quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Recebem por abrir e fechar portas?

            Nem a tudo o que se divulga na Internet se deve, naturalmente, dar crédito absoluto. Assim, se puser num motor de busca a expressão «para abrir e fechar as portas», é natural que lhe apareça a passagem de um blogue onde se afirma, sem indicação de fonte, a propósito da greve dos maquinistas do metro, que eles «ainda recebem um subsídio que varia entre 317 e 475,50 euros para abrir e fechar as portas».
            Pode ser que seja verdade. E lembro-me dos porteiros de hotel, fardados a rigor, que abriam as portas aos hóspedes e os acompanhavam à recepção. Lembrei-me logo dos guardas dos parques de estacionamento, que passam ali o dia, sentados, à espera que alguém entre ou saia para eles abrirem as cancelas. Mas isso é, porém, um trabalho específico, com responsabilidade de fiscalização e segurança. Parecia-me que abrir e fechar portas num comboio estaria incluído, sem mais, nas funções do maquinista, embora, confesse, não foi sem um certo calafrio que me apercebi, em Tours (França), que o metro era todo automático e… não tinha sequer condutor!...
            Outra reflexão me suscitou a questão desse eventual pagamento para abrir e fechar portas: o inexistente – ou quase inexistente – hábito de pagar certas actividades culturais, como, por exemplo, as conferências. Explico com dois exemplos:
            – Foi um sururu, à boca pequena, na Faculdade de Letras de Coimbra, quando, aí pelos primórdios da década de 80 (se não erro), um dos docentes, ao ser convidado para ir dar uma conferência, perguntou aos organizadores quanto lhe pagavam. Se alguma vez houvera tal ousadia!... Pedir dinheiro para ir fazer uma conferência!...
            – Um catedrático da Universidade do Minho foi convidado a ir arguir uma prova de agregação à Universidade de Évora. Aceitou, por deferência por quem o convidava; mas nem a sua Universidade nem a de Évora lhe pagaram nada por esse trabalho que era, na verdade, totalmente extra! Nada pela viagem de ida e volta, nada pelo alojamento (as provas de agregação duram dois dias…), nada pelas refeições; e, claro, nada pelo tempo que gastara a ler toda a documentação do agregando e a preparar a arguição de meia hora! Dir-se-á: foi porque quis. Sim, poderia não ter aceitado. Não esperava, porém, era esse tratamento e, por isso, para a próxima vez… já não aceita!

Publicado no quinzenário Renascimento (Mangualde), nº 604, 15-11-2012, p. 4.

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