terça-feira, 17 de setembro de 2013

Não quero que saibam o meu nome!

              Amiúde estão voltados os cartões de identificação de quem nos atende em estabelecimentos públicos. Pode ser distracção; mas não se errará, decerto, se interpretarmos essa ‘distracção’ como «Não quero que saibam o meu nome!».
            Tenho pena – porque as instituições são feitas de pessoas, pessoas que têm nome, sentimentos, família!... E já nos basta que os ‘governantes’ o esqueçam! Tudo devemos fazer, acho eu, para que tal esquecimento se não generalize.
            Gosto de falar com pessoas que têm nome e aplaudi, por isso, a imediata reacção de Liliana Sintra, no Facebook, quando, a propósito da morte que enlutou o País, se insurgiu: «Não foi uma bombeira! Foi a Ana Rita, de 24 anos!».
            Nas aulas de Política Cultural Autárquica, sempre insisti: «Atenção! Não é a Câmara que convida para a iniciativa: é o seu presidente – que tem nome!».
            Escrevi, não há muito tempo, para uma entidade a solicitar esclarecimento acerca de decisão tomada. Responderam-me de imediato, inclusive terminando a mensagem com saudação estereotipada («Reciba un cordial saludo»), mas… sem qualquer ‘assinatura’. Retorqui e obtive nova resposta, de novo sem identificação pessoal. Não resisti e, na terceira mensagem, comentei: «Bem hajam pela pronta resposta (como não vem assinada, não sei se é uma pessoa só que me responde ou se são várias, desculpem!)».
            Resposta:
            «No tenemos por costumbre poner el nombre en los correos ya que somos varias personas las que trabajamos contestando estos correos. Mi nombre es Paula Campos».
            A minta reacção foi, naturalmente:
            «Perdoar-me-á, Paula: uma equipa, por mais coesa que seja, é constituída por pessoas; se nos deixamos ‘triturar’ por uma engrenagem, em que a individualidade fique submersa, a globalização toma posse de nós e mais facilmente os ‘governos’ serão tentados a considerar-nos números!».
            A Paula não comentou.
            E pensei com os meus botões: se, no dia-a-dia, queremos ser anónimos, que razão temos para nos queixarmos de que não nos tratem como pessoas?        
            Post-scriptum: Curioso verificar, ao invés, que, em vez de termos uma Secretaria de Estado da Cultura, se optou por designar essa instituição como «Secretário de Estado da Cultura». Ora toma! Quando li pela primeira vez, pensei que fora lapso; não é! Fiquei estupefacto! Neste caso, acontece o fenómeno: o homem é a instituição!

Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 623, 15-09-2013, p. 20.

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