segunda-feira, 15 de abril de 2013

«Obrigado!»… é interjeição!

             Diz a gramática (ele ainda há gramática, não há?...) que são interjeições «palavras invariáveis que exprimem ou traduzem sentimentos».
            Curiosamente, porém, nos dicionários que consultei, não há uma entrada «obrigado!» a explicar tratar-se de interjeição de agradecimento; somente o dicionário da Academia, que se diz «da Língua Portuguesa Contemporânea», apresenta «obrigado» como interjeição (na terceira acepção da palavra) e dá como exemplo «Obrigada, disse a senhora».
            Acredito que a todos assiste o direito de se distraírem... E, aqui, ou muito me engano ou houve distracção. Então as interjeições não são palavras invariáveis? Se o são, «obrigado» perde, nesse contexto, a categoria de adjectivo e assume-se como expressão de reconhecimento – dum homem ou duma mulher! Aliás, como interjeição, perde também a conotação negativa que o verbo «obrigar» carrega consigo: «obrigar» é insistir para que se pratique um acto, mormente quando se pressupõe má vontade ou resistência.
            Sei que a língua é dinâmica e se adapta a novas realidades. Neste caso, todavia, não vejo novas realidades nem necessidade de adaptação; por isso, sou visceralmente contra o uso do feminino «obrigada!» e do plural «obrigados» – como se fora obrigação. Aceito o «obrigadinho!», diminutivo carinhoso a funcionar como aumentativo, equivalente a «muito obrigado!», também esta uma locução interjectiva.
            Os que se correspondem e privam comigo sabem que há muito deixei de dizer ou escrever «obrigado!». Concretamente, desde o dia 17 de Setembro de 1992, em que Clara Vaz Pinto, então directora do Museu Francisco Tavares Proença Júnior, de Castelo Branco, me explicou haver, na língua portuguesa uma expressão típica nossa: bem haja! Prefiro-a, uso-a e estou satisfeito por verificar que o meu exemplo frutificou, ainda que nem sempre se veja a grafia correcta. É que como substantivo é bem-haja, com hífen: «Aceite o meu bem-haja!»; como expressão verbal, é flexível, adaptando-se às circunstâncias: «Bem hajas!», «Bem hajam!», «Bem haja!».
            Por conseguinte, leitor amigo, resta-me agradecer-lhe a atenção: bem haja!

Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 614, 15-04-2013, p. 12.

 

4 comentários:

  1. Obrigada.Num destes dias em que estava a ajudar um dos meus netos a estudar PORTUGUÊS e,como não me entendo com a lingua Mãe que lhes ensinam.Fui ao Dicionário ,precisamente,por causa do Obrigada/o. Diz no Dicionario que ambas formas se podem usar no masculino ou femenino,dependendo do que se agradeçe ou afirma. Fiquei baralhada,não soube explicar ao miudo e disse-lhe que os homens dizem obrigado as mulheres:obrigada. Continuo a não perceber esta explicaçao do Dicionario Porto-Editora. Bem-haja,por me aturar.Carriça

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  2. Reina, de facto, alguma confusão, por se considerar 'obrigado!' uma palavra variável (em género e, até, em número!), quando, ao exprimir agradecimento, é interjeição e, por isso mesmo, invariável. Aproveito para repetir: só se usa o hífen quando equivale à palavra 'reconhecimento' ou 'gratidão', como acontece, por exemplo, na frase «Aceite o meu bem-haja!». Beijinho! Disponha sempre e... bem haja pela atenção!

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  3. Bom.Chego à brilhante conclusão que cada vez,sei menos português.Irra aos 67 anos põem-se me dúvidas,que tinha como certas.Muitas vezes fui emendada pelo meu Pai,quando dizia obrigado. Haja paciência. Agora quanto aos atos,fatos,Egito,artefatos. Nessa ninguém me obriga,nem obrigará a usar.Pena da juventude tenho eu. Bjn

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  4. Com a celeuma que está a levantar, não sei mesmo se o novo acordo irá por diante, pois continuam a não ser compreendidos os objectivos em vista. Quando nós, no rol que o computador nos apresenta, temos o Inglês dos EUa, o Inglês do Canadá, o Inglês sabe-se lá de onde, por que razão não poderemos ter o português de Portugal, do Brasil, de Angola? Os brasileiros continuarão a dizer que vão ao banheiro e nós continuaremos a chamar o banheiro quando um banhista está em aflição... Para mim, também essa dos factos sem c e do Egipto sem p (quando, depois, se escreve egípcios...) não me convence. Como a menina diz, quando somos sexagenários, há dúvidas que se nos põem!...

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