quarta-feira, 21 de abril de 2010

Postais antigos


Está patente até 30 de Junho, no Espaço Memória dos Exílios, no Estoril, a exposição «O passado nunca passa», postais ilustrados da colecção de José Santos Fernandes, que a legou ao Município de Cascais.
Devidamente tratada e inventariada no Arquivo Municipal, a colecção – de que ora se apresenta uma selecção – proporciona eloquente viagem pelo que tem sido o concelho desde os finais do século XIX até à actualidade, mostrando os aspectos mais significativos, a nível de imóveis, paisagens e costumes…
Têm os municípios dedicado cada vez mais atenção a este tipo de espólio cultural assim como às fotografias antigas, pelo que isso representa como património aos mais diversos níveis: arquitectónico, paisagístico e, até, imaterial. E se os dois primeiros aspectos são facilmente compreensíveis – fotografava-se o que era bonito, original… – ao último nem sempre se dá, à primeira vista, a relevância que ele, na verdade, detém. É que, por detrás de um postal, está uma ideia, uma mentalidade e, inclusive, uma ideologia: divulga-se o que interessa, naquele momento, divulgar. E é bem sabido que, hoje, damos atenção a aspectos da paisagem e das modas a que, noutras eras, se não ligava a menor importância.
Por outro lado, revela-se imprescindível o estudo destas colecções por parte dos técnicos camarários, nomeadamente os responsáveis pelos pareceres em termos de urbanismo e licenciamento de obras de restauro ou requalificação de espaços, pois há memórias a preservar. E mal andará um Município quando os seus responsáveis disso não estiverem conscientes.
Louve-se, por conseguinte: 1º) o exemplo dado por José Fernandes, ao ceder ao Município a colecção; 2º) o excelente trabalho de gabinete levado a efeito pelos técnicos Helena Xavier e João Miguel Henriques, sob orientação de António Carvalho; 3º) a iniciativa da exposição; 4º) o magnífico catálogo (430 páginas!...), que, além de, em miniaturas, reproduzir todos os postais expostos, agrupa geograficamente os mais eloquentes, apresenta significativo prefácio do Professor João Medina e sugestiva autobiografia do doador (nascido em 1952), a recordar os Estoris do seu passado.

Publicado no Jornal de Cascais, nº 216, 20-04-2010, p. 6.

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