segunda-feira, 4 de maio de 2015

Erva-das-azeitonas

            Acabara de entregar o Sebastião para ser incinerado. Uma entrega dolorosa, porque, em quatro dias, ele – que era o mais saudável dos sete, orgulhoso do seu lindo pêlo preto, a fazer inveja aos persas da vizinhança… – fora mortalmente atingido por uma pneumonia e nem nos deu tempo a nos convencermos que o iríamos perder!...
            Para espairecer, passeei pelo mato anexo à Fundação S. Francisco de Assis, enquanto minha mulher tratava da burocracia. E apanhei uns raminhos de nêveda – que, lá em casa, azeitona sem nêveda nem sabe a azeitona! Perguntou-me a Maria João que era aquilo. Expliquei-lhe. E ela foi apanhar também, pois desconhecia por completo!...
            Constituiu para mim, por conseguinte, uma boa surpresa ler, no Noticias de S. Braz de Março, que um casal, Laura e Nuno Dias, se haviam instalado precisamente em S. Brás de Alportel, onde criaram a empresa «Dias de Aromas», com o objectivo de fazerem a exploração biológica de ervas aromáticas e medicinais. Ao prepararem para o efeito os terrenos herdados dos avós, aperceberam-se dos pés de nêveda que por ali cresciam. E foi mais uma inspiração, porque cedo verificaram que – apesar de os algarvios usarem muito essa planta, quer para temperarem as azeitonas de conserva quer para acompanharem os pratos de caracóis – a aromática nêveda, da família da hortelã, é pouco conhecida e proporciona utilizações singulares, susceptíveis de lhes virem a proporcionar novos êxitos e boa perspectiva de negócio.
            Na nota publicada, referem-se que estão já plantadas na propriedade 80 mil pés de 31 espécies diferentes: malagueta cayenne, tomilho-cabeçudo, tomilho-limão, segurelha, hortelã-pimenta, erva príncipe, salva, manjerona…
            Sempre pensei que – não fora essa brutal «dívida externa» contraída ao sabor dos grandes grupos económicos – o Povo era capaz de dar a volta por cima, agarrar-se à terra para a trabalhar! Não estamos no Brasil, onde (dizem!) basta botar a semente e logo vem o fruto de seguida sem te incomodares; contudo, bem aproveitadinho, também o nosso solo nos há-de reservar surpresas e a nossa vegetação autóctone continua a maravilhar-nos! Que o digam a Laura e o Nuno. Eles até têm por lá «um avião encomendado por ingleses ao Canadá durante a 2ª Guerra Mundial mas que se despenhou no Algarve antes de combater»!... Ora vejam só!

                                                          José d’Encarnação

Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 661, 01-05-2015, p. 12. Reproduzido em Noticias de S. Braz nº 221, 20-03-2015, p. 21.

As fotos que seguem foram enviadas por Dora Barradas e dizem respeito ao comentário que fez.
 


2 comentários:

  1. Alice Alves Oliveira 04-05-2015, 21 h.:
    Só há poucos anos soube que a erva-das-azeitonas se chamava nêveda! Muitas pessoas temperam com orégãos, mas eu gosto mais da nêveda!

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  2. Dora Barradas, técnica da Câmra Munuicipal de S. Brás de Alportel, teve a gentileza (que muito agradeço) de fazer o comentário que se segue, a provar o que na nota se pretendia salientar: quando se quer, consegue-se «dar a volta por cima», com êxito! E vão também as imagens... gulosas!

    «… e agora até lá na propriedade também já nascem “trufas” de chocolate de todos aqueles aromas: de menta e chocolate negro, de pimenta de cayenne, erva príncipe, de salva e chocolate de leite e de perpétua roxa com chocolate branco, onde o sabor se transforma em cor de rosa pálido…
    Saber mais em https://pt-pt.facebook.com/WorkchocoAoDomicilio

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