‒ Isso dizes tu, que o não tens de aturar!
Quando quer uma coisa, não me deixa da mão, mói-me o juízo!
‒ Olha, o meu apareceu-me em casa com o
joelho todo escafelado, assim como eu já tenho as paredes lá da cozinha. E
ficou-se deitado no sofá, assim como que a dormir caçando ratos, com medo que
eu, ainda por cima, lhe desse uma coça por, decerto, ter indrovinado alguma!
‒ Mas aquilo é de extremos, mulher! Outro
dia, tinha uma porqueirazinha na vista. E ficou todo arrabiado, o
alma-do-diabo, não me deixava ver e tirar-lha com a ponta de uma mortalha de
papel. Qual quê? Foi o cabo dos trabalhos!
Ouvi
mui quietinho, na sala de espera do Centro de Saúde, atafulhado de gente que
ali estava há horas e assim ia matando o tempo, a contar, no seu falar bem
nosso, as peripécias de um quotidiano que é de todos mas nem todos o narram
assim – que as expressões d’outrora estão a dar lugar a bem escusados
estrangeirismos…
Publicado em VilAdentro [S. Brás de Alportel] nº 190, Novembro de 2014, p. 10.
Sem comentários:
Enviar um comentário