quinta-feira, 28 de abril de 2011

Cortar as pedras (4)

Ao cabouqueiro compete, pois, perante as encomendas em carteira, estudar a melhor forma de aproveitar o bloco destacado do banco pelo tiro.
Deverá ter em conta as dimensões das peças maiores e, naturalmente, dar o desconto para o desbaste. Uma tarefa que só a experiência ensinara a fazer na perfeição.
Tudo se mede com o maior rigor, dum lado e doutro, nas três dimensões, analisando eventuais veios que possam desfear peças como peitoris, ombreiras e, até mesmo, algum outro adorno arquitectónico previsto… Prioridade, pois, às peças maiores e mais delicadas.
Um lápis nº 3 ou o bastão de grafite de pilha fora de uso serviam para marcar, com o auxílio de tosca tábua em jeito de régua, os cortes a fazer. Como o bloco ficava amiúde no próprio banco, era sentado nela, fundilhos das calças de cotim sobre uma serapilheira (resto de saco de batatas) ou o rijo papel dos sacos de cimento, que o cabouqueiro, com o ponteiro e a maceta, abria, a espaços medidos, os buracos, devidamente direccionados no sentido do corte, oblongos, para meter os guilhos («pichotes», na gíria). A experiência ditava a distância entre um e outro e a profundidade (nunca superior a quatro dedos de uma mão travessa).
Ajeitava-se com a maceta e, depois, um a um, com golpes secos do maçacopas, ia-se provocando a penetração. Serenamente, sem pressas, com a mesma força em cada um, de uma ponta a outra. Até rachar. E assim fica a peça em bruto, pronta para o canteiro dela fazer obra-prima!

Publicado em VilAdentro [S. Brás de Alportel], nº 147 (Abril 2011) p. 10.

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