segunda-feira, 17 de março de 2014

«Ó Portugal, hoje és nevoeiro!»

            Não, a frase não é minha nem de nenhum dos mui ilustres membros da Confraria dos Comentadores (políticos, económicos, desportivos…) que pululam nos meios de Comunicação Social e, claro, nas chamadas redes sociais.
            Pasmei! Não era de nenhum deles e constitui, sim, uma ‘abertura’ do ‘Livro Agenda 2014’, que a Céu gentilmente me ofereceu em dia de aniversário, inteiramente dedicada ao senhor Fernando Pessoa. Tem, pois, excertos de obras do Poeta para todas as semanas e uma abertura em cada mês.
            Pois o poema escolhido para este mês de Março – e já o foi há muito tempo, desconhecendo os editores quão oportuna iria ser a sua escolha… – tem por título «Nevoeiro». Termina pelo verso que puxei a título «Ó Portugal, hoje és nevoeiro!» e começa assim:
 
                                    «Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
                                    Define com perfil e ser
                                    Este fulgor baço da terra
                                    Que é Portugal a entristecer».
 
            Esteve bem nevoento, na verdade, esse dia 1; mas não era, de facto, a esse nevoeiro atmosférico que o Poeta queria referir-se, mas à tristeza que nos invade – como, incómoda, se nos entranha na roupa até aos ossos a fria neblina prenhe de gotículas nestas manhãs sem amanhã em que ora se nos esvaem jornadas…
            Por entre elas perpassam discursos, discursos, discursos. E a gente até se admira como é que há tempo para tanto discurso. Estes ‘senhores’ só fazem discursos? Não estudam, não param, não fazem exame de consciência, não meditam ao final do dia a ver, lento, o Sol a cair no mar?...
            E contava a Elysabeth: «Meu filho, you know, educado como foi, quis cortar com despesas escandalosas, contas de mil euros em telemóveis, ‘empregados’ metidos à força, sem habilitações e a ganhar muito mais do que os peritos que ele já tinha ao seu serviço… Contrataram outro para as suas funções. Fugiu-lhe o tapete de debaixo dos pés. Pediu a demissão, claro!... Esse é o nevoeiro de que falava Pessoa, meu amigo! Essa é a tristeza que nos penetra ossos adentro! E nós… impotentes!».

Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 635, 15-03-2014, p. 11.

 

1 comentário:

  1. Reúno aqui três comentários amigos, que agradeço:

    - Filipa Gouveia (17/3 às 20:41): «Que bom lê-lo...»;
    - Vanda Amaro Jardim Fernandes (17/3 às 22:38): «Foi ontem! É hoje! E... haverá amanhãs ensolarados???»;
    - Alice Alves (18/3 às 0:05): «E D. Sebastião que nunca mais chega...».

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