sábado, 27 de abril de 2013

«Velhos? Nem os trapos!», um hino à juventude num Centro de Convívio

             Escrito e encenado por António Chapirrau, foi levado à cena na noite do passado dia 24, no salão (repleto) do Centro de Convívio do Bairro do Rosário, da Junta de Freguesia de Cascais, o espectáculo Velhos? Nem os trapos!
            Trata-se, sem dúvida, de um hino à juventude bem patente nos actores, utentes todos eles daquele Centro de Convívio. Nasceu este Grupo de Teatro da Freguesia de Cascais no Natal de 2011 e esta foi a sua auspiciosa noite de estreia.
            Trata-se da sequência de dezasseis brevíssimos quadros em que, de um modo geral, se parodiam situações do dia-a-dia, anedotas, chistes, não desprovidos aqui e além do saboroso trocadilho, sem falarmos já da habitual crítica de costumes, sempre motivo para uma boa galhofa...
            A senhora (Angelina Duarte) manda o arrumador (Joaquim Duarte) trabalhar e ele riposta de imediato, com a maior naturalidade: «Mas eu estou no meu local de trabalho!» O alentejano chumbou na carta de condução, porque viu a placa com o número 30 e deu 30 voltas à rotunda; e diz-lhe o outro: «Ó compadre, se calhar vossemecê chumbou porque se enganou nas contas!...». À senhora mui queixosa («Por estas bandas, doutor, há muito que não sinto nada!...») o médico (António Costa) receita sexo pelo menos três vezes por semana; o marido, chamado para saber da receita, informa o clínico de que, sim senhor, à segunda e à quarta pode trazer a mulher ao consultório; à sexta, porém, ela terá de vir de autocarro! Depois, os problemas conjugais das senhoras (Margarida Garcias e São Madeira) que casam com homens de Pau Gordo ou de Ponta Delgada e, se calhar, o melhor é irem para Miranda, onde os pauliteiros são capazes de ter pau rijo… «Uma mulher», bom momento de poesia, dita por Ana Maria. «Minha amora negra», bonito trecho musical, cantado por São Madeira (agradável voz), acompanhada por um ‘corpo de baile’ (Teresa Pereira, José Lourenço, Maria Campanudo, Carlos Carneiro, Maria dos Anjos e António Santos). Presta-se a riso o posto de venda das hortaliças frescas, apanhadinhas na horta: os belos tomates do marido, os grelos da vendedeira e também os da vizinha que o marido não desdenha…
            Enfim, quase hora e meia de boa disposição, em que o palco serviu para mostrar que, na verdade, nem os trapos merecem o adjectivo de ‘velhos’ quanto mais os que frequentam este Centro de Convívio e desta forma se mostram activos, se divertem e divertem os demais.
            Justo é, pois, que se refiram os nomes de todos os intervenientes (para além dos já citados, todos se desdobrando, aliás, em vários papéis): Norvinda Santos, Maria José, Laurinda Freire, Antónia Morais, Carlos Ventura, Teresa de Jesus. O som esteve a cargo de José Carlos; António Morais foi o contra-regra; Carlos Carneiro, o director de cena; parte do guarda-roupa ficou a dever-se ao superior talento de Joaquim Carvalho (do Grupo Cénico da AHBVC); as Carlas (Magalhães e Chaves) encarregaram-se da caracterização: A colectividade de Murches emprestou cenários e microfones de lapela. Por intervenção da presidência da Junta de Freguesia de Alcabideche, pôde ser feita em estúdio a gravação do som.
            No final, agradecimentos dos actores ao encenador, do encenador a todos e o aplauso do Executivo da freguesia simbolizado também na entrega de lembranças.

Publicado em Cyberjornal, 2013-04-26:

C. Carreiras ficou... «verdadeiro homem»

                « – É curioso… Nunca plantei uma árvore!
                – Pois é um dos três grandes actos sem os quais, segundo diz não sei que filósofo, nunca se foi um verdadeiro homem… Fazer um filho, plantar uma árvore, escrever um livro. Tens de te apressar, para ser um homem».
                É excerto do diálogo entre Jacinto e o amigo Zé Fernandes, n’A Cidade e as Serras, de Eça de Queirós, «enquanto o Manuel Hortelão apanhava laranjas no alto de uma escada arrimada a uma alta laranjeira».
                No caso vertente, Carlos Carreiras apressou-se: faltava-lhe escrever um livro! E aí está Com vista para o Atlântico, colectânea de 88 das 101 crónicas que, de 15-3-2011 a 19-2-2013, publicou no jornal I. Crónicas ‘datadas’, como salientou, de intervenção perante os problemas nacionais e do mundo.
                Abriu a sessão de apresentação, que decorreu no dia 23, no Clube Naval de Cascais, perante cerca de 200 amigos e simpatizantes, o director do jornal, Eduardo Oliveira e Silva: essas crónicas semanais, que primaram pela assiduidade, ajudaram a reflectir sobre a realidade política, económica e social que nos rodeia, sublinhou.
                Ana Sá Lopes, directora-adjunta, que mais directamente esteve ligada à edição, referiu-se a Carlos Carreiras como «um psd com pensamento autónomo», que soube sempre explicar que estamos numa guerra entre o Norte e o Sul e que se inclui entre os poucos sociais-democratas que sabem estarmos a caminhar a passos largos para o abismo.

                Às 18 horas e 38 minutos, Marcelo Rebelo de Sousa disse que iria dividir a sua apresentação em três pontos: o livro, o autor e o autor em Cascais. Do livro, afirmou que aí se veiculava uma opinião não-alinhada, preocupada, bem escrita, de contínua preocupação pela realidade mundial. Do autor, «de cabelo escasso na careca vasta», disse que tem desaparecido o cabelo mas tem ficado a rebeldia de quem pensa pela sua própria cabeça, de um homem que se fez a pulso, na escola da vida. Quanto a Cascais, confirmou ser a política local a mais difícil de fazer e, confessando-se ‘ingénuo’, afirmou: «O lançamento deste livro nada tem a ver com as próximas eleições autárquicas». Sugeriu, pois, que o autor, pragmático e sonhador como é, «pode continuar a escrever crónicas para o I; mas, no dia-a-dia, que se consagre a Cascais».
                Em resposta, às 18 horas e 57 minutos, o autor agradeceu ao apresentador, aos editores, a Gonçalo Venâncio a preciosa ajuda que lhe foi dando; confessou que a ‘sua’ crónica mais «partilhada» nas redes sociais transcrevera a resposta que Pedro Passos Coelho lhe dera a propósito da TSU (sem que o próprio PPC o soubesse). Referiu-se a um termo de seu especial agrado, «glocal», cuja origem historiou: é a preconizada sintonia entre o global e o local. A economia deve subordinar-se à política; e se as duas grandes certezas da actualidade, a imprevisibilidade e mudança, configuram, de certo modo, esta 3ª grande guerra que a Europa está a viver, reiterou a ideia de que «se algum país tem de sair do euro é a Alemanha».
                Referiu, a terminar, pouco antes das 19.30 horas, que, apesar de tudo, há lugar para a esperança e que o Movimento Viva Cascais aí está para a alimentar.

Publicado no Cyberjornal, 2013-04-26:

Trapos & Tralhinhas – uma loja social na Pampilheira

            Rendibilizando o espaço do Centro de Convívio do Bairro da Pampilheira, a Junta de Freguesia de Cascais abriu, no passado dia 22 (segunda-feira), a loja social Trapos & Tralhinhas, na divisão que fora ocupada, até ao Verão passado, pela loja da Cozinha com Alma, na Rua Eça de Queirós.
            No fundo, a intenção é a mesma: servir a população carenciada. Ou seja, quem dispuser de roupas ainda em bom estado, mas que já não usa ou até nunca usou ou nem tenciona usar; quem possuir «tralhas» que lá em casa já não têm préstimo mas que o poderão vir a ter em casa de outrem – basta dirigir-se à sede da Junta de Freguesia ou contactar os serviços ou a própria loja, de forma a combinar o modo de poder ser útil.
            A abertura da pequena loja – pequena no espaço mas de grande significado social – juntou muitas pessoas, teve a presença do Senhor Presidente da Câmara e foi apadrinhada pelos actores Sofia Cerveira e Ricardo Carriço. O Presidente da Junta, Pedro Morais Soares, em brevíssima intervenção, fez questão de salientar que a iniciativa se enquadrava na política da Junta de apoiar cada vez mais as famílias em dificuldade – e mesmo na sua freguesia o seu número aumenta de dia para dia – de modo que confia plenamente que este objectivo vai ser, também deste modo, plenamente conseguido.
            O espaço é, na verdade, diminuto, dispondo das prateleiras habituais numa loja de pronto-a-vestir, assim como varões para exposição vertical de vestuário. Crê-se, porém, que a renovação se fará dia após dia, atendendo ao êxito que, sem dúvida, vai ter. Espaço diminuto, sim, mas donde pode sair um contributo social nada despiciendo!

Publicado no Cyberjornal, 25-04-2013:



quarta-feira, 24 de abril de 2013

Pessoas têm nomes e alcunhas… em S. Domingos de Rana!

             Foi apresentado no sábado, dia 20, a partir das 18 horas, na sede do Grupo de Instrução Musical e Desportivo de Abóboda (S. Domingos de Rana), o livro Os nomes e as alcunhas das pessoas dos meus livros, da autoria de Celestino Costa.
            Trata-se de um livro de cordel, de 40 páginas, editado por Apenas Livros, de Lisboa, e pela Associação Cultural de Cascais, com o patrocínio da Junta de Freguesia de S. Domingos de Rana.
            Aberta a sessão, perante mais de três dezenas de pessoas, a Dra. Fernanda Frazão manifestou o seu contentamento por, mais uma vez, a Apenas ter podido dar voz a um autor cascalense, pois já são vários os que tem publicado. Jorge Castro disse alguns poemas dos anteriores livros do autor, tendo seleccionado aqueles em que são mencionadas pessoas cujos nomes constam no livro ora editado, terminando com um em que o autor estabelece um diálogo entre o alfacinha e o saloio, aquele tentando menosprezar a pouca sabedoria deste, respondendo-lhe o saloio dando conta do bom vinho de Colares e de Carcavelos de que o alfacinha bem gosta e, de modo especial, dizendo-lhe das obras escultóricas que alindam a capital e em que o canteiro saloio interveio eficazmente e com saber.
            Tive ocasião de salientar, depois, que não estávamos simplesmente perante o mero rol de 175 pessoas de que Celestino Costa foi falando ao longo dos três livros que escreveu ou em que colaborou: A Minha Terra e Eu (livro que já teve duas edições), Filosofia Saloia, Cinzelar as Palavras como as Pedras em S. Domingos de Rana.
            É que, se da maior parte apenas diz quem foram e quais as suas relações familiares, explicitando, aqui e além, a razão da alcunha atribuída, certo é que, de vez em quando, ao correr da pena, lá vem a história inesperada que fez rir e ainda hoje nos obriga a boas gargalhadas, como aquela em que a mulher se esqueceu de pôr sal na açorda de alho e, ao ser interpelada pelo marido, lhe deu a entender que isso era porque ele não pusera a blusa pelas costas, como era habitual. Ele levantou-se e foi buscá-la; e ela, entrementes, pôs o sal que faltara. «Parece mentira! Tinhas razão… Tem outro gosto!» – reconheceu o Adragão, já de blusa pelas costas…
            «Era assim a vida!» – exclama amiúde o autor. Ou: «Era assim a minha avó!», ao explicar que, costureira de calças de homem, a «Malveiroa» lia até de madrugada o jornal O Século, que pedia emprestado ao irmão Luís, que o assinava.
            E há a homenagem ao Armando «Caracol», na evocação do seu ‘museu’, criado «para lembrar aos vindouros com foi a vida dos nossos avós»: «O curso do Armando é o curso tirado na universidade da vida. O Armando faz parte daquele grupo de portugueses que muitos anos depois de partirem é que são valorizados. Já visitei várias vezes o museu do Armando, e, quando acabo a visita, eu, que gosto muito do passado, sinto aquilo que sentimos quando nos dói a cabeça e tomamos uma aspirina… Sinto-me melhor! Obrigado, Armando!».
            Homenageou-se também João da Mata, natural de Polima, por quem Celestino Costa nutre particular afeição. Foi João da Mata fadista notável, de que ouvimos, em gravação, o fado «Por morrer uma andorinha», famosa quadra de sua autoria, pela voz do saudoso Francisco Stoffel. E no livro se reproduzem páginas de jornais do fado de então.
            Manuel Mendes, presidente da Junta de Freguesia de S. Domingos de Rana evocou os livros que, nomeadamente em colaboração com a Associação Cultural de Cascais a Junta tem editado, dando a conhecer as gentes da freguesia, designadamente os seus poetas.
            A encerrar a sessão, a Dra. Ana Clara Justino, vereadora da Cultura, salientou também a importância de iniciativas deste género, na medida em que elas em muito contribuem para criar a comunidade viva que se deseja.

 Publicado em Cyberjornal, 2013-04-22:

A dar-lhes… forte e feio!

            Já se não acredita que haja por este jardim à beira-mar plantado o regime (se calhar, utópico!) designado «democracia», mormente no que ele implica de liberdade de expressão, sem medos. Contudo, uma máxima acabou por lograr ser posta em prática, fugindo às malhas, mesmo quando elas se confeccionavam bem apertadas: a de que é rindo que se castigam os costumes!
            Acredita-se, aliás, que também há certa conveniência em fazer de conta, dar alguma linha, como faz o pescador quando o peixe pica: deixa-o sossegado três segundos e… puxa rápido, para o apanhar desprevenido!
            Estreada a 17 de Janeiro de 1879, a sátira em forma de peça teatral chamada Viagem à roda da Parvónia, rezam as crónicas que logo aquando da representação houve pateada monumental, espectadores que se envolveram em cenas de pancadaria e tudo isso foi também um bom pretexto para o senhor comissário geral da Polícia Civil de Lisboa, Cristóvão Pedro de Morais Sarmento, mandar executar de imediato as ordens de Sua Excelência o Senhor Governador Civil: que se intime a Empresa do Teatro do Ginásio e retirar a peça de cena, já!
            E porquê?
            Porque – então como hoje – são bem nossas conhecidas as personagens que vão perpassando diante de nós, ainda que usando guarda-roupa excêntrico a condizer com a sua função (grande abraço de parabéns, Fernando Alvarez!): ele é o cauteleiro, o judeu errante, este político, aquele político, este eleitor, aquele eleitor (se bêbado ainda melhor, porque de fala mais desbragada e feroz…), o accionista, o banqueiro, o candidato, o cego, o maneta, o que anda de gatas, o que tem muletas… Alto aí! Isso é um palco ou corredor de serviço de urgência hospitalar? É. Uma coisa e outra. O pior é que não há médicos por perto. Uma fada, um D. Quixote, o ministro da reinação, o lírico, o satânico, a princesa Ratazana… servirão? Não servem.
            E, de retrato em retrato, vamos rindo, vamos sentindo na pele o que ali em tom jocoso (só aparentemente jocoso, diga-se) vigorosamente se retrata, sem pudor. Porque não havia pudor. Sim, escrevi «havia», porque a peça foi escrita por um tal de Gil Vaz, pseudónimo (veio a saber-se) de Guerra Junqueiro e Guilherme de Azevedo, uns trastes, uns desbocados, uns tipos malcriados que não respeitavam a ordem estabelecida, que eram capazes de pôr o destemido candidato a um lugar político a envergar traje cheio de bolsos donde podia ir tirando tudo o que eram prebendas (promessas!...) para quem se dispusesse a apoiá-lo!...
            Escreve Miguel Graça, no programa, o texto «Portugal hoje, o mesmo de amanhã», que também merece aplauso e, sobretudo, leitura mui atenta. A Miguel Graça se devem a versão e a dramaturgia da peça que Carlos Avilez superiormente encenou e os actores magníficos (António Marques, Diogo Martins, Fernanda Neves, Guido Rodrigues, Luiz Rizo, Paula Sá, Pedro Caeiro, Raquel Oliveira, Renato Pino, Sérgio Silva, Teresa Côrte-Real), que versatilmente se desdobram nos papéis, tão bem sabem interpretar. Observa Miguel Graça (note-se: é a propósito da peça, não é texto literário ou guião para um qualquer comentador político…):
            «A nossa aversão à mudança será sempre inversamente proporcional à competência de quem nos governa, governou e há-de governar».
            E constata, com amargura:
            «Simplesmente já não temos a verve do final do século XIX para nos expressarmos com o mesmo humor e ironia ou, se calhar, estamos demasiado cansados para o fazer».
            E continua:
            «Mandam-nos emigrar, mas talvez seja mais correcto assumir que devíamos todos optar pelo exílio». […] Temos de nos perguntar se conseguimos abandonar a Parvónia antes que ela se apodere de nós».
            Rimo-nos. Rimo-nos muito. Sátira é, quase opereta, a que a divertida música original de Luís Pedro Fonseca e a ajustada coreografia de Paulo Jesus emprestam maior sabor!
            É, porém, um riso bem amargo, oh! se é!...
            E surgem-me de novo, inexoráveis, as palavras de Gustave Le Bon, no seu A Psicologia das Multidões, publicado em 1895, por conseguinte não muito tempo depois desta Viagem à roda da Parvónia:
            «O programa escrito do candidato não deve ser muito categórico, pois os seus adversários poderiam mais tarde atacá-lo com base nesse facto; mas o programa verbal nunca é exagerado. Podem prometer-se sem receio as mais amplas reformas, No momento, os exageros produzem bastante efeito e não comprometem o futuro. O eleitor não se preocupa nada em saber se o eleito obedeceu a profissão de fé aplaudida e à qual deve a vitória. […] O candidato que consegue descobrir uma fórmula nova, bastante destituída de significado preciso, e, por consequência, adaptável às mais diversas aspirações, obtém um sucesso infalível».

            Estreada no sábado, 13 de Abril deste ano da graça de 2013, no Teatro Municipal Mirita Casimiro, ao Monte Estoril, pela companhia do Teatro Experimental de Cascais, Viagem à roda da Parvónia estará em cena – até 26 de Maio – de quarta a sábado às 21h30, ao domingo às 16h00 (tel. 214 670 320).
            A não perder! Para ver se acordamos de vez!

Publicado em Cyberjornal, 2013-04-22:

O saloio e a sua identidade

            No passado dia 18, Dia Internacional dos Monumentos e Sítios, na Sociedade de Instrução de Janes e Malveira, apresentou-se o livro da autoria de Maria Micaela Soares, antropóloga da Assembleia Distrital de Lisboa (mas residente em Cascais), intitulado «Saloios de Cascais – Etnografia e Linguagem». ISBN: 978-972-637-249-3, 488 densas páginas ilustradas, encadernação magnífica, mui adequada maquetização da responsabilidade de Fátima Lisboa.
            O salão de actos da colectividade foi pequeno para acolher tanta gente que desta sorte também quis manifestar o seu apreço por tão louvável e singular trabalho.
            Diga-se, para já, que não poderia ter sido mais bem escolhido o local para esta apresentação. Já quando, no último trimestre de 1989, a Câmara Municipal, em estreita colaboração com a Associação Cultural de Cascais, realizou a exposição «Um Olhar sobre Cascais através do Seu Património», foi justamente em Janes que se apresentou o «núcleo do mundo rural», dadas as características genuinamente saloias que ainda por ali se mantêm.
            Presidiu à sessão a Senhora Vereadora da Cultura, Dra. Ana Clara Justino, que, após salientar, com aplauso, o trabalho de toda equipa (coordenada por Conceição Santos) que eficazmente colaborara na edição, deu a palavra ao apresentador oficial do livro, o Professor Doutor Virgolino Ferreira Jorge, que começou por sublinhar quão injusto era o uso depreciativo do termo ‘saloio’, com o significado de ignorante, rural, pouco civilizado, pois, na verdade, se trata de uma designação de teor etnográfico que já vem do tempo dos árabes para identificar os camponeses naturais dos arredores de Lisboa e que justamente a abasteciam de muitos dos produtos hortícolas, e não só, de que a capital carecia.

Mais de meia centena de informantes
            Com base em minuciosa recolha feita junto de informantes, “todos para além dos setenta anos, alguns octo e nonagenários, entretanto, vários já falecidos”, acentuou Virgolino Jorge tratar-se de uma tarefa que «implicou anos de esforçadas peregrinações pela cercania aldeã da vila, ouvindo, entrevistando e recolhendo testemunhos directos feitos da palavra, do silêncio e do gesto», «complementada com uma paciente investigação documental e arquivística e uma perseverante tarefa de cela, para reflexão e escrita, redigida com o acre da crueza que foi escutada ou lhe foi relatada em primeira pessoa. Daí que o "eu" narrativo do texto e do contexto operativo de Saloios de Cascais corresponda a um saber e a uma experiência feitos e insuspeitos, adquiridos sem distanciamentos, e esteja plenamente justificado», sublinhou o apresentador.
            «Exaustivo labor beneditino», que obteve concretização num «estudo sério e inédito», enriquecido por oportuno «glossário da fala saloia» e contendo, como o próprio título indica, duas partes: a primeira dedicada «aos factos etnográficos», a segunda aos «valores linguísticos».
            Na Etnografia, os capítulos são: «nascer saloio» (predições acerca das qualidades do nascituro, por exemplo), «aspectos da «vida do adulto», «vida económica» (a faina agrícola, o trabalho da pedra e a preparação da cal, a lavagem de roupa alheia…), «vida imaterial» (dança, canto, religiosidade…), «literatura popular» (romanceiro, cancioneiro, adagiário, adivinhas, anedotas, contos e lendas).
            No que à linguagem diz respeito, são abordados aspectos gramaticais (fonética, morfologia e sintaxe), assim como particularidades sintáctico-estilísticas, formas de tratamento social (saudação, despedida, cortesias e descortesias), expressões idiomáticas, onomástica (nomes e alcunhas), a toponímia. No final (p. 464-485), exaustiva bibliografia.

Obra para ler e reler
            No que concerne, por exemplo, aos pequenotes, não quis o Professor Virgolino Jorge deixar de falar das referências «ao banho higiénico das crianças e às finalidades terapêuticas da “auguinha de rabo lavado”, aos sinais e predições acerca do carácter dos nascituros, indicadores de felicidade (chorou na barriga da mãe) ou de infortúnio (Dês que o assinalou algum defêto l’encontrou), e à invocação para afastar as crianças de males perniciosos (benza-te Deus!). Lembram-se algumas enfermidades que afectavam os meninos de então e obrigavam a tratamentos, os quais eram rematados com uma súplica final (Dês te dê a bertude qu’ê já fiz o que pude).»
            Enfim, uma obra para ler, reler e amiúde consultar, porque de tudo aí vai encontrar-se. Ou, para usarmos, mais uma vez, das palavras do apresentador: «Entendo o livro de Maria Micaela Soares, substancialmente, como uma impressiva lição de arqueologia do saber; de um saber inspirador e deliberativo, tributário da capacidade e do talento intelectuais desta reconhecida Autora, para multiplicar novos olhares sobre o passado cultural da região saloia cascalense.»
            Às 18.47 horas, a Dra. Micaela começou assim: «Saloios, amigos, informantes – eu fui vossa aluna!». E, em vinte minutos, foi contando da experiência vivida para levar a cabo a concretização deste «livro de memórias ressuscitadas; explicando que «rio» era, para o saloio, não apenas o ribeiro mas também aquilo a que ora se chama ‘tanque’; que nesses recuados tempos se «cavava uma manta para bacelo» (ora vão lá descobrir o que isto significa!...); que as refeições eram, amiúde, apenas «de pão e navalha»; que esses «depoimentos duros, rudes e dolorosos» importa pensar neles, reabilitar o termo ‘saloio’, um homem que também gostava de falar em verso («Minha mãe mandou-me à água / […] / Mande-me ela namorar / Verá se eu não tenho jeito!»)…
            O presidente da Câmara aplaudiu a iniciativa, mormente porque ela vem ao encontro do que hoje mais preconizamos: a salvaguarda da nossa identidade, do nosso património cultural imaterial, concluindo com uma palavra de esperança.
            Encerrou a sessão, eram 19.20 horas, a Senhora Vereadora, que agradeceu a presença de todos, não querendo deixar de fazer alusão aos cortinados de chita das janelas do salão de actos, tão genuinamente saloios e, por conseguinte, bem enquadrados em tão agradável e instrutiva sessão.

Publicado em Cyberjornal, 2013-04-22:
http://www.cyberjornal.net/index.php?option=com_content&task=view&id=18173&Itemid=30

terça-feira, 23 de abril de 2013

Projectos, sim, mas… acompanhados!

            Em muitos campos S. Brás de Alportel tem dado cartas, quer pelo carácter inovador dos projectos a que lança mão, quer, de modo especial, pelo empenho posto em lhes dar acompanhamento, a fim de lograrem, de facto, os objectivos em vista.
            Vem esta reflexão a propósito de uma notícia que li, já lá vão bastantes meses, acerca da Quinta de Marim, que fica na freguesia de Quelfes, Olhão, em pleno Parque Natural da Ria Formosa. Dizia-se aí que se projectava para o local um centro de observação da Natureza, dada a riqueza e variedade de espécies tanto vegetais como animais ali existentes; a intenção era, aliás, também a de recuperar aves selvagens e, até, o bem conhecido cão de água, genuinamente português.
            Rejubilei, porque, na verdade, tudo o que sirva para preservar a biodiversidade e, por outro lado, para levar os seres humanos a melhor usufruírem dos dons da Natureza me merece o maior apoio.
            Não se pense, porém, que só agora o Homem se interessou por esta quinta! Procede daí mais de uma dezena de bonitos epitáfios romanos, a recordar que, há 2000 anos atrás, nela prosperaram várias famílias, de que falam também os não despiciendos vestígios arqueológicos.
            Por conseguinte, faça-se o centro virado para as actividades de Natureza; não se abandone, porém, a ideia de reabilitar igualmente esse eloquente testemunho do passado!
            E, sobretudo, pense-se que não basta fazer: urge dar seguimento! A Comunicação Social tem mostrado grandes projectos megalómanos, em que se enterraram milhões e que estão, hoje, no mais completo abandono!
            Idealize-se, sim, mas com os pés bem assentes na terra!

Publicado em Noticias de S. Braz, nº 197, 20-04-2013, p. 21.

Repentes do tempo, dos moços e dos bichos…

            São frases do quotidiano e que até podem aparecer nos dicionários; contudo, o sabor que delas dimana só experimentado é que mantém a genuinidade original.
            O tempo, por exemplo, tema inevitável de nossas conversas diárias:
            – «Olha: o tempo alimpou!»: estava nublado ou de chuva e, de um momento para o outro, um sol radioso, um céu azul…
            – Ena, moce, que hoje vai estar aí uma caloraça! Já se sabe: depois d’almoço, a gente fica com uma soneira desgraçada, está visto! E tu tem-me tento: não fiques praí à soalheira, sem nada na cabeça, ouviste?
            Havia, creio, lá para as bandas do alto de São Romão, um sítio que era a Soalheira. Se calhar, ainda há. Acho que era porque, no Verão, o Sol bem queimava ali pelas quebradas e só as cigarras se ouviam…
            – «Fazer bilharetas!»: faziam-nas os moços pequenos, traquinas. «Põe-te quieto, moce, que me afeleias!...». Mas são sobretudo os gatos, que com qualquer coisa se entretêm e dão pinotes, corrimaças… bilharetas!
            Atão nam viste por aí o bichane? Hum, quer-me parecer que ele foi mais uma vez dar um viajo… Logo aparece!

Publicado em VilAdentro [S. Brás de Alportel], nº 171 (Abril 2013) p. 10.

 

segunda-feira, 15 de abril de 2013

«Obrigado!»… é interjeição!

             Diz a gramática (ele ainda há gramática, não há?...) que são interjeições «palavras invariáveis que exprimem ou traduzem sentimentos».
            Curiosamente, porém, nos dicionários que consultei, não há uma entrada «obrigado!» a explicar tratar-se de interjeição de agradecimento; somente o dicionário da Academia, que se diz «da Língua Portuguesa Contemporânea», apresenta «obrigado» como interjeição (na terceira acepção da palavra) e dá como exemplo «Obrigada, disse a senhora».
            Acredito que a todos assiste o direito de se distraírem... E, aqui, ou muito me engano ou houve distracção. Então as interjeições não são palavras invariáveis? Se o são, «obrigado» perde, nesse contexto, a categoria de adjectivo e assume-se como expressão de reconhecimento – dum homem ou duma mulher! Aliás, como interjeição, perde também a conotação negativa que o verbo «obrigar» carrega consigo: «obrigar» é insistir para que se pratique um acto, mormente quando se pressupõe má vontade ou resistência.
            Sei que a língua é dinâmica e se adapta a novas realidades. Neste caso, todavia, não vejo novas realidades nem necessidade de adaptação; por isso, sou visceralmente contra o uso do feminino «obrigada!» e do plural «obrigados» – como se fora obrigação. Aceito o «obrigadinho!», diminutivo carinhoso a funcionar como aumentativo, equivalente a «muito obrigado!», também esta uma locução interjectiva.
            Os que se correspondem e privam comigo sabem que há muito deixei de dizer ou escrever «obrigado!». Concretamente, desde o dia 17 de Setembro de 1992, em que Clara Vaz Pinto, então directora do Museu Francisco Tavares Proença Júnior, de Castelo Branco, me explicou haver, na língua portuguesa uma expressão típica nossa: bem haja! Prefiro-a, uso-a e estou satisfeito por verificar que o meu exemplo frutificou, ainda que nem sempre se veja a grafia correcta. É que como substantivo é bem-haja, com hífen: «Aceite o meu bem-haja!»; como expressão verbal, é flexível, adaptando-se às circunstâncias: «Bem hajas!», «Bem hajam!», «Bem haja!».
            Por conseguinte, leitor amigo, resta-me agradecer-lhe a atenção: bem haja!

Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 614, 15-04-2013, p. 12.

 

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Andarilhanças 68

Back office!
            Liguei, outro dia, para um número de telefone das Águas de Cascais. No meio da conversa, perguntei se o assunto em questão seria tratado na Aldeia de Juso.
            – Não, aí é o nosso back office!
            Senti uma tristeza imensa!

Árvores na Júlio Dinis
            A ideia foi boa: proporcionar sombra e um pouco mais de oxigénio nesta artéria do Bairro da Pampilheira, em Cascais. Sucede, porém, que as árvores cresceram, ocuparam o passeio (que já era minúsculo) e, agora, carrinho de bebé ou idoso tem de ir passar pelo meio da rua, pois que, entretanto, a via passou a ter apenas um sentido, a fim de possibilitar o estacionamento automóvel, que é precisamente desse lado.
            Custa-nos propor, mas – perante o que se vê – há que cortar as árvores!

Ainda o encerramento da 3ª circular
            Um abatimento na subida da 3ª circular na tarde do dia 20 de Março levou a PSP a cortar o trânsito no sentido do Cobre desde os semáforos sobre a Ribeira das Vinhas. Medida desastrosa, que não obedeceu a qualquer discernimento e que provocou um dos maiores engarrafamentos de que há memória desde aí até ao centro da vila, porque… não foram dadas alternativas a não ser a passagem pelo Carrascal de Alvide ou pelo Bairro S. José, o que congestionou tudo desde Alvide ao mercado de Cascais!
            Felizmente que – mais de três horas depois da ocorrência! – houve o bom senso de abrir ao trânsito ascendente uma das faixas sul, aliviando a pressão, como pode ver-se pelas fotos tiradas na manhã seguinte.
            Retomo o assunto para três apelos:
            1º) Há que ministrar aos agentes de autoridade que andam no terreno lições práticas de acção imediata;
            2º) Há que dar dois sentidos à rua que, no final da auto-estrada, pode permitir a saída para a zona de Birre, a fim de se evitar o constante engarrafamento na rotunda de Birre
            3º) Há a necessidade urgente de se retomarem os estudos de viabilização do traçado da 2ª circular, dado que o desenho do tráfego, à entrada leste da vila de Cascais, obriga toda a gente a ir à rotunda de confluência com a Avenida de Sintra.

A entrada para Alcabideche
            A sensação a se tem é que, por da cá aquela palha, os empreiteiros optam para solução mais fácil: encerrar ao trânsito as vias onde estão a fazer obras, com o maior desrespeito pela população e, inclusive, pelos transportes públicos.
            Esses desvios provocados por obras (porventura autorizados, embora eu não acredite, honra seja feita aos técnicos camarários!...) estão a pôr a cabeça em água aos automobilistas. Não se admite, por exemplo, que, para se abrir uma vala no troço da rua principal de Alcabideche entre a rua dos bombeiros e a rotunda do moinho, aí se corte o trânsito por completo e durante vários dias, o que obriga a desvios incríveis pelo emaranhado de ruas da povoação, cujos sentidos únicos originais se mantiveram, quando, nesta emergência, deveriam ser provisoriamente anulados. A possibilidade de dar sentidos, nomeadamente, à rua que serve o quartel dos bombeiros seria da maior conveniência. E não há quem veja isso?

Nascente
            Chove um pouco mais e rebenta uma nascente junto à rotunda de Birre e a água vem por aí abaixo, encharcando a estrada e atrapalhando os condutores, que têm de estar aí de olhos bem atentos!
            Há anos e anos que isso acontece! Não há nenhuma entidade que o veja?
 
O menino rabino
            «Eu sei que a lei é esta; mas eu vou atirar o barro à parede, a ver se pega».
            Demorou, mas não pegou.
            E o menino rabino deu em barafustar contra a autoridade que optara por respeitar a lei e repreender o menino. E o menino ripostou:
            – Ai é assim? Querem fazer cumprir a lei? Vão ver como elas vos mordem!».
            Não sei, porém, se, assim solto, o enxame de abelhas será bem mandado e não picará também inexoravelmente as mãos, o rosto, os olhos, tudo… daquele que o soltou!

Publicado em Jornal de Cascais, nº 335, 10.04.2013, p. 6.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

650 anos de elevação de Cascais a vila

            Quando se verificou que, em 1964, Cascais iria fazer 600 anos de história como vila, o presidente da Câmara, Engº Azevedo Coutinho, reuniu um grupo de personalidades a fim de as auscultar para se organizarem festejos condignos da efeméride.
            E, na verdade, as comemorações do VI centenário tiverem pompa e circunstância. Para além da inauguração de alguns equipamentos, realizaram-se concertos, fizeram-se conferências e, sobretudo, escreveram-se livros. A chamada ‘colecção do centenário’ constitui ainda hoje um repositório extremamente válido do que sobre Cascais então se deveria dar a conhecer nos mais diversos campos da história e da ciência. Recorde-se, a título de exemplo, a monumental obra Cascais Vila de Corte, de Ferreira de Andrade, que relata a história da vila até 1964 – que viria ser complementada com um suplemento a abarcar a sua história de 1964 a 1972.
            Foi, pois, afinando pelo mesmo diapasão que o presidente da Câmara convocou para a noite de 2ª feira, dia 8 (o dia em que efectivamente Cascais, em 1370, alcançou alforria em relação a Sintra), personalidades ligadas à vida cascalense, a fim de as auscultar e de, para já, lhes manifestar a disponibilidade de se levar a cabo ampla e suculenta comemoração dos 650 anos, no decurso de 2014. Isso mesmo declarou a abrir a sessão no auditório do Centro Cultural de Cascais, que estava lotado.
            Foram escolhidas três personalidades para, de certo modo, darem o mote. Assim, José d’Encarnação procurou mostrar como, ao longo da História, Cascais manteve identidade própria e é essa identidade que ora cumpre valorizar e divulgar, para que a população sinta quão agradável é viver numa terra com memória. Margarida Ramalho, ligada aos estudo da arquitectura de veraneio e das fortalezas, sublinhou nomeadamente o papel da Fortaleza de Nossa Senhora da Luz e das casas nobres que, mormente a partir da 2ª metade do século XIX, aqui se foram erguendo. João Miguel Henriques, por seu turno, na qualidade de director do Arquivo Municipal, mostrou o trabalho imenso que nesse domínio se está a fazer, de forma a proporcionar a toda a população e aos investigadores, em especial, o acesso a um acervo documental de vulto.
            José d’Encarnação coordenaria, de seguida, as intervenções do público presente, começando pela vereadora da Cultura, Dra. Ana Clara Justino. Mas interpelou também o Dr. António Carvalho, ex-director do Departamento da Cultura da Câmara; Nikolau Lalov, o dinâmico responsável pela Orquestra de Câmara de Cascais e Oeiras; Nuno Lima de Carvalho, incansável director da galeria de arte do Casino; Jorge Castro e Ricardo Alves, dinamizadores de saraus de poesia; Ricardo Carriço (da Confluência) e Paulo Morais (do Palco III) ligados ao teatro (entretanto, Carlos Avilez tivera que ausentar-se, porque o TEC está nos últimos ensaios da peça a estrear no próximo sábado)…
            Enfim, trocaram-se impressões no domínio das artes, das letras e das mais variadas actividades susceptíveis de adornarem o ramalhete que se pretende venham a ser as comemorações de 2014.
            Carlos Carreiras fez questão em encerrar a sessão, dando conta de algumas das actividades que já estão em curso e que poderão vir a ganhar novo fôlego com o pretexto de Cascais ter sabido guindar-se à categoria de vila com mais de 650 anos de história, pois que também os tempos pré-históricos e a época romana foram devidamente salientados.

Publicado em Cyberjornal, 2013-04-09 (com fotos de Guilherme Cardoso):

terça-feira, 2 de abril de 2013

Velhos, voluntários, vitoriosos!

           Achei que seria interessante um título com três vvv. É que aconteceram nestes últimos dias duas circunstâncias que me obrigaram a reflectir de novo e a pegar num tema que aguardava oportunidade há quase três anos.
            A 20 de Março, Alice Vieira fez anos e escreveu no seu mural do facebook: «E pronto, não há nada a fazer: tenho 70 anos! Adoro ter 70 anos; odeio ser septuagenária...».
            Nesse mesmo dia, inaugurava-se em Cascais um pólo da Academia Sénior do Núcleo do Estoril da Cruz Vermelha Portuguesa (96 professores voluntários, mais de mil alunos!...) e muito se falou, pois, de envelhecimento activo, do imprescindível papel do voluntariado, dos «jovens há mais tempo» que ainda detêm importante função a cumprir na sociedade, quais transmissores de uma experiência adquirida.
            Concordo com Alice Vieira: ‘septuagenário’ soa a velho, desprotegido, carente, passivo, apto para… morrer; enquanto, ao invés, ‘ter 70 anos’ acentua o que se viveu e se aprendeu e a disponibilidade para continuar a viver! Uma tomada de consciência que, felizmente, pouco a pouco vai ganhando corpo no quotidiano das famílias e da comunidade.
            E isso fez-me voltar ao tal apontamento que tomei há três anos, quando, numa viagem, li na UP (a revista da TAP) de Maio de 2010 (p. 28-29) a reportagem (ainda disponível em: http://www.upmagazine-tap.com/2010/05/salvando-o-planeta-inpakt-com/) sobre uma comunidade de voluntários através da Internet, a Inpakt.com, criada por Bernardo Macedo. A pessoa inscreve-se, dá a área de residência, informa do que gostaria de fazer. As instituições também. E a iniciativa nasceu do facto de Bernardo Macedo se ter inscrito como voluntário e… nunca mais o contactaram! Tinha, na altura, 26 anos, apresentava-se como «empreendedor social»; a página está em fase de reformulação, acessível, porém, em www.inpakt.com, onde pode fazer-se um pré-registo.
            ‘País de velhos’? ‘País que não é para velhos’? Nada disso! Queremos é um país onde os anciãos, como outrora, ocupem o lugar de sabedoria que lhes cabe, sem que lhes estejam sempre a lançar em cima o anátema de que… “só servem para receber a reforma e nada de proveitoso há a esperar de vocês”! Mentalidade mesquinha a urgentemente extirpar! «Adoro ter 70 anos; odeio ser septuagenária...». Pois.

Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 613, 01-04-2013, p. 12.