sábado, 31 de dezembro de 2016

Serviço cívico

             Ainda ecoavam os brados revolucionários quando o Decreto-Lei N.° 270/75, de 30 de Maio estipulou a obrigatoriedade do Serviço Cívico Estudantil.
            «Uma chatice» terão pensado muitos, os candidatos e os pais. Hoje, quiçá, muitos deles, evocando esse ano, hão-de empreender: afinal, nem foi má de todo a experiência!
            De vez em quando sabe-se: determinado juiz condenou o réu a um período de «serviço cívico», adjudicando-lhe uma tarefa precisa. Claro, com tal sinete de castigo, parecerá penosa a tarefa; se, ao invés, o réu a encarar como «serviço», daí sairá enrijecido.
            Perguntar-se-á: a que propósito vem ele com essa história agora?
            E eu pergunto também, antes de responder: o português, quando emigra, não se sujeita a todo o trabalho? Quantos dos nossos estudantes em Londres não lavam pratos em restaurantes ou não servem à mesa para se conseguirem manter? E, para além da paga, não há toda uma experiência que se adquire?
            Minha empregada doméstica ofereceu-me, outro dia, um punhado de biscoitos negros. Saborosos mesmo. De quê? – De alfarroba!
            Pois aqui está a resposta para a questão do serviço cívico: figos, amêndoas, alfarrobas, azeitonas… constituem riquezas são-brasenses. E quantas são verdadeiramente aproveitadas, colhidas na devida época? Velhos e decrépitos estão muitos dos proprietários e lamentam-se de verem tudo a perder.
            Respondo, pois, perguntando: hoje, que tanto se fala em empreendedorismo, não há aí quem meta mãos à obra e crie um empreendedor serviço público que revitalize a nossa riqueza?

                                                               José d’Encarnação

Publicado em Noticias de S. Braz [S. Brás de Alportel] nº 241, 20-12-2016, p. 17.

 

1 comentário:

  1. Pois... sem palavras! E os laranjais abandonados, muitos deles plantados com ajudas comunitárias? A amendoeira fraldisqueira bem dizia que era um dó ver as nossas árvores a serem vendidas às rodelas (como batatas) para as lareiras dos camones... Viva a turisto-dependência destas nano-mentes. Comprem-se as amêndoas e as azeitonas a Espanha, derrubem-se as alfarrobeiras que fazem boa brasa. Tenho pena disto tudo, como você mas, são muito poucos os que querem ver e ainda menos os que queiram deitar a mão a tanta riqueza que aí anda debaixo das «patas» desta gente. Um abraço grande.

    ResponderEliminar