção de uma actividade desportiva contínua que os jovens podem adquirir valores e atitudes importantes e com grande reflexo no futuro de cada uma dessas crianças». «Não é preciso ficar triste, que da próxima vez sairá bem melhor. Não te esqueças que estás a aprender!».
            «Estas crianças estão habituadas a aguentar no limite tudo o que lhes acontece e a sua determinação torna-as verdadeiras vencedoras».
            Nuno Oliveira, da editora, abriu a sessão, a explicar como tudo começou. Isabel Miguéns, provedora da Santa Casa da Misericórdia de Cascais (a que o ATL pertence), recordou como a prática desportiva integra eficazmente a acção educativa; louvou os voluntários e a vasta equipa responsável pelo projecto; sublinhou como o aumento do sucesso escolar constituía visível reflexo dos benefícios obtidos; frisou a necessidade do imprescindível recurso à competência, concluindo que, também aqui, «já se rompeu a barreira do bairro». Luís Soares, da Biorumo, disse do orgulho da sua empresa em ser parte integrante do projecto. Por fim, o presidente da autarquia centrou a sua reflexão em quatro pontos: sucesso, felicidade, amor ao próximo e comunidade: «É espantoso», disse, «o que se consegue com tão pouco; como, afinal, a felicidade é atingível através de coisas simples».
                          A actividade destes guerreiros do ATL da Galiza pode ser seguida em http://www.facebook.com/escolinhaderugbydagaliza.
E no blogue:
http://escolinhadagaliza.blogspot.pt/

Publicado no Cyberjornal, edição de 16-09-2013:

sábado, 14 de setembro de 2013

O mundo do paredão

             Quarta-feira, 4, meio da manhã.
            Do muro da piscina do Tamariz observo, em silêncio, o mar humano, embalado eu pelo marulhar das pequenas ondas do mar real.
            É o tempo dos grupos de seniores dos centros de dia das freguesias vizinhas (de Lisboa também, claro!). Aventuram-se alguns pela água, outros ficam-se sentados nas rochas e molham os pés ou optam por lento passeio no paredão.
            O contínuo vaivém de mundo, aqui, acaba por me seduzir sempre.
            Não há um andar igual: despreocupado este; compassado aquele, em jeito de quem faz caminhada higiénica; elegante aqueloutro, como em desfile de moda; açodado aquele mais além, pela força do canito que o puxa…
            Um mundo pejado de pensamentos, onde, ninguém, afinal, pode entrar, e que só de quando em quando são traídos por um sorriso diferente, um olhar curioso ou leve abanar de cabeça.
            Gosto deste paredão; sem dúvida, um dos locais mais aprazíveis de Cascais. Ontem, um grupo de jovens também por aqui se passeou, com bandeiras e camisolas iguais, a distribuir folhetos e bolinhas de Berlim…
            De todos os transeuntes, só há um tipo de que tenho pena. Não, não é o do senhor em cadeira de rodas motorizada. Esse, não – que ostenta ar de quem se conformou plenamente com a situação para que maleita ou acidente o atirou. Vive agora como lhe é dado viver, em serenidade (parece!). Dos que tenho pena? Dos de auscultadores nos ouvidos, alheados assim do tal incessante marulhar repousante, surdos ao suave trabalhar das avionetas, ao passar abafado do comboio, ao pregão cantado da senhora das bolas de Berlim, desinteressados do grito ocasional da gaivota, incapazes de fazer silêncio dentro de si para se abrirem ao mundo em que, afinal, realmente vivem. Que o dos auscultadores é, de certeza, um mundo bem diferente. Acho eu. Desisto de observar – vou dar umas braçadas!
            Espera!
            Olha aquela avozinha! Pesadamente vestida, chapéu de palha, caminha devagar. O peso dos anos. Do levantar bem cedo de outrora, a preparar farnel pró marido, a tratar da criação… E, agora, a contar os cêntimos, e ai, meu Deus, se ainda me cortam mais na magra pensão que recebo!...
            E já viste como se ergueu, rápido, o esqueleto dos luxuosos apartamentos onde, não há muito, estava o Hotel Atlântico? Sim, já vi. Achas que pensaram em manter em lugar digno um memorial do que ali se viveu e maquinou durante a última Grande Guerra? Algo que, por exemplo, remeta para o Espaço dos Exílios, um pouco mais adiante, no Estoril, a fim de que a memória se não perca? Isso não sei. Oxalá nisso se haja pensado.

Publicado em Costa do Sol – Jornal Regional dos Concelhos de Oeiras e Cascais, nº 13, 11-09-2013, p. 6.

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Vamos chamar os animais!

            – Buche, buche, buche!
            E lá vem ele. Não lhe sei o nome. Guarda o prédio do meu vizinho, que raramente está cá e, por isso, quando sobra ossinho de jeito, não hesito e vou lá dar-lho.
            Surpreendi-me quando assim o chamei pela primeira vez. E dei-me conta de que era assim (ou, talvez, ‘pôche, pôche’) que meu pai chamava o nosso cão (sempre tivemos um), fosse qual fosse o seu nome. Donde virá a palavra não no sei; do francês «bouche», ‘boca’, que é como quem diz «Anda cá, menino, que tenho algo para trincares!»? Quem sabe?!
            Como também os gatos, sempre os chamámos «bechanina, bechanina, bechanina!...». E eles percebiam. Aliás, eu acho que os animais de companhia depressa aprendem as nossas vozes e se apercebem, pelo tom, o que é que deles queremos.
            Propôs-me o Sr. Padre Afonso que eu desse conta aqui do que ele, a esse propósito, já investigara. Cá vai, com o meu agradecimento:
            Gato: bechana, bechana, bechana (Cachopo e Olhão).
            Cabra: bija, bija, bija (Cachopo).
            Galinha: pita, pita, pita (Fuzeta e Alvor); piu, piu, piu; gacha, gacha, gaxinha (Alportel).
            Pato: pata, pata, pata (Alvor).
            Porco: chico, chico, chico (Olhão).

Publicado em VilAdentro [S. Brás de Alportel] nº 176, Setembro de 2013, p. 10.

 

terça-feira, 10 de setembro de 2013

António Feio foi evocado em Oeiras

            Serão singelo, mas de grande sensibilidade e ternura, a evocar António Feio e a sua mensagem de vida. Foram anfitriões e condutores o irmão, Carlos Peres Feio e José Proença de Carvalho, que alternadamente relembraram passos da vida do homenageado e disseram poemas em sua honra. A dado momento, também Jorge de Castro se lhes juntou: a voz da poesia mais uma vez.
            Foi muito exígua a salinha do Espaço Chá da Barra Villa, no Palácio do Egipto. Mais de 150 amigos e admiradores ali se apinharam e houve quem ficasse de fora, que a sala não comportou mais. Um ambiente sereno, que a música – predominantemente de jaze, quente, suave, servida por vozes timbradas, bem acompanhadas por adequados instrumentos (parabéns, Maria Morbey, José Cordeiro, José Mateus e Pedro de Faro!) – soube deliciadamente envolver.
            Noite de sábado, 7, a partir das 21.30 horas, com o patrocínio de Luchapa, Associação Artística e Cultural que se propõe «realizar sonhos a partir do Palácio do Egipto, em Oeiras, todos os dias». Nessa noite, permitiu a realização de mais um. E sentimos bem viva junto de nós a inolvidável mensagem do António, que Jorge de Castro recordou: «Aproveitem a vida! Não deixem nada por fazer, nem nada por dizer!».
            Saímos melhores daquele aconchego!

 Fotos gentilmente cedidas por Lourdes Calmeiro

Museus Marítimos analisam-se em Cascais

            Constitui, sem dúvida, subida honra para Cascais ter logrado apresentar uma convincente candidatura à realização, aqui, de 8 a 15 do corrente mês de Setembro, do Congresso Internacional de Museus Marítimos. Catapulta a vila para uma bem justificada dimensão internacional, que o pouco empenho posto pelas entidades em relação ao Museu do Mar D. Carlos I não havia, de facto, ajudado muito, apesar do dinamismo que as suas actividades de há muito vinham demonstrando. Congratulamo-nos, pois.
            A sessão de abertura decorreu no final da tarde de domingo, no auditório da Casa das Histórias Paula Rego, com a presença de quase duzentas pessoas. Ultrapassa a centena o número de participantes inscritos, vindos de 24 países (Portugal incluído) não apenas da Europa mas também da Ásia (China, Taiwan), das Américas, Austrália, Nova Zelândia e África (representantes da Tanzânia e da Namíbia).
            Após um filme de propaganda do nosso País, da responsabilidade do Turismo de Portugal, a Tuna Académica de Medicina de Lisboa (que reúne elementos das duas faculdades de Medicina) brindou a assistência com alguns divertidos números do seu reportório, terminado com o tradicional Efe-erre-á!
            Coube a palavra de boas-vindas ao Almirante António Bossa Dionísio, presidente da Comissão Organizadora, que realçou a importância do lema escolhido: «Celebrar a nossa herança marítima: tornar relevante a cultura marítima»!
            O jovem Frits Loomeijer, do Museu Marítimo de Roterdão, presidente do Congresso, sublinhou quão agradável fora o pronto acolhimento que recebera em Cascais a proposta de aqui se realizar este congresso, salientando o importante papel que a vila detém não apenas pela sua localização geográfica mas também – e de modo especial – pelas tradições de íntima relação com o mar e as descobertas oceanográficas.
            Aliás, nesse mesmo sentido foi a intervenção do presidente da autarquia: há 500 anos que os Portugueses são os «pilotos da globalização», paladinos da sustentabilidade do mar enquanto fonte de riqueza. Cumpre-nos «olhar para o mar e olhar pelo mar», disse, evocando que, sendo Cascais «uma terra que não espera que outros resolvam os problemas que há por resolver», está decididamente voltado para continuar a herança científica de el-rei D. Carlos, patrono do Museu do Mar, apoiando a elaboração da cartografia subaquática e promovendo a criação de um Centro de Mar, pólo de investigação marítima que se pretende venha a ser de excelência. Terminou formulando o voto de que no mar «encontremos a nossa identidade comum».
            Foi depois servido um pôr-de-sol.
            O congresso – que tem como membros da Comissão Organizadora António Carvalho, Maria Fernanda Costa, Linda Pereira (que orientou a sessão de abertura) e Catarina Santos Serpa – vai desenrolar-se na Casa das Histórias Paula Rego, no Museu do Mar, no Centro Cultural de Cascais, na Cidadela e no Museu-Biblioteca Condes de Castro Guimarães, com visitas aos museus de Ílhavo ou de Portimão, além dos museus de Lisboa ligados à temática marítima.
            O vasto programa previsto pode ser consultado na página: http://www.icmmcascais2013.org/

Publicado na edição de 9-9-2013, de Cyberjornal:

domingo, 8 de setembro de 2013

A ingenuidade na agricultura e no turismo

             Está patente na Galeria de Arte do Casino Estoril, até ao próximo dia 15 de Setembro, todos os dias, entre as 15 e as 24 horas, o XXXIII Salão Internacional de Pintura Naïf.
            Diz a informação veiculada pela galeria que «os 28 artistas presentes nesta exposição souberam interpretar com imaginação e qualidade os temas que lhes foram propostos: agricultura e turismo», acentuando serem característicos deste tipo de arte «a ingenuidade, o lirismo, o encanto e um forte cromatismo».
            Escusado será dizer que – por se tratar da 33ª edição – tem sido fundamental o papel pioneiro da galeria do Casino e, nomeadamente, do indefectível entusiasmo do seu director, o Dr. Nuno Lima de Carvalho, na divulgação e no apoio a um estilo artístico que vive, de facto, de um olhar muito especial sobre a realidade circundante, nunca se esquecendo de lhe emprestar «forte e singular humanismo», o que, nos tempos que correm, muito nos apraz realçar.
            Louve-se também a temática escolhida, por chamar a atenção para a imprescindível importância que deve ser dada a estes dois sectores de actividade.
            Muitos dos quadros nos farão sorrir, mormente quando o pintor – como é o caso do melgacense Alcino Barbosa, a ‘retratar’ à sua maneira a baía de Cascais – não tem a mínima preocupação de à paisagem pintada emprestar ‘realismo’ (tudo ali se mistura, num fantástico jogo imaginativo!...); contudo, pormenores observados, ver-se-á que ao espírito inventivo sempre se associa apurado gosto estético e, aqui e além, uma não despicienda dose de mordacidade.
            A não perder, portanto!

Publicado em Cyberjornal, edição de 8-09-2013:

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Na prateleira - 7

Marginal, imagem de desleixo?
            Perguntamo-nos, ao ver tantos ‘pinos’ separadores deitados abaixo, jazendo por terra ou simplesmente arrancados pela base e desaparecidos. De S. João até Cascais ultrapassam largamente a dezena, neste final de Agosto. Que imagem se dará com isso aos transeuntes, quer os locais quer, de modo especial, aos turistas? Desleixo dos responsáveis? Falta de civismo dos condutores, que se ‘distraem’ e os derrubam? Falta de verbas para a manutenção? Acaso esta não foi inserida no contrato de fornecimento?

Bolas de Berlim
            Os veraneantes das praias de Cascais e Estoris foram mui agradavelmente surpreendidos por, de novo, terem o privilégio de ouvir os pregões dos vendedores de bolos. Este ano, porém, a surpresa foi maior porque a vendedeira adoptou original pregão cantado:
            Olh’às bolinhas de Berlim
            São fofinhas e amarelas
            Eu quero uma só pra mim!...
            O começo nem sempre é o mesmo; mas (garanto!) o pregão traz quotidianamente uma lufada de ar fresco ao areal!

Passar o tempo!
            Terça-feira, 20 de Agosto, 10 horas, Praia das Moitas.
            Duas senhoras contavam do que haviam feito no dia anterior.
            – Olha! Vamos dar um passeio para ajudar a passar o tempo! – fora a proposta que uma fizera.
            E tinham ido, segundo depreendi, até ao paredão.
            Claro, excelente a proposta; agora, quanto à razão invocada, eu desejei que tal nunca viesse a acontecer comigo: necessitar de algo para me ajudar a passar o tempo!

A mamada
             Sempre imagem de maravilha a de um bebé a mamar. No dia 21 de Agosto, na ora mui concorrida Praia das Moitas, mãe e filho, estendidos lado a lado no toalhão, sobre o areal, proporcionavam essa imagem ainda mais ternurenta, plena de serenidade e de bem-estar!... Apeteceu-me rezar em silêncio: «Benza-os Deus!».

Instantâneos
            Deixei-me ficar no paredão, entre as 9 e as 10 da manhã de 22 de Agosto, que acordara sob leve manto de neblina. Embala-me o sussurro da quase imperceptível ondulação a caminho do areal, brincando entre as rochas musgosas da maré vazia. Até oiço o bater metálico no cargueiro parado ao largo há já dois dias. E o luxuoso veleiro desperta, além, sonhos de aventuras.
            Fui vendo.
            Muita gente, mesmo muita, de todas as idades: a fazer exercício para se manter em forma; andares rápidos; andares ritmados; andares sem preocupação
            A jovem em final de gravidez, de mão dada com o marido. Deve ser o primeiro filhote. Passaram por mim à ida e, agora, de regresso. Devagarinho. Com o olhar, desejei-lhe uma boa hora.
            Aprecio sobretudo os casais de velhotes. Sozinhos, os dois, decidiram-se a levantar cedo. Esse era o hábito, sem dúvida! E vêm caminhar. Lado a lado, sinal de uma longa caminhada em comum, que serenamente se aproxima do fim.
             Fui ouvindo. Histórias de vidas que imaginei condensadas na prateleira de uma só frase:
            – Deixava-me o cão mijar nos degraus da escada do andar!
            – Havia uma altura em que ela tinha de ir dar de comer à mãe...
            – Faço colecção de mealheiros. Tenho lá em casa mais de 300!
            – Eu não devia dizer isto, porque fui eu que os pari!... Mas ele merece, coitado, farta-se de trabalhar!
            – Quando quiserem vir, vêm! Eu reformei-me em Maio. A minha cunhada gosta muito dos netos, mas… é connosco que eles passam as férias. Eles adoram!

Publicado em Costa do Sol – Jornal Regional dos Concelhos de Oeiras e Cascais, nº 12, 4-09-2013, p. 6.

 

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Carta aberta ao Sr. Prior

            Eu reparei: vinha açodado, o suor perlava-lhe o rosto, nem tivera tempo de tirar a alva, apenas aliviada do cíngulo, com que celebrara a missa na sua igreja, sita a uns 500 metros (nem tanto!) da igreja de vetusto convento franciscano desactivado, adaptada a capela mortuária. Já passava do meio da manhã e tínhamos um calorzinho mediterrânico de Verão.
            Meu primo Raimundo esperava-o à entrada do átrio e disponibilizou-se:
            – Senhor padre, se quiser que eu faça uma leitura…
            Contou-me ele depois que a sua resposta fora:
            – Não temos tempo, estou com muita pressa!
            Minha mãe, que ali esperava por si no caixão desde o dia anterior, essa, senhor padre, para ela não havia já pressa nenhuma, porque entrara no tempo sem tempo. E estranhei, pois, que, na conjuntura… O senhor padre não era a primeira encomendação de alma que fazia, pois não? Por isso pensei que, num momento desses, já não houvesse pressas. Eu sei: o cemitério fechava ao meio-dia, era domingo e o coveiro também tinha direito ao seu descanso. Aliás, teve Vossa Reverência ocasião de o referir várias vezes no decorrer da cerimónia. Mas, senhor padre, eu pensava que sabia da intensidade emotiva do momento, do que ele representa para a família que perde o seu ente querido, ainda que acredite na vida eterna. Sabe, claro! Então ainda não se apercebeu que, aí, não pode ter pressa? Não lhe passou sequer pela cabeça que o pedido do meu primo poderia significar a última homenagem que ele queria prestar à minha mãe? É pena!
            Foram muito bonitas as palavras que nos dirigiu; calaram, fundas, no nosso coração despedaçado; mas, desculpe-me, surgiu-me logo aquele dito «Bem prega Frei Tomás…».
            Tenho a certeza de que reza diariamente o breviário e faz exame de consciência antes de adormecer. Será que pede a Deus para dormir… depressa? Durante a sua formação e no retiro anual a que se entrega deve ter-lhe passado amiúde a expressão do Eclesiastes (3, 1): Omnia tempus habent!, «Tudo tem o seu tempo». E o tempo da morte requer de si um tempo precioso. Nem de mais nem de menos: o seu tempo! Sem precisar de nos lembrar a cada frase que … está com pressa! O tempo que gastou a dizer-nos isso poderia ter sido aproveitado. E, já agora, em que é que a leitura feita por meu primo (que Vossa Reverência nem sequer conhecia nem sabia quem era em relação à defunta) haveria de… atrasar a cerimónia?
            Mas não fique preocupado! Chegámos a tempo, o coveiro pôde ir almoçar ao meio-dia, depois de ter fechado o portão. E passou tranquilamente o resto da tarde com a família.
 
            Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 622, 01-09-2013, p. 15.

 

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Está à venda, em Tavira, o Convento de Santo António

            A informação é veiculada pelas três actuais proprietárias, pertencentes à família que, desde o séc. XIX, se responsabilizou pelo Convento de Santo António, em Tavira.
Aí lograram manter em funcionamento, entre 1994 e 2009, uma unidade de «Turismo de Habitação»; contudo – apesar de terem centenas de testemunhos elogiosos por parte dos clientes e da Comunicação Social, bem como, em anos consecutivos, presença no Guia Michelin com a referência máxima para o tipo de alojamento em causa – tal actividade não gerou os recursos financeiros necessários para continuarem.
 Foram diversos os factores que estiveram na origem do insucesso, designadamente a sazonalidade e a reduzida capacidade de alojamento (8 quartos), cujo aumento, quer no interior quer no exterior do convento, prejudicaria, de facto, o património histórico e paisagístico.
Por isso, escrevem as proprietárias, «é urgente encontrar alguém que se apaixone por esta peça de arquitectura, simplesmente para dela cuidar, usufruir, partilhar com os que mais ama e assegurar-lhe o futuro, porque este pequeno convento merece continuar o seu percurso iniciado em 1612».
Remetem, pois, para a página que contém todas as informações necessárias acerca das características do imóvel, assim como a possibilidade de visita por parte dos possíveis interessados: www.conventosantoantonio.com.
Situado num local deveras aprazível, defronte da Ria Formosa, o convento deixa entrever o que terá sido a vida de meditação e recolhimento dos monges, em plena comunhão com a beleza singular da paisagem envolvente.

Publicado em Cyberjornal, edição de 02-09-2013: 

SOS Animal, uma instituição de mérito!

             Fundada a 12 de Março de 2007, a SOS ANIMAL tem desenvolvido desde então intensa actividade em prol dos animais, de forma eficaz e desinteressada.
           Na sua página www.sosanimal.com – que reencaminha para https://www.facebook.com/sosanimal.pt – se poderá saber tudo a seu respeito.
            Tem no facebook quase 7000 apoiantes. Há uma equipa fixa de 9 pessoas na direcção; os voluntários mais activos constituem um grupo de cerca de 15 pessoas, em diferentes áreas: trabalho de campo; enquadramento jurídico; contactos, comunicação… E ainda detêm um papel muito importante de apoio a outras instituições que à SOS Animal recorrem para apoios diversos: angariar ração, apoio jurídico, voluntários de terreno, apoio médico-veterinário, etc.
            Só no mês de Agosto resgataram, a título de exemplo, 42 gatos, 2 póneis e 1 burro, entre outros animais de diferentes espécies.  Mesmo assim, não conseguem dar resposta nem  a 40%  dos pedidos… porque não possuem espaço de albergue próprio e têm de recorrer a outras associações, instituições e privados. O Hospital Solidário Veterinário está em construção e, por isso, socorrem-se de serviços veterinários privados.
            Uma das grandes dinamizadoras da SOS Animal tem sido, desde o início, Sandra Duarte Cardoso, a quem foi atribuído o Prémio “Mulher Activa 2010”, quando vice-presidente da instituição, atendendo ao excelente trabalho que vinha desenvolvendo em prol da ‘causa animal’. O ‘bichinho’ do amor aos animais atacou-a tanto que… decidiu tirar o curso de Veterinária – e é hoje veterinária credenciada!
            Como apoiar a SOS Animal? Vem tudo explicadinho na página:
            «Tornando-se nosso colaborador;  participando nas actividades; divulgando a nossa página da Internet (www.sosanimal.com) e o nosso facebook; sendo uma família de acolhimento temporário, recolhendo um animal e tomar conta dele enquanto não for para uma família de adopção definitiva; apadrinhando um animal; entregando donativos em géneros (ração, produtos de limpeza, desparasitantes, medicamentos, coleiras, etc.); fazendo um donativo, através da conta bancária (Caixa Geral de Depósitos): NIB: 0035 0202 00035876230 91».
             Contactos:
sosanimal@sosanimal.com;
sandra.cardoso@sosanimal.com

Publicado em Cyberjornal, edição de 02-09-2013:
http://www.cyberjornal.net/index.php?option=com_content&task=view&id=18860&Itemid=28

Fernando Pessoa e Cascais

              Como se sabe, causou alguma perplexidade o facto de se ter optado por desmontar a Sala de Arqueologia do Museu Condes de Castro Guimarães, em Cascais, para nela se instalar o memorial da candidatura falhada de Fernando Pessoa ao lugar de conservador daquele museu.
            A inauguração do novo espaço fez-se com pompa e circunstância, após as peças arqueológicas – algumas das quais únicas no mundo – terem tomado o caminho do grande contentor, onde religiosamente se guardam as relíquias do longínquo passado cascalense.
            Tudo isso foi feito como se, na verdade, se tratasse da primeira grande homenagem que o município de Cascais prestava a um dos vultos maiores da literatura portuguesa. Ora sucede que os seus promotores terão esquecido que, na edição de 5 de Dezembro de 1985, o Jornal da Costa do Sol, celebrando o cinquentenário da morte do poeta, dedicou um suplemento de oito páginas (oito!), a evocar as relações do poeta com os concelhos de Cascais e de Oeiras.
            Aí se conta, em pormenor, tudo – e mais alguma coisa! – o que viria a ser exposto nesse novel espaço do museu: porque é que o poeta queria vir para Cascais, a sua relação com a Casa de Saúde de Cascais; toda a documentação referente à sua candidatura; ampla história, elaborada por Victor Belém, intitulada «O mistério da Boca do Inferno – Fernando Pessoa versus Aleister Crowley»…
            Talvez não fosse, pois, má ideia que os promotores da iniciativa no museu buscassem essas páginas, as digitalizassem e as pusessem ao dispor dos visitantes – enquanto o memorial estiver montado.

Publicado em Cyberjornal, edição de 02-09-2013:

domingo, 1 de setembro de 2013

Era um mar de flores…

             … salgado pelo mar de muitas, muitas lágrimas incontidas. A capela mortuária da igreja da Ressurreição, em Cascais, tremendamente pequena para esse lindo jardim imenso, a rodear o singelo ataúde que, mui contrariado, tivera de receber corpo tão jovem…
            O sacerdote que, juntamente com o prior de Cascais, celebrou, na tarde do dia 30, a missa de corpo presente, não pode reter as lágrimas. Nós todos também não. Insondáveis são os desígnios divinos, bem no sabemos; dói muito, porém, ver partir quem sempre irradiou alegria à sua volta e, mesmo plenamente consciente da doença, só ao marido a confessara, logrando, até ao derradeiro momento, disfarçar o sofrimento sob o manto de contagiante e perene boa disposição. Esse portentoso exemplo o realçou, emocionado, voz embargada, o sacerdote, de longa data amigo da família.
            Advogados de Cascais, seus colegas de profissão, compareceram às tocantes exéquias, envergando as becas, no testemunho do mais profundo pesar. E, diante do ataúde, enorme foto nos recordava o seu inesquecível sorriso!...
            Adeus, Paula! Descansa em paz!
            Paula Cristina Gonçalves Santos Silva Botelho Pereira nascera em Lisboa, no Hospital da Cruz Vermelha, a 30 de Abril de 1972; nesse mesmo hospital viria a adormecer serenamente no Senhor, na manhã do passado dia 28. Filha de Maria Fernanda e de Álvaro Santos Silva, desposara Carlos Alberto Botelho Pereira.
            À família enlutada endereçamos os nossos mais sentidos pêsames.

Publicado em Cyberjornal, edição de 31-08-2013: