A
revelação foi feita por Gregory Ashworth, da Universidade de Groningen, no decorrer
da Conferência Internacional «Cultural and Heritage Tourism», realizada, em Lisboa,
pelo Departamento de Turismo da Universidade Lusófona e pela Progestur, nos
dias 30 e 31 de Outubro e 1 de Novembro.
Na
conferência então proferida, subordinada ao tema «Mutuality: a viable aproach
to postcolonial heritage», apresentou os resultados da investigação feita,
nesse âmbito, em relação a três casos: o Suriname (antiga Guiana Holandesa),
Hong-Kong e a «British army heritage in Canada (1701-1871)». E se, no primeiro
caso, tudo o que recorda o colonizador não é apreciado, porque ainda se mantém
a sua negativa conotação de esclavagista, no que se refere ao Canadá, as
instalações militares inglesas estão a ser reabilitadas, encaram-se como
património a preservar e, inclusive, em 2012 se comemoraram os 200 anos da
guerra de libertação, porque assim se reafirma a identidade nacional, perante a
potência vizinha, os Estados Unidos.
Hong-Kong
constituiu, como se sabe, uma colónia inglesa até 1997, ano em que se processou
a sua integração na China. Ora, foi justamente a partir desse ano que a população
compreendeu a necessidade de salvaguardar o que era a sua diferença face uma
China milenar, detentora de uma cultura e de uma língua que lhe eram
completamente alheias.
Estes
três significativos exemplos prendem-se, naturalmente, com o facto de a noção
de património não ser algo de estático ou permanente. Circunstâncias
exteriores, digamos assim, determinam essa «classificação». Nesse sentido, a comunicação
de Gregory Ashworth deteve particular interesse para os portugueses,
nomeadamente em contexto lusófono, uma vez que as nossas preocupações se
centram, neste momento, em valorizar os testemunhos da presença portuguesa no
mundo – e esse desiderato está a ser, habitualmente, bem compreendido pelos
países que nasceram da descolonização. Recorde-se que têm origem portuguesa
inúmeros monumentos classificados nas mais diversas partes do mundo.
Uma conferência de largos horizontes
A
referida Conferência Internacional contou com mais de uma centena de
participantes. A greve da TAP impediu, no derradeiro momento, a vinda de alguns
dos conferencistas estrangeiros, de forma que o programa incluiu 20
comunicantes dos 28 previstos.
Entre
os temas abordados, citem-se:
‒ a mudança operada no Museu Nacional de
Arte Antiga (2010-2014);
‒ o enorme impacte (cultural e económico)
que teve, em Bilbao, a criação do Museu Gugenheim;
‒ as festas de Lisboa;
‒ o festival internacional da máscara ibérica;
‒ o papel das Pousadas de Portugal e o cativante
exemplo da Casa da Calçada, em Amarante;
‒ o relevo que detém a Rota do Românico;
‒ a componente turística na actividade de Fundação
INATEL.
Melanie
Smith, da BKF University of Applied Sciences (Budapest), abordou a atitude que
está a ser tomada em relação às minorias étnicas, dentro do prisma do turismo
cultural (no caso, as minorias ciganas e suas tradições, em Budapeste) –
aspectos positivos e aspectos negativos.
De
resto, larga panorâmica geográfica foi abrangida, se pensarmos que se
analisaram as enormes potencialidades turísticas de uma região como Himachal
Pradesh, um centro religioso deveras significativo na Índia; que se encararam
os indígenas da América Latina de um ponto de vista antropológico; que se viu
como, na actual Alemanha unificada, novas perspectivas se abrem em relação às estruturas
habitacionais («old city quarters») da antiga Alemanha Democrática; que também
as cidades chinesas se voltam para o turismo cultural; que, na cidade romana de
Pompeios, a avalanche de visitantes implica noções claras de reabilitação e
conservação do seu invulgar património arqueológico edificado…
E
se a cidade do Porto é ora susceptível de uma visita tendo como atractivo
primordial a sua valiosa arte contemporânea, também se preconizou – e foi essa a
acutilante intervenção do Prof. José Manuel Hernández Mogollón, da Universidade
da Extremadura (Cáceres) – que há que introduzir, pouco a pouco, o conceito de
saborear tudo devagar, não apenas a gastronomia (slowfood) mas também as cidades e as suas maravilhas (slowcities).
Publicado em Cyberjornal, edição de 03-11-2014:
http://www.cyberjornal.net/index.php?option=com_content&view=article&id=978:hong-kong-um-olhar-diferente&catid=37&Itemid=30
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