Longe
de mim a intenção de querer copiar o propósito do meu amigo Francisco Neves
que, na edição de Fevereiro, dedicou extensa crónica às amêndoas. Mesmo que
seja sua ideia escrever de seguida sobre a azeitona, garanto-lhe que já era
minha intenção, há uns tempos, de evocar esta iguaria quando a oportunidade
surgisse. Surgiu agora e estou certo de que o tema jamais se esgotará e cada
qual o abordará à sua maneira.
Começo
por recordar que, num dos almoços à do Zé Dias, comemorativos do aniversário do
nosso concelho, eu me descaí a dizer que há muitos anos que não comia azeitonas
de sal, só no Algarve tal se poderia saborear. E aconteceu que um dos simpáticos
comensais (confesso que não lhe fixei o nome, mas fiquei-lhe grato) mui
sorrateiramente saiu da mesa e daí a algum tempo me apareceu na frente com um
punhado de azeitonas de sal que tinha ido buscar a casa!
Hoje,
restaurante são-brasense que se preza apresenta-nos, em jeito de aperitivo, o
pratinho de rodelas de cenourinha cozida temperada e azeitonas também com seu
alhinho picado, orégãos, colorau, azeite e vinagre, uma folhinha de louro e,
por vezes, até um raminho de hortelã.
Confesso
que não hesitei em usar os diminutivos, que são muito nossos, nada piegas e sempre
a ressumarem o carinho com que são preparados. E se a moda da cenourinha às
rodelas ainda não pegou por esse País fora, as zeitonas temperadas já fazem
parte integrante da ementa dos aperitivos de muitos restaurantes afora do reino
do Algarve.
Aprendi
com meu pai a curar a azeitona, que, aqui na zona cascalense, íamos apanhar à
de um compadre meu, cujas oliveiras davam bem para azeitona de conserva. E, por
isso, cedo aprendi a importância da água da chuva, das folhas de louro, da
nêveda, dos orégãos, dos punhados de sal grosso, dos alhos inteiros pisados… E
a não dispensar azeitonas à mesa e a apreciá-las todas: as verdes inteiras, as
verdes arretalhadas, as verdes britadas (e a experiência que é preciso ter para
lhes tirar o acre natural!), as pretas (escaldadas, murchas ou não…), as de
salmoura...
Admiram-se
os meus amigos estrangeiros por o fruto da oliveira não se chamar algo como
‘oliva’, tal qual se diz, por exemplo, em espanhol, em italiano ou em francês,
línguas itálicas. É que a palavra portuguesa ‘azeitona’ vem, como se sabe, do árabe
–que ali se pronunciará algo como zitun e nós, amiúde, no falar quotidiano, até
lhe comemos por isso o a inicial. Mais um exemplo da forte influência
que recebemos da comunidade árabe que durante mui largas décadas aqui lançou
raízes!
–
Então, vai uma zeitoninha, amigo? Com um copito de branco ou tinto ou uma
cervejinha sai mesmo a matar!...
José d’Encarnação
Publicado em Notícias de S. Braz [S. Brás de Alportel], nº 340, 20-03-2025, p. 13.
Já gostava de azeitonas, mas com esta saborosa crónico passei a gostar muito mais. Grande abraço .
ResponderEliminar