A toda a
hora, em todo o sítio, a pergunta, agora, sacrossanta:
– Já tem a
nossa AP? Dá-lhe a vantagem…
Caso a todas as
sugestões acedêssemos, teríamos o telemóvel pejado de… vantagens (!), a usar de
vez em quando, e sobrecarregado até mais não, diminuindo a sua capacidade de
resposta. Enfim, cada qual sabe de si.
Eu sei o que passei
quando, para instalar uma AP considerada imprescindível, não consegui aceder, à
3ª tentativa, a uma palavra-passe que não chegou: o telemóvel bloqueou.
Fui à loja da
marca.
– Nada posso
fazer. Tem de ir a…
E foi-me dado
o contacto duma empresa privada e privativa da marca, a uns 25 km de casa.
Quando chegou
a minha vez:
– O recibo da
compra, por favor!
Não tinha. Na
loja não me haviam dito que era preciso e, na verdade, comprado há mais de 6
anos, do recibo eu já não tinha a menor ideia se o guardara.
– Nada feito,
então.
– Perdão. Que
quer dizer?
– Isso mesmo:
nada feito.
– Ou seja,
vou deitar fora o aparelho!
– Não lhe disse
isso, só que sem recibo não há nada a fazer.
– Mas… não me
poderá sugerir uma solução?
De poucas palavras,
a senhora manteve-se hermética, a política de protecção de dados tinha de
respeitar-se, uma questão de ética, nada a fazer…
Ia já
levantar-me, vencido, quando o senhor a ser atendido ao lado pediu desculpa por
intervir:
– Vá ao
centro comercial X e tem lá quem o consegue desenrascar.
Fui.
Todo um corredor de lojas de indianos me abriu os braços. Fiquei sem dados, mas salvei o telemóvel. E passei a detestar ainda mais essa história de palavra-passe para tudo e mais alguma coisa. Sobretudo aplicações.
José d’Encarnação
Publicado em Renascimento [Mangualde], nº 857, 15/12/2023, p. 10.
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